O governador Elmano de Freitas (PT) foi questionado sobre a fala de Capitão Wagner, presidente estadual do União Brasil, de que os deputados federais Fernanda Pessoa e Moses Rodrigues poderiam perder os mandatos por apoiarem o petista, e disse que não lhe cabe interferir em assuntos internos.
Porém, Elmano disse que tanto Moses como Fernanda e AJ Albuquerque, presidente do PP Ceará, possuem autoridade para definirem seus apoios e que os partidos não irão querer perder deputados federais.
"Eu não sou do partido dele (Wagner), eu acho que não me cabe ficar interferindo em assuntos internos do União Brasil ou da federação", disse nesta quinta-feira, 6, no IV Congresso do Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde.
"Eu acho que o deputado Moses tem autoridade suficiente, a deputada Fernanda Pessoa assim como o deputado AJ (também) e creio que os partidos não tão muito afim de tá perdendo deputado federal", declarou Elmano.
O presidente do União Brasil, Antônio Rueda, chamou os deputados Moses Rodrigues e Fernanda Pessoa para conversar, depois que o presidente estadual do partido, Capitão Wagner cogitou expulsar os dois parlamentares. Na conversa, Rueda tranquilizou os dois cearenses e afirmou que não é hora de pensar em qualquer tipo de atitude contra quadros da sigla. Como o União Brasil não tem nome para encabeçar a chapa para o governo e deve apoiar Ciro Gomes como candidato, segundo o presidente nacional, não há motivos para expulsão.
A parlamentar Fernanda Pessoa não aceitou a ameaça feita por Wagner. Deputada mais votada pelo partido em 2022, ela afirmou que o União Brasil não tem dono e que vai permanecer na sigla. “Eu sou feliz no União, sou respeitada no partido e vou seguir assim. Essa palavra ‘expulsão’ é muito forte. Houve essa situação com o presidente estadual e eu me senti constrangida e coagida. A palavra certa é ameaçada. Foi uma ameaça!”, afirmou.
Fernanda revelou que ela e Moses chegaram a ser procurados por outros partidos após a fala de Wagner, mas que ficou mais tranquila com a conversa com Rueda. “Ele deixou claro que somos importantes para o partido, que quer nos manter nos quadros do União. Então, em nenhum momento ele disse que tem interesse que nós saiamos, eu não manifestei em nenhum momento interesse em sair. Eu estranhei muito esse posicionamento do Wagner. Política não se faz com ódio e eu aprendi isso em casa”, avaliou a deputada.
A interlocutores, Moses confirmou o tom da conversa. O deputado ressaltou o fato de o União Brasil não ter candidato ao governo para continuar apoiando o governo Elmano de Freitas. Ele também quer deixar para conversar sobre o União compor base ou oposição durante as convenções do partido, sem qualquer imposição vertical, algo que Rueda concordou.
Em evento de filiação do ex-prefeito Roberto Cláudio ao União Brasil, Capitão Wagner afirmou que o partido definiu em nível nacional que ficará na oposição ao PT e os que não seguirem a decisão podem responder processo administrativo que levaria até a expulsão.
"Uma vez que, em nível nacional, foi fechado questão de estarmos na oposição ao PT e aqueles que não cumpriram a determinação estão respondendo a processo administrativo, a gente vai ter também que fazer a mesma coisa no Ceará. Fechar a questão e aqueles que desobedecerem a determinação do partido vão ter que responder a procedimento administrativo, que pode culminar desde uma suspensão, uma advertência até a expulsão do partido", afirmou.
A fala de Wagner veio após Moses declarar que independente de de posição partidária irá apoiar a reeleição de Elmano para governador do Ceará em 2026. Wagner disse que ele foi avisado sobre a impossibilidade.
Cúpula do União Brasil sinaliza partido na oposição
O evento de filiação do ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, ao União Brasil também serviu como um direcionamento do partido sobre o futuro da sigla no Ceará em meio a disputa entre base e oposição. Pelas falas de dirigentes nacionais, a sigla deverá estar no bloco contrário ao PT.
Antônio Rueda, presidente nacional do União Brasil, afirmou, em discurso durante o evento, que a filiação de RC é começo da mudança do Ceará. Ele destacou a aliança formada entre outras siglas como o PL, presidido pelo deputado federal André Fernandes, e o PSDB de Ciro Gomes e Tasso Jereissati.
O dirigente ainda declarou que essas forças antes adversárias se unem para derrotar o que ele considera como atraso na política.
"Esse filiação do Roberto é o começo da mudança no Ceará. Eu ouso dizer que pela primeira vez eu vejo um conjunto de forças política no Ceará construindo um novo caminho. Vejo o PL, vejo o PSDB, vejo pessoas que antes não se falavam que hoje dialogam em um vértice em comum, derrotar tudo aquilo que é uma mazela governamental que representa o atraso da política. Tenham a convicção que encontram aqui nessa federação um ambiente próspero para um Ceará diferente", afirmou.
Em dezembro, durante vinda a Fortaleza, Rueda foi cobiçado por membros do governo como o secretário chefe da Casa Civil de Elmano, Chagas Vieira e o deputado federal Moses Rodrigues (União Brasil) que declarou apoio ao governador petista. Eles chegaram a posar para foto, agitando os bastidores da política cearense. Um dia depois, membros da oposição também procuraram o dirigente.
ACM Neto, vice-presidente nacional do União Brasil fez o discurso mais enfático de mostrar que o partido estará na oposição ao PT nas eleições de 2026. Ele, que é pré-candidato a governador da Bahia, comparou os dois estados, governados pelo petismo, e disse que terão a missão de enfrentar um sistema e projetou confronto direto.
"Você (Roberto Cláudio) é muito bem recebido e se Deus quiser em 2026, e o Nordeste vai se destacar nisso, nós vamos derrotar o PT, derrotar o PT no Ceará, na Bahia e no Brasil", disse.