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O Brasil que vive mais
Reportagem

O Brasil que vive mais

| LONGEVIDADE | Daqui a 12 anos, o País terá mais idosos com 60 anos ou mais do que crianças e adolescentes de 0 a 14 anos. Com um perfil diferente do passado, essa geração chega à terceira idade reivindicando mudanças
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CHRISTIANNE SAMPAIO tem 48 anos e chegará aos 60 quando o Brasil se tornará um país de idosos (Foto: ALEX GOMES/Especial para O POVO )
Foto: ALEX GOMES/Especial para O POVO CHRISTIANNE SAMPAIO tem 48 anos e chegará aos 60 quando o Brasil se tornará um país de idosos

Ativa, praticando exercícios físicos todos os dias, trabalhando, produzindo e ganhando dinheiro. É como a empresária Christianne Sampaio Lasserre se vê quando estiver idosa. Hoje, aos 48 anos, mantém uma rotina de vida que, para ela, deve fazê-la chegar aos 60 anos muito distante do que anos atrás se imaginava da população sênior. "Eu penso no futuro e, quando posto fotos, coloco #rumoaos50. Já, já isso muda, e vai ser #rumoaos60. Quero chegar aos 60 melhor do que estou hoje", projeta. Christhiane entra na faixa etária considerada como a de idoso em 2031. Exatamente no ano em que, no Brasil, a população com mais 60 anos será maior que o número de crianças e adolescente de 0 a 14 anos. É quando o País se consolidará como envelhecido.

Um processo que, conforme explica Márcio Minamiguchi, demógrafo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), se dá de forma mais acelerada do que em países desenvolvidos e é fruto da confluência de fatores como queda da mortalidade, aumento da expectativa de vida (que já é de 75,5 anos), e diminuição das taxas de natalidade (que é de menos de dois filhos por mulher, e era até de seis filhos na década de 1960).

Preocupada com o que come e como se exercita, conectada à internet, ativa economicamente e ainda com anos a cumprir no mercado de trabalho — seja por necessidade, obrigação previdenciária, ou desejo de permanecer incluída — a geração que está alcançando os 60 anos chega diferente das anteriores.

"O perfil dos idosos da minha família muda completamente entre as gerações. Quando eu nasci, minha avó materna tinha quase 50 anos, minha idade agora. A forma de se vestir e o comportamento eram muito diferentes do que é minha mãe hoje e muito mais de mim. Não me vejo como a minha avó. Eu quero estar indo pra show, pra festa, pra praia com meu biquíni. Envelhecer é massa e eu vou ser uma velhinha ousada", planeja Christianne.

A mudança perceptível entre as gerações da família da empresária se repete em muitos lares brasileiros. A população com mais de 60 anos que permanece no mercado de trabalho tem renda 22% superior ao rendimento geral do trabalhador brasileiro. Além disso, conforme pesquisa Consumer Generations, realizada pela Tetra Pak, o público sênior será responsável, já em 2020, por 16% da renda do País.

"Daqui a 10 anos, 12 anos, os 50 mais vão ter 60 anos, e serão os idosos, com bom poder aquisitivo, com filhos maiores de idade, com saúde. É preciso pensar em serviços para essas pessoas tanto no turismo, ações culturais, para recreação em espaços públicos, para entendê-las como pessoas que envelheceram e que não têm características imputadas aos idosos de gerações anteriores", aponta Carlos André Uehara, médico geriatra e presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG).

Com um novo perfil do idoso surgem novas demandas, e o mercado precisa atendê-las com produtos e serviços específicos, oferecendo mão de obra qualificada. "O desafio de adaptação do mercado é gigante. Recém 'descoberto', este nicho tão negligenciado no passado não preparou profissionais com visão sobre as necessidades, características e oportunidades do público idoso", observa Martin Henkel, diretor e fundador da SeniorLab.

"Um comportamento ainda comum é o de 'estocar' o idoso. A pessoa vai ficando mais velha, e você não inclui ela no potencial que ela tem de vida familiar, social e econômica. Isso, diante da crescente participação dessa população, precisa mudar. É preciso sensibilizar as pessoas de que há muito mais do que 'estocar' idosos. A gente tem de considerar o potencial de incorporá-los ativamente na vida social, respeitar e estimular o direito de escolha deles de participar do mercado de trabalho. E também do mercado de consumo, da vida em sociedade, da vida familiar de maneira integrativa e propositiva. E, assim, tirar o estigma de que as pessoas idosas estão no 'fim da linha'", diz Wilson Amorim, professor da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo (FEA-USP).

 

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