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O cenário pré-eleitoral nos cinco maiores colégios eleitorais do Ceará
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O cenário pré-eleitoral nos cinco maiores colégios eleitorais do Ceará

Cenário político em Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral, com vistas para 2024, já começa a se desenhar. Na maioria dessas cidades não há possibilidade de segundo turno
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Foto: mikael Baima mapa

O primeiro turno das eleições de 2024 será disputado daqui a 18 meses, no dia 6 de outubro do próximo ano. No entanto, as articulações já começam a esquentar o campo político nos cinco maiores colégios eleitorais do Ceará: Fortaleza, Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú e Sobral.

Na maioria dessas cidades, a disputa pelo voto do eleitor cearense é definida em apenas um turno, o que, em tese, faz com que as movimentações ganhem corpo antes mesmo do início do ano eleitoral.

Pelas regras vigentes, um eventual segundo turno só seria possível em Fortaleza e Caucaia (devido ao contingente de eleitores), e ocorreria no dia 27 de outubro de 2024.

Embora as datas ainda não tenham sido oficializadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a Constituição determina que a primeira volta ocorra no primeiro domingo de outubro e que o segundo turno, onde houver, aconteça no último domingo do mês.

Desses cinco municípios, apenas Sobral não deve ter o atual prefeito disputando a reeleição. Nos demais, os chefes dos Executivos são cotados para a disputa e já se movimentam em busca de alianças que viabilizem suas respectivas pré-candidaturas.

Integrantes da oposição também já se articulam em todos os municípios e, apesar de não haver definições, reuniões já são feitas e a formação de blocos de oposição são discutidas, tendo em vista que na maioria das cidades não há possibilidade de segundo turno.

A mais de um ano do dia da votação, é natural que rearranjos sejam feitos, com novos atores e alianças entrando no cálculo político daqui até 2024. Fato é que a política municipal tem uma dinâmica própria que deverá ser respeitada por partidos e políticos antes de definir os respectivos posicionamentos.

Fortaleza

Na Capital, o prefeito José Sarto (PDT) já sinalizou publicamente a intenção de se candidatar à reeleição. Em março, disse que estava "focado em fazer uma gestão para merecer a indicação" do partido. "Minha disposição é, evidentemente, se os companheiros entenderem, de concorrer à reeleição", pontuou. 

O prefeito vem intensificando entregas e agendas nos bairros, bem como viagens para buscar recursos em Brasília. Ele se reuniu até mesmo  com opositores na capital federal para discutir parcerias.

Na oposição, Capitão Wagner (União Brasil), atual secretário da Saúde de Maracanaú, é outro que já indicou que pretende disputar a Prefeitura de Fortaleza. A se confirmar, será a terceira vez consecutiva que Wagner concorrerá. Ele foi criticado em pleitos anteriores pela “falta de experiência no Executivo”.

Embora esteja em Maracanaú, ele nega qualquer pretensão no município. "Há uma grande chance de eu ser candidato em Fortaleza. Só se acontecer algo fora do roteiro (para não ser candidato)", comentou.

Outro partido que defende candidatura própria, segundo seus próprios líderes, é o PT. A sigla saiu fortalecida das últimas eleições, ocupando hoje a Presidência da República, o Governo do Estado, e uma vaga cearense no Senado.

Na Capital, a legenda vem lançando candidaturas nas últimas cinco eleições, tendo vencido em 2004 e 2008 e perdido nas três seguintes. Embora não haja nome posto, ventila-se que a deputada federal e ex-prefeita Luizianne Lins e a deputada estadual Larissa Gaspar são possibilidades.

O PL, que apoiou Wagner na disputa pelo governo do Ceará, é mais um partido que pode se aproveitar do bom momento que vive em âmbito nacional para lançar candidato em Fortaleza. A sigla abriga nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), como o deputado federal André Fernandes, o deputado estadual Carmelo Neto e a vereadora Priscila Costa.

