O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, admitiu ontem, pela primeira vez, que as negociações com a Rússia pelo fim da guerra podem ter como base a linha de frente atual do conflito. Ou seja, colocaria na mesa de discussões a possibilidade de ceder uma parte do seu território, hipótese que, até então, descartava completamente.
"Precisamos de negociações reais, o que significa que podemos começar por onde está a linha de frente agora", disse ele após participar de encontro com presidente da União Europeia, Ursula von der Leyen. Porém, Zelensky considera não haver indício concreto de que a Rússia esteja disposta a realizar uma cúpula tripartite entre ele, o presidente americano, Donald Trump, e o presidente russo, Vladimir Putin. "Até o momento, a Rússia não deu nenhum indício de que a cúpula tripartite ocorrerá", afirmou durante coletiva de imprensa conjunta.
A presidente da Comissão Europeia disse esperar que uma cúpula tripartite seja realizada "o mais breve possível". O presidente ucraniano viajou a Bruxelas para participar de uma reunião por videoconferência da "coalizão dos voluntários", que reúne os aliados de Kiev, incluindo o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, e o chanceler alemão, Friedrich Merz.
"Eu gostaria que o presidente Trump desse a mim e aos líderes europeus muitos detalhes", acrescentou. O que "o presidente Trump nos disse sobre garantias de segurança é muito mais importante para mim do que os pensamentos de Putin. Porque Putin não nos dará nenhuma garantia de segurança", afirmou. Falando ao lado de Zelensky, Ursula von der Leyen saudou a proposta de Trump de oferecer garantias de segurança à Ucrânia inspiradas na Otan. A presidente da Comissão também reiterou que a Ucrânia deve ser capaz de manter a sua integridade territorial.
Ursula von der Leyen adiantou que a União Europeia manterá seu apoio à Ucrânia "o tempo que for necessário", destacando que o país tem direito à sua integridade territorial e que "as fronteiras não podem ser alteradas pela força".
A Europa está surpresa diante da guinada de Trump, que havia ameaçado impor sanções a Moscou, mas recuou após a reunião com Putin. Líderes europeus reafirmaram que seguirão aumentando a pressão econômica contra a Rússia "enquanto a matança continuar". Excluído da cúpula do Alasca, Zelenski afirmou que tratará com Trump, em Washington, "todos os detalhes sobre o fim da guerra".
Zelenski e Trump devem se encontrar em Washington nesta segunda-feira, 18, com a presença de líderes europeus como von der Leyen, Emmanuel Macron, presidente da França e Friedrich Merz, chanceler da Alemanha.
"Essas são decisões que devem ser tomadas pela Ucrânia e somente pela Ucrânia. Não podem ser decididas sem o país na mesa", afirmou. Ela também elogiou a disposição de Trump em oferecer garantias de segurança semelhantes às da Otan, mas reforçou que a UE seguirá pressionando Moscou, inclusive com o 19º pacote de sanções já em preparação.
A líder europeia enfatizou que Kiev deve continuar a fortalecer suas forças armadas - "um porco-espinho de aço indigesto para invasores potenciais", nas palavras dela - e garantiu que a União Europeia seguirá ampliando a capacidade de defesa da Ucrânia, especialmente no campo dos drones. Além disso, reafirmou que o processo de adesão do país à União Europeia continua em andamento, o que representaria uma garantia de segurança estratégica.
"É essencial que a Europa permaneça tão unida quanto em fevereiro de 2022, para parar as mortes", disse Zelenski, acrescentando que Putin mantém "muitas exigências, mas não conhecemos todas elas". Segundo ele, a "direção estratégica" da Rússia é "antieuropeia" e, por isso, deve ser limitada. Também ressaltou que não pode haver divisão entre Moldávia e Ucrânia.
O posicionamento contrasta com a fala de Trump, que, após encontro com Vladimir Putin no Alasca, disse que a Ucrânia deveria "fazer um acordo" e entregar territórios como Donetsk e Luhansk, afirmando que "a Rússia é uma potência, eles não". A proposta tem sido rejeitada por Kiev.