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Suplentes representam 15,2% do Legislativo no Ceará
Reportagem

Suplentes representam 15,2% do Legislativo no Ceará

Mudanças são originárias de acordos políticos para contemplar extensa aliança do governador Camilo Santana no parlamento Estadual
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Deputado Oriel Nunesfilho. Foto: Júnio Pio/ALCE (Foto: Júnio Pio/ALCE)
Foto: Júnio Pio/ALCE Deputado Oriel Nunesfilho. Foto: Júnio Pio/ALCE

Quando o suplente do PDT Oriel Nunesfilho foi empossado deputado estadual, última quinta-feira, 29, um dos compartimentos da Assembleia que dá vista para o Plenário estava lotado. Familiares, amigos e aliados prestigiaram o jovem, que, aos 32 anos, chega ao primeiro mandato político. Vindo de linhagem tradicional na política de Icó, a 361 quilômetros de Fortaleza, o agora deputado decidiu juntar os nomes Nunes e Filho. A Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE) permite o máximo de dois nomes. Não quis, então, perder o “Nunes”, que o identifica como membro da família que hoje governa aquela cidade, nem perder o “Filho”, já que o pai, ex-deputado estadual e ex-prefeito, atende pelo mesmo nome.

Oriel Nunes, o filho, integra movimento comumente chamado “dança das cadeiras”. Na maior parte das vezes motivada por acordos - porque suplentes, com os votos que recebem, ajudam a eleger os titulares - as alterações têm sido comuns na Assembleia Legislativa. Dos sete parlamentares que assumiram assentos, apenas Manoel Duca (PDT), Lucílvio Girão (PP) e Edilardo Eufrásio (MDB), ex-prefeito de Tejuçuoca que ocupa espaço deixado por Leonardo Araújo (MDB), acumulam anos na estrada política. Juntos, estes deputados empossados representam 15,2% das 46 cadeiras do parlamento.

Como comparação, 16 suplentes assumiram assentos na Assembleia nos quatro anos da última Legislatura (2015-2018). No período correlato ao dos atuais mandatos (setembro de 2015), foram duas trocas no Parlamento.

Os demais ou só se envolviam com a política interiorana - sem ter mandato - ou não tinham relação alguma com a política. Em alguns casos, para conquistar o eleitorado, recorreram ao uso de nomes exóticos. Além da junção Nunesfilho, há os casos de Gordim Araújo (Patri) e Davi de Raimundão (MDB). Também figura a lista dos novatos o policial civil Tony Brito (Pros), que, se antes não se imaginava envolvido com política, agora diz ter “tomado gosto”.

“Eu sempre gostei de política porque me criei ouvindo meu pai falar do que era política”, relata Nunesfilho. “Você ser político, você exercer um cargo público, é você ajudar as pessoas sem pegar o seu dinheiro e dar a elas”, complementa sobre o que diz ter sido o ensinamento do pai, falecido no ano passado.

Pelo mesmo motivo de Nunesfilho, Davi somou à identidade política o “de Raimundão”. De 1991 a 2004, Raimundão foi deputado estadual. Também deputou em Brasília, saindo da Câmara dos Deputados para assumir a prefeitura de Juazeiro do Norte, em 2013. Ali, no terceiro maior colegiado do Ceará, Raimundão também foi vice-prefeito.

“Com certeza é muito bom (levar o nome do pai). Se você tem um pai bom, por que não levar o nome dele? É uma honra”. Questionado se a união de nomes foi útil no processo eleitoral, não vê problemas em afirmar que sim. “Quem iniciou tudo foi ele, eu entrei agora e ajudou demais. Quem é Davi? Quando diz ‘de Raimundão’...” Para o emedebista, o mandato faz se sentir mais útil em relação à região (Cariri). Interpreta que se o Legislativo estadual é burocrático, é porque todo o País é. “É aceitar e desburocratizar”, soluciona.

O correligionário de Davi, Edilardo, sustenta que os os investimentos do “governo vão muito na área metropolitana, mas deveria ir mais ao Interior.” A defesa dessa pauta, diz o emedebista, é o que pautará a atuação na Assembleia. “Muito fácil município como Maracanaú ou São Gonçalo captar uma indústria.”

Gordim Araújo (Patri) é, na verdade, Elvilo Araujo. Ele explica que o apelido nasce no comércio, atividade que desempenha desde jovem, aos 15 anos, no ramo de cereais. Os próprios clientes o apelidaram assim, ele relembra, negando qualquer incômodo. “Quando veio aqui para o plenário para registrar o nome, notei que uns colegas tiveram cerimônia de chamar Gordim”, relata.

Ele destaca ter sido o mais votado em Amontada. Isso porque a vitória foi “contra o prefeito”, que apoiou Duca, “meu amigo”. “Nunca tinha acontecido de um candidato de oposição tirar um resultado desse contra a máquina”, se orgulha. Ele aponta ainda que o prefeito da cidade, Dr. Valdir (PDT), não tem “amor” pelo município. “Os prefeitos aí que se segurem, que eu vou trabalhar para o povo.”