Lideranças já apontam intenção de formar chapa para disputar a Prefeitura. Ao O POVO, Carmelo disse que o direcionamento da executiva nacional da sigla é de lançar candidaturas nas principais cidades do País. "O prefeito Acilon (presidente do PL-Ceará) me assegurou que se o PL lançar candidato, os demais filiados caminharão juntos, portanto não há desunião".

Sobre o caminho a ser seguido em 2024, Carmelo diz que "será discutido mais à frente", no entanto reforçou que cumpre os pré-requisitos para ser candidato. "Estou elegível, tenho idade e partido".

Na Capital, há um movimento recente de aproximação do PL com a gestão Sarto, que indicou Raimundo Gomes de Matos (PL) para presidir a Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci). No ano passado, Gomes de Matos foi o candidato a vice de Capitão Wagner.

A aproximação com Sarto sofreu críticas de alas mais ideológicas do partido, que descartam compromisso político. "A ida do Raimundo faz parte de uma decisão isolada, não representa declínio do partido em apoio a Sarto, muito menos acordo visando as eleições de 2024. Seguimos como partido de oposição", conclui Carmelo.

Em Fortaleza, há ainda que se levar em conta partidos como PSDB, PSD e MDB que se articulam internamente para chegar a uma posição acerca dos rumos que serão tomados em 2024.

Caucaia

Em Caucaia, a tendência é de que o prefeito Vitor Valim (sem partido) seja candidato à reeleição. Elemento que deve fazer parte da disputa é o distanciamento político entre ele e o vice-prefeito Deuzinho Filho (União Brasil). Os dois devem se enfrentar no ano que vem.

Eleito com parte da oposição estadual, Valim se aproximou do Governo do Estado ainda na gestão de Camilo Santana (PT). Já Deuzinho, continua ligado ao ex-deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), numa sinalização de que o partido pretende ter candidatura própria em Caucaia.

Deuzinho tem falado publicamente da relação com Valim. “O Vitor foi eleito com o meu apoio e eu também, com o apoio dele (...) A gente tinha um grupo e ganhamos a Prefeitura. Continuei no mesmo grupo, podem falar o que for de mim, mas eu tenho um lado. Relação de amigo, quando dá tempo, eu ligo ou ele liga, apesar de eu não ter mais a importância que tinha para ele, mas não converso política com ele, porque eu tenho um lado”, pontuou o vice-prefeito.

Indagado pelo O POVO sobre a pré-candidatura, Deuzinho disse que o União Brasil “tem tamanho para lançar candidato” e que seu nome “já foi lançado pelo Capitão (Wagner)". A ideia, segundo ele, é construir um palanque de centro-direita "com todos que querem fazer outra política na cidade”.

O vice-prefeito projetou que a eleição será “animada e disputada”, e que isso favorece a população. “Quem ganha é o povo que vai ter uma pluralidade de ideias. Você pode perguntar, era o vice do Valim e agora como é que é pré-candidato, possivelmente contra o Valim? A democracia é boa por causa disso, porque podemos conviver mesmo com diferenças ideológicas”.

Valim, por sua vez, ainda deve se filiar a algum partido para a disputa. O prefeito tem mantido proximidade com lideranças governistas como o ministro da Educação, Camilo Santana, e com membros da gestão estadual, com quem tem se reunido para discutir parcerias.

O POVO entrou em contato com Valim, por meio da assessoria de imprensa, para ouvi-lo sobre o cenário eleitoral e a relação com vice, além de possibilidades de filiação partidária com vistas para a eleição de 2024, mas não obteve retorno.

Outro partido que deve estar na disputa em Caucaia é o PSD. Os nomes do ex-prefeito Naumi Amorim e da ex-deputada estadual Erika Amorim são cogitados. Ambos sem mandatos, são apoiados pelo presidente da sigla no Ceará, o ex-vice-governador Domingos Filho.

