Nas últimas semanas, mudanças importantes ocorreram no cenário partidário no Ceará. No fim de agosto, o PSB oficializou Eudoro Santana como novo presidente estadual do partido e filiou pelo menos nove prefeitos de cidades da Região Metropolitana de Fortaleza e do Interior.
Entre os recém-filiados estão Vitor Valim (Caucaia), Átila Câmara (Maranguape) e Nezinho (Horizonte). Os três municípios estão entre os mais importantes da Região Metropolitana de Fortaleza e ensaiam contraponto em relação ao PL de Acilon Gonçalves, que tem as prefeituras de Eusébio, Aquiraz e Pindoretama, ostentando hegemonia ao leste da Capital.
Outra mudança importante foi o anúncio de que Evandro Leitão, presidente da Assembleia Legislativa (Alece), deixará o PDT. Ele é cotado para se filiar ao próprio PSB ou ao PT, o que deve provocar novos movimentos migratórios. Tais trocas envolvem ainda, com intensidade, o Republicanos.
Desde o início do ano, chegam pelo menos a 30 o número de gestores que mudaram de partido com vistas às eleições 2024, quando são justamente as prefeituras o principal alvo das ambições.
Em meados de maio, o PT conseguiu atrair Flávio Filho, de Amontada, e Tiago Ribeiro, de Cascavel. É ainda aguardado na legenda Marcelo Teles, o Processor Marcelão, de São Gonçalo de Amarante. Líderes do partido já expressaram o desejo que a agremiação saia das eleições de 2024 como o maior do Estado.
O PT tem o segundo maior número de prefeitos no Ceará, atrás do PDT, e quer se fortalecer especialmente no interior do Estado, além de ampliar o apoio ao governador Elmano de Freitas (PT).
Presidente estadual da legenda, Antônio Filho, o Conin, contabiliza 34 gestões petistas no Estado e, segundo ele, há em andamento dez negociações. Em janeiro, a legenda conseguiu atrair outros 12 prefeitos, que saíram de partidos como PDT, MDB, PCdoB e PL.
As migrações foram articuladas pelo governador Camilo Santana (PT) e pelo deputado José Guimarães (PT). Um dos principais "atrativos" para a filiação foram tanto a boa avaliação do governador de olho nas pesquisas de opinião quanto a pré-candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Estado. Tudo foi combinado com o estrategista maior do PDT no Ceará, senador Cid Gomes.
Vitor Valim (PSB) disse que migrar para o PSB foi um convite de Eudoro, pai de Camilo, para compor as mesmas fileiras do projeto que governa o Estado nos últimos 16 anos. "Qualquer um que esteja no PSB hoje tem a oportunidade de ter um grande orientador político, o nosso líder, o senador Camilo Santana". Sobre os planos para 2024, disse que fará "gestão".
"As questões políticas locais, digo com tranquilidade, vou fazer gestão. A oposição, como não tem o que fazer, faz política pela política e eu tenho a obrigação de mudar a vida das pessoas e continuar o projeto que estamos tocando", pontuou.
Em Caucaia, Valim deve disputar com o atual vice-prefeito, Deuzinho Filho (União Brasil), ligado ao grupo de Capitão Wagner (União Brasil).
O PSD, sigla que também passou a compor a base de Elmano, também cogita lançar candidatura em Caucaia, segundo maior colégio eleitoral do Ceará, sob a liderança de Naumi e Erika Amorim.
Átila Câmara, prefeito de Maranguape, disse que o PSB passaria a ter um papel importante de “reaproximação com o campo da esquerda, alinhamento com governador Elmano e resgate da história do partido” sob a direção de Eudoro. A respeito da filiação, ele destacou a questão afetiva como parte importante da escolha por aceitar o convite feito por Eudoro.
“No meu caso, tem também o componente afetivo. Fui vereador e prefeito pelo PSB. Tive que sair por conta dos desígnios da política, mas ficou uma história e uma afinidade. A convite do doutor Eudoro, com alinhamento com Elmano e Camilo, hoje volto a um partido que me acolheu no início da minha trajetória política”, pontuou.
Também em maio, o ex-senador Chiquinho Feitosa assumiu a presidência estadual do Republicanos. Em evento lotado, ele conseguiu filiar quatro novos prefeitos. A ida para a agremiação aproxima a sigla que atuava na oposição ao grupo político de Camilo Santana.
Passaram a integrar os quadros do Republicanos os prefeitos Júnior do Titico, de Ipueiras, Orlando Filho, de Mombaça, Lígia Protásio (interina), de Santa Quitéria, e Telvânia Braz, de Paramoti. A vice-prefeita de Acopiara, Ana Patrícia, que assumiu com o afastamento do prefeito, também migrou e fez crítica ao MDB, onde era filiada.
As mudanças foram provocadas pela reorganização da base governista. PDT e PT romperam desde a última eleição e a recomposição ainda não foi formalizada no âmbito das cúpulas, embora deputados pedetistas votem com o governador Elmano de Freitas (PT) e o partido tenha três secretários, entre outros cargos na administração.
A entrada de Jair Bolsonaro no PL também tirou o partido da base governista no Ceará, embora a corrente que comanda a direção estadual seja simpática ao governo.
As principais trocas observadas envolvem, como usual, mudanças em direção à base. Por isso, há várias filiações ao PT, mas também a outros partidos recém-ingressos no governismo. É o caso do PSB e do PSD. Ambos apoiaram Roberto Cláudio (PDT) contra Elmano na eleição para governador em 2022.
O PSD chegou a entregar cargos na Prefeitura de Fortaleza, sob comando de José Sarto (PDT), logo antes de assumir secretaria estadual e passar formalmente a compor a base do governador.
O Republicanos, que apoiou Capitão Wagner (União Brasil) no ano passado, foi outra sigla que mudou de direção e rumo no Estado. Recebeu Chiquinho Feitosa como presidente e passou a integrar o governismo. Chiquinho comandava o PSDB no ano passado e bateu de frente com Tasso Jereissati para impedir o apoio da legenda a Roberto Cláudio.
As siglas passaram a se apresentar como alternativas para prefeitos que desejam aderir ao governo. Em função de rivalidades locais, é comum haver dois ou até mais grupos locais que são da base governista em alguns municípios.
Assim, nem sempre uma sigla de situação é viável para quem deseja ser candidato a prefeito. Legendas alternativas dentro do governismo surgem como caminho para abrigar forças aliadas ao Palácio da Abolição que disputam entre si no âmbito local.
Outra legenda que aderiu ao governismo foi o Podemos, que era comandado pelo senador Luiz Eduardo Girão, agora no Novo. O partido era outro que estava na base de Capitão Wagner em 2022. Este ano, passou a ser comandado pelo prefeito de Aracati, Bismarck Maia, que deixou o PDT.