Amanhã, 22, o professor de Direito Penal, Cândido Albuquerque, deve tomar posse como reitor Universidade Federal do Ceará (UFC) pelos próximos quatro anos. Sua nomeação é a primeira desde 1991 que contraria a vontade da comunidade acadêmica. Derrotado na consulta pública, com menos de 8% dos votos do candidato, ele foi anunciado na noite de segunda-feira, 19, pelo presidente da República. Assim, o início de sua gestão é marcado por desafios, instabilidade e rupturas.
Ainda no cargo, o atual reitor, Henry Campos, é cauteloso em vislumbrar o futuro. Mas preciso sobre a situação atual. "O clima no momento é de inconformação por não ter sido nomeado o primeiro da lista. A atitude é vista como desrespeito à autonomia. Espero que seja encontrado um ponto de superação", comenta. O tempo deverá ser o grande pacificador dentro da UFC, com destaque, porém, para a quebra de rotina nas atividades da universidade por causa do descontentamento e para a assimilação, não só da nomeação, mas também dos cortes orçamentários e dos projetos cotados para serem executados.
"Não podemos dizer que a universidade é de direita ou de esquerda. Ela é livre de pensamento e as políticas e atitudes desse governo têm sido no sentido de inibir essas manifestações. O momento é de buscar o que é melhor", analisa Campos ao ser questionado sobre o peso político e ideológico que a nomeação carrega. Universidades federais de outros três estados (MT, Recôncavo Baiano e Rio) também tiveram nomeados reitores indicados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL), contrariando a maioria da comunidade acadêmica.
A atitude tem respaldo legal. Para a pesquisadora do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Democracia Digital, Isabele Mitozo, da Universidade Federal da Bahia, mesmo sendo um direito constitucional do presidente, a indicação significa um aparelhamento do Estado. "Num futuro próximo vai acontecer uma politização maior da universidade. Isso não significa dizer que ela será de direita, mas que havia uma autonomia sobre as políticas de governo. E agora não terá mais", avalia.
O procurador da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Leonardo Rocha de Almeida, explica que a escolha da lista tríplice é uma consulta, não tem caráter de eleição. E o chefe do executivo tem o direito de escolher. "Ele não está obrigado a escolher o primeiro colocado na consulta. Mas a escolha daquele que não foi aclamado pela comunidade acadêmica, em geral, representa um déficit de representatividade na escolha", destaca.
Repercussão
PROFESSORES
O presidente da Associação dos Docentes da UFC, Bruno Rocha, destaca que a reivindicação contra a indicação não se dá pela escolha do nome.
DEBATES
O professor destaca que, nos debates entre os candidatos, as propostas apresentadas pelo reitor nomeado não "estavam em consonância com a universidade".
SERVIDORES
A coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Federais do Ceará (Sintufc), Keila Camelo, afirma que, "independente do perfil ideológico, espera que o reitor nomeado tenha a preocupação de manter a universidade pública, gratuita e de qualidade"
NACIONAL
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes)emitiu nota pública em que sustenta a nomeação dos candidatos escolhidos conforme a maioria dos votos dos docentes, estudantes e servidores técnico-administrativos da Rede Federal.