As discussões sobre a implantação do data center da empresa cearense Casa dos Ventos no complexo industrial do Pecém, movimentaram a Câmara de Caucaia na última terça-feira, 16. Na sessão, vereadores comentaram sobre os impactos do empreendimento e criticaram protestos contra o projeto, alegando "divulgação de informações falsas". Além disso, a expectativa é que uma audiência pública seja realizada no mês de outubro entre representantes do município, população e o Governo do Estado.
No plenário, vereadores comentaram sobre o impacto do projeto na região. Destacando a previsão de 15 mil empregos com a instalação do equipamento. O vereador J. Wellington (PSD) criticou a instalação de um outdoor localizado na BR-222, uma das principais vias de acesso ao centro de Caucaia, projetando falta de água no município com a chegada do equipamento.
“Se são politiqueiros que estão espalhando esses outdoors, querendo causar terror em nosso município, já digo que é mentira”, defendeu. O vereador argumentou ainda que pessoas que são contra o empreendimento “não querem que o município cresça e se desenvolva” e cobrou urgência em tomar providências contra o outdoor.
O vereador Tancredo dos Santos (PL) considera a situação “inadmissível” e disse que com um alto investimento e geração de emprego, Caucaia teria melhorias significativas de infraestrutura. O vereador defendeu que uma denúncia conjunta fosse enviada ao Ministério Público do Ceará (MPCE) para investigação do que chamou de “fake news para assombrar o povo” e “politicagem".
O outdoor foi instalado pela organização Engajamundo, coletivo de jovens que atua contra problemas ambientais e sociais, e critica o projeto do data center: “Data center no Ceará não! A rede vizinha quer deixar a energia mais cara e menos água para o povo”, diz a peça.
A ação de ativismo ambiental foi uma iniciativa patrocinada pelo edital do Engajamundo para os núcleos locais (NL) em todo o Brasil. Em agosto, por conta da Semana Nacional da Juventude e do Dia do Voluntariado, uma verba foi destinada para a realização de uma campanha sobre adaptação climática.
Ao O POVO, a integrante da iniciativa Engajamundo em Fortaleza, Bianca dos Santos, explica a motivação da ação: “Vimos a questão do data center em Caucaia e construímos uma ação de denúncia visível, para todos os que passam pela região”.
Bianca conta ainda que o protesto se estendeu até a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), com distribuição de materiais como bottons, cartazes e a campanha nas redes sociais contra aprovação de projetos capazes de agravar as mudanças climáticas.
O projeto do data center deve operar para a empresa chinesa ByteDance, dona da plataforma TikTok. O empreendimento gerou polêmicas e tentativas de intervenção por envolver altas demandas de energia e de água.
Em nota à reportagem do O POVO, em agosto, a empresa Casa dos Ventos informou que irá utilizar um sistema de resfriamento em circuito fechado, conhecido como chiller, em que a água absorve o calor dos equipamentos através de ar resfriado por água que circula pelo sistema de forma reciclada.
Em agosto deste ano, uma representação enviada ao MP pelo deputado estadual Renato Roseno (Psol) também se posicionou contra o licenciamento ambiental cedido por “ferir a legislação” e não apresentar detalhamento sobre os impactos ambientais e violação de direitos dos povos indígenas.
O projeto também foi criticado pela comunidade indígena Anacé, em reportagem do O POVO, que se manifestou contra a instalação que inclui parte do rio Cauipe. Integrantes da comunidade afirmam que a obra pode prejudicar o abastecimento de água e energia, problema antigo na região. Além de afetar diretamente tradições culturais e crenças do povo Anacé.
Um requerimento de audiência pública, do vereador Carlos Augusto Medeiros, conhecido como Dr. Carlinhos (MDB), foi aprovado pela Câmara em agosto e deve convocar o MPCE, a Secretaria de Planejamento Urbano e Ambiental de Caucaia (SEPLAM), o Instituto do Meio Ambiente de Caucaia (IMAC), a Secretaria de Finanças de Caucaia (Sefin), técnicos especializados em tecnologia e a população caucaiense.
Ao O POVO, o vereador defendeu que o município precisa que a tecnologia chegue para contribuir com o desenvolvimento econômico e a geração de empregos, mas que é necessário entender como ela será aplicada e como vai agregar ao município em relação às questões fiscais.
“Precisamos sim do data center, mas precisamos saber a que preço. Precisamos de esclarecimentos com cuidado e critério para que as pessoas não se aproveitem dessa situação”, declarou. O vereador acrescentou ainda que o município precisa de esclarecimentos em relação a eventual consumo excessivo de água e descumprimento de medidas ambientais.
“A população só acredita naquilo que realmente vê através dos técnicos. Existem muitas falácias, então muitas pessoas se aproveitam politicamente desse momento para que a população veja de forma negativa, enquanto na realidade nós precisamos sim do data center”, defende.