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A um ano das convenções, o que está definido e o que segue em aberto nas candidaturas no Ceará
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A um ano das convenções, o que está definido e o que segue em aberto nas candidaturas no Ceará

Dentro de 12 meses, estará no fim o prazo para as confirmações das chapas e coligações para as eleições de 2026, quando todas as decisões terão de estar tomadas. Veja o que está encaminhado e o que segue indefinido nas forças políticas do Estado
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Palácio da Abolição, sede do Governo do Ceará (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Palácio da Abolição, sede do Governo do Ceará

Dentro de um ano, o prazo para as convenções partidárias estará quase no fim. O dia 5 de agosto de 2026 é a data final para a oficialização de candidaturas. Por enquanto, algumas posições-chave estão praticamente definidas, mas a maior parte das decisões está em aberto.

O governador Elmano de Freitas (PT) buscará a reeleição a não ser que haja enorme reviravolta. Ele buscará dar continuidade ao projeto político iniciado por Cid Gomes (PSB) em 2007, que passou por dois mandatos de Camilo Santana (PT) e agora tem o petista no comando do Executivo cearense.

Apesar de a cabeça da chapa ser considerada definida, a aliança governista acumula incertezas. Uma delas é quem ocupará a vaga de candidato a vice-governador.  Indefinição ainda maior ocorre em relação ao Senado. Conforme repetem Elmano e também o ministro da Educação, Camilo Santana (PT), o adiamento das decisões é parte da estratégia. Eles querem deixar para 2026 as definições.

Um dos motivos é evitar antecipar os conflitos que ocorrerão dentro da base em função de muita gente querer o mesmo espaço. A aliança vitoriosa em 2022 era grande e, de lá para cá, agregou partidos como PSB, PSD e provavelmente PDT. Além da Federação PT, PCdoB e PV, do MDB, Solidariedade, a Federação Psol e Rede, que já estavam na eleição passada. Em contrapartida, o PP pode ser um desfalque, devido à formação de federação com o União Brasil, que deve estar na oposição.

Em entrevista ao O POVO em julho, o governador disse ser normal haver insatisfeitos com as escolhas numa aliança ampla como é a da base estadual. Por isso ele diz que as decisões não devem ser antecipadas.

"Na medida em que você amplia a aliança, fica mais complexo e aumenta as possibilidades de ter pessoas que vão ficar insatisfeitas na hora do resultado, se não é ela a pessoa escolhida. Mas isso faz parte de quem tem uma aliança ampla", disse na ocasião.

Quem será vice de Elmano?

A posição de vice é crucial, ainda mais numa campanha de reeleição, quando, em caso de vitória, ao final do novo mandato o governador pode decidir se desincompatibilizar para buscar uma outra posição. Jade Romero (MDB), eleita em 2022 ao lado de Elmano, enfrenta resistências para seguir na função. A partir do próprio partido, o MDB, para quem a prioridade declarada é uma candidatura ao Senado. A legenda acena a Jade com uma candidatura a deputada federal.

Além disso, há partidos dentro da aliança que hoje estão politicamente mais fortes. É o caso do PSB, de Cid Gomes e Eudoro Santana, presidente estadual e pai de Camilo. Entre os quadros do partido cogitados estão Lia Gomes, deputada estadual licenciada para ser secretária das Mulheres do governo Elmano; Ivo Gomes, ex-prefeito de Sobral e ex-deputado, e Fernanda Pacobahyba, presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Os dois primeiros são irmãos de Cid. A última foi secretária da Fazenda de Camilo e está hoje numa das funções mais estratégicas do ministério comandado pelo ex-governador.

O PSD, por enquanto discreto em relação a investidas eleitorais para 2026, é outra força a considerar. É um dos partidos mais fortes no Interior e hoje a terceira força no estado, atrás de PT e PSB. Em 2022, disputou a vice na chapa de Roberto Cláudio, que concorreu a governador pelo PDT. Ao lado dele estava Definido Domingos Filho, presidente estadual do partido e que foi vice-governador no segundo mandato de Cid Gomes.

