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Quem é quem no racha que divide o PDT do Ceará
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Quem é quem no racha que divide o PDT do Ceará

Partido que já foi a maior força política do Ceará, o PDT vive hoje divisão interna entre um grupo que defende aliança com Elmano e outro que prega postura de independência ou oposição
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Registro de uma das reuniões de pedetistas cearenses para discussão sobre futuro (Foto: Filipe Pereira)
Foto: Filipe Pereira Registro de uma das reuniões de pedetistas cearenses para discussão sobre futuro

Um ano atrás, o PDT possuía situação bem diferente da atual no Ceará: uma das forças políticas mais unidas do Estado, o partido percorria o Interior com quatro pré-candidatos a governador e parecia ter como certa a indicação do sucessor de Camilo Santana (PT).

Um ano - e uma eleição - depois, no entanto, a sigla se vê reduzida diante de um novo protagonismo local do PT, vencedor na disputa pelo Governo do Ceará ainda no 1º turno. E aquele PDT antigo, que antes marchava sempre alinhado, hoje não consegue consenso nem para decisões internas das mais simples, como escolher seus líderes no Legislativo.

No episódio mais recente do racha no PDT Ceará, o partido ainda não definiu, com dois meses de governo, se irá se aliar a Elmano de Freitas (PT) ou fazer oposição ao petista. Na semana passada, a sigla chegou a realizar uma reunião interna para discutir o tema, que acabou só em impasse e com uma nova reunião agendada para os próximos dias.

No centro da discussão estão duas correntes divergentes, cada uma defendendo posturas diferentes para o partido com relação a Elmano. Estrategista maior do PDT em eleições passadas, o senador Cid Gomes (PDT) lidera hoje grupo que defende que o partido "vire a página" da disputa eleitoral e busque a reaproximação com Elmano.

"Aqui no Ceará a gente tem que virar a página também. Aconteceu, houve divergência, o partido perdeu, a estratégia foi claramente, as urnas mostraram isso, equivocada. Infelizmente algumas pessoas não admitem o erro e querem alimentar uma divergência, o que não é característico do PDT", disse Cid após a reunião da última quinta-feira.

O senador é acompanhado de perto principalmente pela bancada estadual do partido, hoje liderada na figura do presidente da Assembleia, Evandro Leitão. No ano passado, Cid e Evandro articularam com Elmano a indicação de dois deputados estaduais e um federal do PDT para o secretariado do petista - até como forma de "amarrar" o apoio da sigla.

Esse grupo, no entanto, enfrenta resistência forte de pedetistas mais próximos de Ciro Gomes (PDT) e do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), que encampou candidatura ao Governo do Ceará em 2022 e acabou na 3ª posição. Na análise destes líderes, especialmente RC, o partido recebeu "voto de oposição" na eleição do ano passado.

"Creio que o tempo tratará de depurar e decantar quem realmente tem compromisso com esse projeto do PDT no Ceará e quem eventualmente tá passando uma chuva por aqui, por uma razão qualquer", disse Roberto Cláudio ainda em janeiro.

Nos bastidores, há ainda um incômodo do ex-prefeito com setores do PDT que, na avaliação dele, não teriam apoiado "de fato" sua candidatura no ano passado. Entre eles, estariam o próprio Evandro Leitão e outros deputados do partido. Sem acordo, pedetistas em Fortaleza vêm brigando para manter uma postura de "independência" com Elmano, com a Câmara Municipal de Fortaleza sendo palco para diversas críticas ao petista.

Acontece que, a preço de hoje, essa posição desagrada boa parte da bancada do PDT na Assembleia Legislativa. Atualmente, dez dos treze deputados estaduais do partido integram a base aliada de Elmano, e há um incômodo interno entre eles por conta da posição dos três petistas mais "independentes" - Antônio Henrique, Cláudio Pinho e Queiroz Filho.

Na votação de mensagens como a que reajustou alíquotas do ICMS do Estado, por exemplo, pedetistas acabaram debatendo com pedetistas sobre as matérias. O "climão" é geral e tem repercutido até mesmo em decisões que deveriam ser triviais, como a escolha dos dois vice-líderes do partido na Casa, hoje travada por falta de consenso.

Quem é quem no racha interno do PDT

Quase dois meses após o início da gestão Elmano, pedetistas ainda não definiram posição oficial entre o governo; crise interna remete à eleição do ano passado e divide algumas das principais lideranças do partido no Estado

Quem defende a aliança com Elmano

Cid Gomes: Talvez hoje o principal defensor da recomposição entre PT e PDT no Ceará, o senador Cid Gomes disse na última semana que o partido precisa “virar a página” no Ceará. Para ele, resultado das urnas provou que a estratégia do partido no ano passado foi “equivocada”. “Infelizmente, algumas pessoas não admitem o erro e querem alimentar uma divergência”, diz, em crítica indireta ao bloco que defende postura de oposição.

Deputados estaduais: Atualmente, dez dos 13 deputados estaduais do PDT defendem que o partido integre a base do governo Elmano no Legislativo estadual. O grupo é liderado sobretudo pelo presidente da Assembleia, Evandro Leitão (PDT). Apenas os três parlamentares mais ligados ao ex-prefeito Roberto Cláudio – Antônio Henrique, Cláudio Pinho e Queiroz Filho – divergem desta tese e seguem “independentes”.

Prefeitos do Interior: Como a parceria com o Governo do Estado acaba sendo essencial para o bom desempenho de gestões municipais, os prefeitos do PDT no Interior do Ceará são praticamente uníssonos na tese de que o racha do ano passado já é “página virada”. Até mesmo o prefeito de Quixeramobim, Cirilo Pimenta, que foi um dos principais defensores da candidatura de RC, já defende reaproximação com Elmano.

Secretários de Elmano: Atualmente, dois deputados estaduais e um deputado federal eleitos pelo PDT integram o secretariado do governo Elmano: Salmito Filho (Desenvolvimento Econômico), Oriel Nunes Filho (Pesca e Aquicultura) e Robério Monteiro (Recursos Hídricos). Todos defendem aliança entre petistas e pedetistas.

Quem defende o PDT na oposição

Roberto Cláudio: Candidato ao Governo do Ceará derrotado por Elmano, o ex-prefeito de Fortaleza defende que o PDT teve “voto de oposição” na eleição do ano passado. Neste sentido, ele prega que o partido tenha postura de independência ao governo petista, ou que pelo menos o comando municipal da sigla em Fortaleza possa ficar na oposição. Neste sentido, RC já fez fazendo críticas sistemáticas à atuação do novo governo.

José Sarto: Ao contrário dos demais prefeitos do partido, José Sarto tem mantido discurso de independência com o Governo do Estado. O prefeito chegou a tentar uma “bandeira branca” com Elmano, mas exigia a contrapartida de petistas que fazem oposição ao seu governo na Câmara Municipal. As negociações, no entanto, não foram para frente.

Vereadores de Fortaleza: Muito alinhada com Roberto Cláudio e Sarto, a Câmara Municipal de Fortaleza é hoje uma das principais “trincheiras” para pedetistas que querem fazer oposição a Elmano. Dos quase 15 vereadores pedetistas na Capital, apenas dois – Júlio Brizzi e Enfermeira Ana Paula – não têm feito críticas diárias ao governo petista.

Ciro Gomes: Apesar de estar ausente do cenário político desde sua derrota nas eleições do ano passado, o ex-ministro é um dos nomes mais lembrados por aqueles que defendem postura de oposição do PDT local. Segundo aliados de Ciro, ataques de petistas durante a campanha seriam responsáveis pelo mal desempenho do pedetista na eleição passada.

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