Após meses de intensa negociação de bastidores e projetos "guardados a sete chaves", o governo Lula (PT) enfim anunciou, na última sexta-feira, 11, parte das obras que irão compor o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) 3, que terá direito a investimentos somando até R$ 73,2 bilhões previstos para ações apenas no Ceará.
Nos bastidores, políticos já avaliam um possível impacto positivo do programa para candidaturas ligadas ao governo petista nas eleições de 2024, sobretudo após anos de poucas novidades para o Nordeste no governo Jair Bolsonaro (PL). Durante a gestão, maior parte dos projetos federais na região focou na conclusão de obras já anunciadas.
Novo PAC 3, no entanto, elenca não apenas ações "encalhadas" de gestões passadas, como a própria obra da Ferrovia Transnordestina - anunciada originalmente ainda nos primeiros governos Lula -, mas também em novas ações, que vão desde novas duplicações de rodovias federais a até grandes investimentos do Minha Casa Minha Vida na região.
"Acredito que teremos um otimismo da população muito grande fruto desses investimentos e melhoras em todos os setores da economia, o que eventualmente pode favorecer parceiros desse projeto", avalia o deputado Eduardo Bismarck (PDT), líder da bancada do Ceará na Câmara dos Deputados. "Favorecer, e não decidir eleições. Eleição municipal os munícipes olham muito mais para o compromisso e as opções dos líderes locais", destaca.
"Acho que são obras estruturantes que, em um primeiro momento, vão injetar recursos em nossa economia, gerar empregos e boa parte estará pronta para a reeleição do Lula", continua. Outro ponto avaliado é que o pacote do PAC 3 poderá fortalecer lideranças mais próximas de Lula no Nordeste, como o deputado José Guimarães (PT) no caso cearense.
"É um volume de recursos surpreendente para o nosso Estado, isso mostra bem o poder de articulação que nós estamos tenso, as três principais autoridades do Ceará no governo Lula. Eu na liderança (do governo na Câmara dos Deputados), o Camilo (Santana) na Educação e agora o Elmano (de Freitas) no governo", diz Guimarães.
"Essa união do Ceará faz com que o Ceará esteja muito bem posicionado dentro do formato dos novos investimentos públicos e privados lançados no PAC", diz, em fala que parece já antecipar teor de discursos da base petista em 2024 no Ceará. "Nós temos que comemorar muito que várias dessas obras já estão com licitação concluída e vão começar logo, nós teremos grande celeridade. O PAC voltou e voltou para fazer a diferença", diz.
A questão do tempo de andamento das obras, no entanto, é o que pode acabar virando o "calcanhar de Aquiles" do governo no projeto. No caso da Transnordestina, por exemplo, o próprio governo Lula tinha anunciado, ainda no PAC 1 de 2007, investimentos de quase R$ 5 bilhões para o trecho entre Missão Velha e o Porto do Pecém.
Sem conclusão, a obra teve direito até a segundo "pontapé inicial", com a sucessora de Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), chegando inclusive a visitar Missão Velha, no Cariri, para assinar outra ordem de serviço para um lote da ferrovia. Uma das marcas das gestões petistas, a própria obra da Transposição do Rio São Francisco não foi concluída até o fim das gestões petistas, gerando disputa pela "paternidade" da obra com Bolsonaro.
"Difícil gerar expectativas sobre promessas de investimentos no Ceará feitas pelo governo Lula. Era necessário uma amnésia absoluta para esquecermos o que foi o projeto de transposição do São Francisco, o tempo que levou e a quantidade de recursos aportados. Tínhamos que esquecer todas as obras que ficaram pelo caminho após 14 anos com o governo petista", avalia o deputado oposicionista Sargento Reginauro (União).
"São todos projetos importantes para o desenvolvimento do Ceará, porém é muito cedo para se comemorar, principalmente sabendo que é o responsável por todos esses recursos anunciados" conclui.
Ao todo, o Estado pode receber até R$ 73,2 bilhões na nova edição do PAC. Confira os principais projetos
Duplicação da BR-116
A ação deverá ser realizada em dois trechos, o primeiro saindo de Pacajus, com 64 quilômetros; o segundo, de 97 quilômetros, do Boqueirão do Cesário e vai até Tabuleiro do Norte.
Conclusão da Transnordestina
O foco das obras deverá ser entre trechos que ligam o sul do Piauí até Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, e de Salgueiro até o Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante
Conclusão do Anel Viário
O governo espera concluir a construção da rotatória que dá acesso à BR-222 pelo Anel Viário
Duplicação do Eixão das Águas
A ideia é duplicar a capacidade de vazão do eixão, que leva águas do açude Castanhão para a Região Metropolitana de Fortaleza
Minha Casa Minha Vida
Pacote prevê até R$ 15,1 bilhão para construções de novos lotes do programa de habitação popular
Ampliação do Cinturão das Águas
Ação antiga integrada ao projeto de Transposição, busca ampliar o número de municípios do Ceará com acesso às águas do São Francisco