Ainda sem vinculação partidária, um personagem cotado para vice de Elmano em 2026 é o secretário da Casa Civil do Chagas Vieira. Muito próximo a Camilo e principal secretário de Elmano, ele assumiu a linha de frente nos embates com a oposição. Caso seja a escolha de Elmano, poderá se filiar a um partido que o abrigue.

Corrida na base pelo Senado 

O maior imbróglio na base governista está na disputa pelas duas cadeiras do Senado Federal. O debate se antecipou bastante ao início das convenções partidárias e muitos pré-candidatos de peso se lançaram.

José Guimarães (PT), líder do governo Lula na Câmara dos Deputados e um dos petistas mais influentes no Ceará, está irredutível sobre concorrer à Câmara Alta. Em 2014, ele pretendia disputar, mas abriu mão para que o partido indicasse Camilo Santana a governador. Ainda pela sigla, o Campo de Esquerda lançou Luizianne Lins (PT), deputada federal e ex-prefeita de Fortaleza, como pré-candidata. É a única mulher na lista de opções para o Senado pela base até agora.

Pelo PSB, partido com maior número de prefeitos no Ceará, Cid Gomes diz não ter pretensões de se candidatar, embora correligionários e outros adeptos da base desejam que pleiteie a reeleição. O senador declarou apoio ao deputado federal Júnior Mano para representar o partido em uma composição majoritária ao Senado. O parlamentar é alvo de investigação sobre suposto esquema de desvio de emendas.

Do mesmo partido, o presidente da Assembleia Legislativa, Romeu Aldigueri, foi citado como opção e disse estar à disposição.

Presidentes de dois partidos importantes para o cenário nacional e estadual também são pré-candidatos ao Senado: Chiquinho Feitosa, do Republicanos, e Eunício Oliveira, do MDB. Ambos já foram senadores — o primeiro como suplente e o segundo chegou até a presidir a Casa. As legendas negociam uma federação, o que talvez deixe espaço para apenas um dos dois na chapa majoritária.

A base estadual ainda tenta atrair o União Brasil e chegou a acenar com uma das vagas de candidato a senador, que possivelmente iria para o deputado federal Moses Rodrigues.

A chapa de oposição

A oposição busca construir um bloco unificado para ser competitiva. Para isso, o palanque reúne antigos adversários como Capitão Wagner (União Brasil), Ciro Gomes (PDT), Roberto Cláudio (sem partido) e os bolsonaristas liderados por André Fernandes (PL).

Para disputar o governo pelo bloco, os mais cotados são Roberto Cláudio e Ciro. O ex-prefeito deixou o PDT e está em vias de se filiar ao União Brasil. De olho numa eventual candidatura, chegou a se reunir com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ciro por sua vez, em público, apoia Roberto Cláudio. Internamente, porém, abriu a possibilidade de concorrer novamente a governador, animando aliados. Ainda filiado ao PDT, tem como provável destino o PSDB.

O senador Eduardo Girão (Novo) se lançou pré-candidato ao Executivo. Ele é cotado para se filiar ao PL. A hipótese ganhou impulso depois que o deputado André Fernandes anunciou que o partido deverá ter candidato próprio a governador e não irá apoiar Ciro nem RC. A situação é considerada ainda contornável dentro do bloco.

No cenário em que o PL decida de fato ter candidato, as possibilidades podem ser os vereadores de Fortaleza Julierme Sena, Marcelo Mendes e Priscila Costa, citados em fevereiro por André como quadros aptos.

Priscila chegou a ser lançada como pré-candidata ao Senado pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Para uma das vagas, a postulação mais encaminhada na oposição é de Alcides Fernandes (PL), deputado estadual e pai de André. A candidatura foi confirmada por Bolsonaro.

Para a segunda vaga, além de Priscila, o general Guilherme Theophilo (Novo) se lançou pré-candidato. Também são especulados Capitão Wagner e Roberto Cláudio, caso não vá para o governo.