“Minhas lideranças em Caucaia são Naumi e Erika, a partir daí toda e qualquer outra composição cabe a eles” disse Domingos, em coletiva recente na Assembleia Legislativa.

A depender da configuração política, outros nomes podem ser adicionados. A deputada estadual Emília Pessoa (PSDB), que disputou a eleição municipal em 2020, e rompeu com a gestão de Valim recentemente, é um deles. O PSDB tem se movimentado nos bastidores estaduais, com filiações e encontros com gestores, na tentativa de fortalecer os quadros para as eleições de 2024. (Colaborou Carlos Mazza)

Juazeiro do Norte

Município que nunca reelegeu um prefeito, Juazeiro do Norte terá um longo caminho até definir os próximos candidatos. Há muita especulação e poucas confirmações até o momento. Segundo aliados, o prefeito Glêdson Bezerra (Podemos) deve ser candidato à reeleição, mas ainda não se sabe qual a configuração e quem deverá compor com ele.

Em 2022, Glêdson fez costura política curiosa. Pediu votos para a candidatura de Capitão Wagner (União Brasil) ao Governo do Ceará, para Camilo Santana (PT), que disputava o Senado, e para o deputado estadual Fernando Santana (PT).

Com a vitória de Elmano de Freitas (PT), eleito governador, é possível que o PT lance candidatura na cidade, já que não teve o apoio do prefeito na disputa do ano passado. Nesse eventual cenário, Fernando Santana, que foi apoiado por Glêdson, é cogitado por partidários.

Embora evite falar sobre o tema, Fernando não descarta a possibilidade. “Vamos avaliar e discutir. Meu domicílio (eleitoral) ainda está em Juazeiro, sou nascido lá, mas decisões políticas pretendo tomá-las só ano que vem. Se serei ou não candidato, se vou apoiar alguém, só na hora que o prazo permitir”, disse ao ser indagado pelo O POVO.

O grupo do deputado federal Yury do Paredão (PL) também deve entrar no cálculo eleitoral de Juazeiro do Norte. A irmã do parlamentar, a ex-vereadora Yanny Brena vinha em ascensão no município

Ela foi vítima de feminicídio no início de março, o que mudou o quadro político local. Yury apoiou a eleição do novo presidente da Câmara, Capitão Vieira (PTB), que faz oposição ao prefeito e tem se articulado para formalizar alianças.

Outros nomes que participaram das eleições de 2020 e que podem aparecer novamente, conforme o pleito se avizinha, são o ex-prefeito Arnon Bezerra (PDT), o deputado estadual Davi de Raimundão (MDB), ex-candidato a vice-prefeito, e o ex-deputado Nelinho (MDB).

Nos bastidores, também cogita-se a formação de um blocão de oposição que contaria com nomes como Arnon, Yury, Capitão Vieira, dentre outros para enfrentar Glêdson. Em Juazeiro do Norte, a eleição para prefeito é definida em apenas um turno. (colaborou Luciano Cesário)

Maracanaú

Em Maracanaú, há pelo menos quatro pré-candidaturas já postas para a disputa eleitoral. O prefeito Roberto Pessoa (União Brasil), os deputados estaduais Júlio César Filho (PT) e Lucinildo Frota (PMN) e o deputado federal Júnior Mano (PL).

O município é governado há quase 20 anos pelo grupo de Pessoa e decide a eleição em apenas um turno. Por isso, a oposição ensaia uma união de forças para enfrentar a atual gestão nas urnas.

Júlio Cesar faz oposição histórica ao grupo de Pessoa e já disputa as eleições para prefeito desde 2016. Ele articula uma aliança com outros pré-candidatos.

Em março, o petista divulgou vídeo com Junior Mano, manifestando intenção de construir entendimento. "Estamos dialogando, tentando construir uma viabilidade positiva", disse Mano.

