Política, futebol e religião são aqueles temas tidos como proibidos para se debater. Quando se é mulher, comentar e ser escutada é ainda mais difícil. As redes sociais, no entanto, despontam como um caminho para mudar essa dinâmica.
No debate digital, são elas as que mais se mobilizam sobre política. A diferença é pouca: 50,4% contra 49,6% de participação masculina, conforme a pesquisa "Consumo de Mídias Digitais no Brasil", realizada pela Escola de Comunicação, Mídia e Informação da Fundação Getulio Vargas (FGV ECMI), em parceria com a Atlas Intel. Masm, vai na contramão do que se supõe uma predominância masculina no meio.
O estudo foi realizado em agosto de 2023 com 1.722 pessoas e mapeou o perfil de consumo das 13 principais mídias digitais em todo o país. Um dos objetivos era compreender a sociedade sabendo então o que é debatido, compartilhado e consumido no ambiente digital.
A própria pesquisa considera que o resultado "chama a atenção", justamente porque existem "ene" motivos que afastam mulheres da política. Entres os citados, há fatores institucionais (as instituições políticas ainda seriam pouco inclusivas), padrões culturais e de socialização.
"Associam a política a um espaço masculino, e constrangimentos estruturais como a divisão sexual do trabalho que destina às mulheres os afazeres domésticos e a socialização das crianças, diminuindo o tempo livre para a participação política", aponta o documento.
Professora da instituição, Luciana Veiga reforça que a ideia de que as mulheres não gostam de política é parte de um contexto social mais profundo e não de preferências pessoais. Na divisão social dos gêneros, as mulheres são atribuídas a trabalhos, e temas, ligados às questões domésticas ou de cuidado a familiares. Aos homens, é permitido o espaço público, e, logo, o debate sobre política.
Ela analisa que essa noção também reflete na baixa participação feminina na política e nos cargos públicos. No Ceará, por exemplo, apenas em 31 das 184 cidades cearenses, o Executivo municipal é comandado por uma mulher. O número significa 17% de prefeituras com uma prefeita no cargo. Na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), apenas Guaiúba, com Izabella Fernandes (PSB) , e Paraipaba, com Ariana Aquino (Republicanos), elegeram prefeitas.
No campo do Legislativo, houve avanços nas eleições de 2022, mas o número é muito aquém da maioria feminina encontrada na população do Estado. Doze mulheres representam o Ceará na Assembleia Legislativa (Alece) e na Câmara dos Deputados. Nove estão como deputadas estaduais e três como federais, ocupando 12 das 68 vagas disponíveis para o Estado. O número, mesmo longe da equidade de gênero, é o mais alto já registrado no Ceará para as bancadas legislativas.
"O espaço público, onde o debate político acontece, é associado ao sexo masculino. Daí vem a baixa participação feminina na política ao longo da história. A pesquisa mostra que quando o debate é feito em um ambiente público sem que a mulher precise sair da sua casa, vemos que, na verdade, elas querem, podem e participam mais do assunto do que os homens", comenta a professora.
E o interesse por política ultrapassa até questões ideológicas. Política desperta interesse e acessos igualmente entre participantes de esquerda/centro esquerda (35%) e de direita/centro direita (34%). O X (antigo) Twitter aparece como a plataforma mais usada para seguir influenciadores que abordam principalmente assuntos relacionados à política (92,3%).
Podcast
O "Elas Pesquisam" existe desde 2019 e está no Spotify, Deezer e demais plataformas de áudio. Além de Cláudia, o programa é feito também por Eliana Coelho, professora do Ensino Médio e pesquisadora
Destaques da pesquisa
As mídias digitais mais acessadas pelos brasileiros diariamente são WhatsApp (81%) e Google (70%).
Política, economia e educação são os três assuntos que despertam mais interesse e motivam mais acessos nos ambientes digitais mencionados.
O X (antigo Twitter) aparece como a plataforma mais usada para seguir influenciadores que abordam principalmente assuntos relacionados à política (92,3%)
Homens acessam diariamente mais YouTube (52%) e Facebook (39%) do que as mulheres, com percentuais de 39% e 26%, respectivamente para essas mídias.
Por outro lado, quase metade das mulheres (49%) usa o Instagram todos os dias, enquanto apenas 22% dos homens fazem o mesmo.
Entre as pessoas que acessam o tema da política nas redes sociais, 57% delas dizem acreditar que a nocividade da desinformação seja "muito grave" para a democracia, que se somam a 11% que manifestam avaliar que ela seja "grave".
Um em cada três usuários que acessam a política na internet não veem gravidade significativa na desinformação. A percepção dos perigos da desinformação é maior entre os entrevistados que se interessam e se mobilizam pelo tema da educação. Entre eles, 63% consideram muito grave a nocividade da desinformação.
Vamos escutar mulheres falando de política?
As Cunhãs
O Assunto
Desculpa alguma coisa
Isso não é Noronha
Copiô, parente
Olhares
As leitoras do O POVO e o consumo de notícias
A pesquisa Atlas/FGV/ECMI aponta que as mulheres tendem a escolher veículos como Folha de S.Paulo, Correio Braziliense e O POVO para se informar.
Homens são a maior parte do público de veículos como Terra, Jovem Pan, Brasil247 e O Antagonista.
Na pesquisa, 61% do público online do O POVO aparece composto por mulheres e 39%
por homens.