O ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB) arrematou por R$ 520 mil um apartamento da família do ex-ministro Ciro Gomes (PDT). O imóvel, localizado na Praia de Iracema, foi leiloado em pregão autorizado pela Justiça para pagamento de indenização por danos morais ao senador Fernando Collor de Mello (Pros-AL).
Collor entrou com processo contra Ciro após o pedetista afirmar, em entrevista publicada em 1999, que Lula deveria ter chamado Collor de "cheirador de cocaína" e "playboy safado" nos debates da eleição de 1989. Só na Justiça do Ceará, Ciro responde a mais de 80 processos por conta de ataques a adversários políticos.
"Comprei, primeiro, porque estava barato", diz, rindo, Eunício Oliveira ao O POVO. "Em segundo lugar, comprei para que isso saia em todos os jornais. Para que as pessoas se perguntem isso, como é que um cara que não administra os próprios bens, que vive sendo condenado por mentiras, vai querer administrar o Brasil". Em entrevista à revista Veja, Eunício até usou um pouco mais de troça para lidar com a situação: "Arrematei de sacanagem"
Eunício, que passa temporada em Miami até o fim deste mês, diz que costuma acompanhar listas de pregões judiciais. "É negócio, muitas vezes falta quem faça lances e acaba saindo um preço bem menor". O senador também destaca que possui 38 processos contra Ciro na Justiça, já tendo vencido nas primeiras instâncias em ações de até R$ 600 mil.
"São todos processos por mentira, calúnias. Mentiras que ele usou para me atacar, e que ele vai perder em todas porque não têm fundamento", afirma. "Espero que ele ainda tenha patrimônio para me pagar, que as outras pessoas processando não cheguem antes. O próximo leilão vai ser uma casa que ele recebeu de herança lá em Sobral", diz.
Questionado sobre onde fica localizado o imóvel, Eunício disse não saber. "Sei que é Beira-Mar, Praia de Iracema, por ali". O imóvel foi avaliado em R$ 409,6 mil pela Megaleilões, empresa que realizou o pregão. Segundo Eunício, a oferta inicial partiu de R$ 1 milhão, até o arremate em R$ 520 mil.
Em nota, a assessoria de Ciro Gomes destacou que a ação está "eivada de vícios e irregularidades" e que ainda possui recurso pendente no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A equipe do pedetista nega ainda que o imóvel pertença a Ciro ou que ele resida no local, sendo, na verdade, um bem da família do ex-ministro.
"Desde o início do processo, em 1999, adversários tentam se aproveitar do fato para fazer politicagem", diz nota do presidenciável sobre o caso. "Ciro Gomes confia na decisão isenta e técnica dos tribunais superiores que darão palavra final sobre a causa."
"O clímax se deu agora quando um deles, por mera chicana, aproveitou-se para arrematar os direitos do devedor fiduciário do imóvel, que sequer é propriedade de Ciro Gomes", continua a defesa. Apesar disso, Ciro consta como réu na ação que motivou o pregão.
Os processos entre Eunício e Ciro não partem sempre, no entanto, do emedebista. Na última semana, o pedetista entrou com duas ações contra o ex-senador na Justiça do Ceará. Os processos foram ajuizados após circularem no WhatsApp diversas gravações de Eunício com ofensas e acusações contra Ciro.
Nos áudios, Eunício rebate críticas de Ciro a ex-presidentes do PT e ainda questiona como o pedetista estaria "pagando R$ 15 milhões" para seu atual marqueteiro, o publicitário João Santana, insinuando uso irregular de recursos públicos no caso. Nos processos, a defesa de Ciro Gomes afirma que a acusação é mentirosa e tenta imputar crime de desvio de recursos públicos ao pedetista.