Julinho reforçou que ambos têm "intenções políticas para 2024” e que o diálogo também envolveria Lucinildo Frota, na tentativa de formalizar uma frente de oposição. A sinalização indica uma possível união entre PT e PL em 2024, siglas que rivalizam no âmbito nacional.

A polarização entre os partidos ocorre desde que o ex-presidente Jair Bolsonaro se filiou ao PL para disputar a reeleição, sendo derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Filho destacou que a intenção é não dividir forças, tendo em vista que as eleições em Maracanaú são definidas em turno único, diferentemente do que ocorre em Fortaleza e em Caucaia, que tem possibilidade de segundo turno. "Não há vantagem de sair com candidaturas separadas. Aquele que se mostrar em melhores condições de liderar, os outros abraçarão", projetou o petista.

Roberto Pessoa, por sua vez, destaca os resultados em eleições recentes. Em 2022, a filha Fernanda Pessoa se elegeu como deputada federal e o aliado ex-prefeito Firmo Camurça foi eleito deputado estadual. Ambos do União Brasil, eles foram os candidatos mais votados, para os respectivos cargos, em Maracanaú.

O grupo de Pessoa emendou cinco mandatos na Prefeitura: dois do atual gestor (2005-2012), dois de Firmo (2013-2020) e um terceiro mandato de Roberto (2021-2024). Agora, almeja o sexto mandato consecutivo.

Sobral

Sobral, na região Norte do Estado, é o único entre os cinco maiores colégios eleitorais no qual o prefeito não poderá tentar se reeleger. Isso porque o atual gestor, Ivo Gomes (PDT) já vem de dois mandatos. Berço político da família Ferreira Gomes, a cidade tem como vice-prefeita a petista Christiane Coelho, que já é cogitada como possível pré-candidata.

No ano passado, Christiane foi candidata à Câmara Federal, ficando na primeira suplência do partido. Além dela, os nomes da ex-governadora Izolda Cela, atualmente secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), e de David Duarte, chefe de gabinete de Ivo, circulam como possíveis representantes governistas em conversas de bastidores. Tradicionalmente o PDT tem indicado candidatos próximo ao final do período das convenções, no ano eleitoral.

Em Sobral é esperado que haja a continuidade de uma aliança histórica entre o grupo de Cid Gomes e familiares e de membros do PT. As discussões de governistas sobre a sucessão municipal ainda estariam caminhando a passos lentos, segundo interlocutores. Neste início de ano, o PDT tem concentrado esforços para resolver divergências internas relacionadas ao racha estadual com o PT em 2022.

Do lado da oposição, aparecem o deputado federal Moses Rodrigues e o deputado estadual Oscar Rodrigues, ambos do União Brasil e cotados para representar a sigla. Oscar se candidatou em 2020 e o filho Moses em 2016, mas eles não conseguiram se eleger. Agora, com a saída de Ivo, o grupo aposta no fortalecimento da oposição para chegar ao poder.

“O União Brasil é um partido grande e municipalista. Em Sobral, a oposição constrói um projeto para 2024, não temos ainda um nome definido. O nome do deputado Oscar e o meu nome estão entre os ventilados, mas temos outros. Estamos debatendo para apresentar a proposta para o ano que vem”, disse Moses ao O POVO.

O deputado defendeu ainda que o partido construa “projetos alternativos” no máximo de municípios, inclusive na Capital. “Sou um dos defensores de que o Capitão Wagner tem que ser pré-candidato em Fortaleza, para darmos opção aos eleitores. O União Brasil está trabalhando para disputar chapas majoritárias em muitos municípios”, concluiu.

O POVO procurou o prefeito Ivo Gomes por meio da sua assessoria de imprensa, para comentar o cenário pré-eleitoral na cidade. A equipe do prefeito informou que ele só se manifestará sobre questões políticas envolvendo as eleições de 2024 na época do período eleitoral.

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