O que está encaminhado e o que segue indefinido

No ano que vem serão eleitos presidente da República, vice-presidente, governadores e vice-governadores, dois senadores por estado, deputados federais e deputados estaduais. Na chapa majoritária estadual, há um candidato a governador, um candidato a vice-governador e duas vagas para candidatos a senador, com dois suplentes cada. Veja como estão os encaminhamentos

Base

O que está definido

  • Candidato ao Governo: Elmano de Freitas (PT) tentará reeleição

O que está indefinido

  • Candidatura a vice-governador
  • Possívels opções:
    • Jade Romero (MDB)
    • Chagas Vieira (sem partido)
    • PSB: Lia Gomes (PSB), Ivo Gomes (PSB) ou Fernanda Pacobahyba (PSB)
    • PSD (Domingos Filho ou uma indicação)
  • Duas candidaturas a senador
  • Opções:
    • Cid Gomes (PSB), atual senador que diz que não quer ser candidato, mas muita gente defende que seja
    • José Guimarães (PT)
    • Eunício Oliveira (MDB)
    • Chiquinho Feitosa (Republicanos)
    • Júnior Mano (PSB)
    • Moses Rodrigues (União)
    • Romeu Aldigueri (PSB)
    • Luizianne Lins (PT)
    • Chagas Vieira (sem partido)

Oposição

O que está definido

  • Um candidato a senador: Alcides Fernandes (PL)

O que está indefinido

  • Candidato ao Governo
  • Opções:
    • Ciro Gomes (PDT)
    • Roberto Cláudio (sem partido, acertado com União Brasil)
    • Eduardo Girão (Novo)
    • Priscila Costa (PL)
    • Marcelo Mendes (PL)
    • Julierme Sena (PL)
  • Segunda candidatura a senador
  • Opções:
    • Capitão Wagner (União Brasil)
    • Roberto Cláudio (sem partido)
    • Priscila Costa (PL)
    • Guilherme Theophilo (Novo)

Cenário nacional tende a ser determinante

As conjecturas das chapas estaduais perpassam por definições nacionais. Entre elas, o destino de alguns partidos envolvidos. A exemplo do União Brasil, peça-chave da oposição no Ceará e cobiçado por Elmano de Freitas e Camilo Santana no Estado.

A federação com o PP definiu que irá se opor ao PT no Brasil e cada estado terá as próprias decisões. No Ceará, é o União Brasil de Capitão Wagner quem comandará. O PP, é presidido estadualmente pelo deputado federal AJ Albuquerque, aliado do governo. A federação nasce como uma das maiores forças no Congresso Nacional, com grande peso em tempo de propaganda eleitoral e em dinheiro do Fundo Eleitoral.

União Brasil, PP e também Republicanos ocupam ministérios na gestão do presidente Lula, mas não garantem votação significativa no Congresso Nacional. No caso do Republicanos, base aliada no Ceará, trata-se do partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que pode se lançar à Presidência da República. Isso pode comprometer a presença no arco de apoio no Ceará.

Caso Tarcísio seja mesmo candidato a presidente, outro partido importante pode deixar a base de Elmano: o PSD. Gilberto Kassab, presidente nacional da sigla, é um dos principais aliados do governador paulista e tem demonstrado insatisfação com o governo Lula.

Na oposição estadual também há pendências a serem superadas para a nova aliança. Além da indefinição sobre o União Brasil, ciristas e bolsonaristas tentam encontrar termos para que o bloco vingue e saia em palanque único em 2026 no Ceará.

Apesar de os principais líderes reforçarem o discurso de unidade, alguns sinais indicam que não é tão simples. Isso passa principalmente por alinhar o discurso de Ciro diretamente a Jair Bolsonaro, ponto necessário para que o PL possa apoiar o ainda pedetista.

Ciro fez acenos declarando a intenção de votar em Alcides Fernandes (PL) ao Senado, recebendo elogios recíprocos de André Fernandes em seguida. Porém, a aliança se viu comprometida depois de o ex-governador falar em "burrice da família Bolsonaro em vídeo. Horas depois, André Fernandes descartou apoio e anunciou que o PL terá candidato próprio.

A aliança não é tida como inviabilizada, mas o episódio acendeu o alerta para a necessidade de a coalizão local não se chocar com os interesses nacionais. O ex-ministro até defendeu que as diferenças nacionais sejam deixadas de lado, mas precisará combinar com o bolsonarismo.

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