Gordim diz ser ligado aos jovens e querer, num discurso recorrentemente usado pela classe política, trabalhar pelos menos favorecidos. Indagado sobre como se percebe no espectro ideológico, responde não ser de esquerda nem direita. “Eu sou daquela situação de ‘não aconteceu’, vamos se reunir numa sala e ‘o que é que está faltando para acontecer?’ Vamos resolver.” Ele reconhece, contudo, que ser deputado não é “chegar e fazer acontecer.” É, no entendimento dele, um exercício de paciência. “Tem que ter espírito de guerreiro.”

Ele se soma à extensa base do governador Camilo Santana (PT) na Assembleia. “Nosso governador tem aceitação muito grande e a gente tende a compor com quem está acertando.”

É Tony Brito (Pros) o único novato opositor do governador petista. Ele se vê, por sinal, como um opositor inteligente. “Agora, recentemente, eu fui e parabenizei o programa de saúde para o nosso estado, que aumenta o número de hospitais e que dá uma injetada de R$ 600 milhões na saúde. Por que é que eu não tenho que elogiar?”

Os bastidores que culminaram na decisão por se candidatar, ele revela, são de quem é - era, no caso - totalmente avesso à política. Relembrou estar com o vereador Julierme Sena (Pros), de carona, quando foram ao Pros. Era o último dia de candidatura quando, no partido, o disseram “tem que ir”. Hoje, diz gostar da prática política. Recorrentemente, inclusive, usa “conte comigo” durante conversas. Acha, contudo, que o comportamento predominante ainda é de vícios e clientelismo.

“As pessoas me procuram no gabinete, muitas vezes, para me pedir ajuda para pagar uma conta e eu não gosto disso. Acho que a pessoa que vota em outra pensando em receber algo em troca, e não pela coletividade, tem que rever seus conceitos”, opina.

Deputado Lucílvio Girão. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Lucílvio Girão. Foto: Júnio Pio/ALCE

"DANÇA DAS CADEIRAS" NA ATUAL LEGISLATURA

LICENCIOU: Zezinho Albuquerque (PDT) / Tempo indeterminado

MOTIVO: Assumiu Secretaria das Cidades

ASSUMIU: Lucílvio Girão (PP)

6/2/2019

Deputado Manoel Duca. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Manoel Duca. Foto: Júnio Pio/ALCE
LICENCIOU: Fernando Hugo (PP) / 150 dias /

MOTIVO: problemas de saúde

ASSUMIU: Manoel Duca (PDT)

22/2/2019

Deputado Tony Brito. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Tony Brito. Foto: Júnio Pio/ALCE
LICENCIOU: Soldado Noélio (Pros) / 120 dias

MOTIVO: Acordo

ASSUMIU: Tony Brito (Pros)

4/7/2019

Deputado Manoel Duca. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Manoel Duca. Foto: Júnio Pio/ALCE
LICENCIOU: Bruno Pedrosa (PP) / 120 dias /

MOTIVO: Diante da volta de Fernando Hugo, Duca tinha de ser acomodado na Casa.

ASSUMIU: Manoel Duca (PDT)

2/8/2019

Deputado Davi de Raimundão. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Davi de Raimundão. Foto: Júnio Pio/ALCE
LICENCIOU: Leonardo Araújo (MDB) / 120 dias

MOTIVO: Acordo

ASSUMIU: Davi de Raimundão (MDB)

8/8/2019

FORTALEZA,CE,BRASIL,29.08.2019: Gordim Araújo, Deputado Estadual no Ceará pelo PATRI. Suplentes assumem mandato na Assembleia Legislativa. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)
FORTALEZA,CE,BRASIL,29.08.2019: Gordim Araújo, Deputado Estadual no Ceará pelo PATRI. Suplentes assumem mandato na Assembleia Legislativa. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)
LICENCIOU: Bruno Gonçalves (Patri) / 120 dias

MOTIVO: Acordo

ASSUMIU: Gordim Araújo (Patri)

14/8/2019

Deputado Edilardo eufrásio. Foto: Júnio Pio/ALCE
Deputado Edilardo eufrásio. Foto: Júnio Pio/ALCE
LICENCIOU: Agenor Neto (MDB) / 120 dias

MOTIVO: Acordo

ASSUMIU: Edilardo Eufrásio (MDB)

20/8/2019

FORTALEZA,CE,BRASIL,29.08.2019: Oriel Nunes, Deputado Estadual no Ceará pelo PDT. Suplentes assumem mandato na Assembleia Legislativa. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)
FORTALEZA,CE,BRASIL,29.08.2019: Oriel Nunes, Deputado Estadual no Ceará pelo PDT. Suplentes assumem mandato na Assembleia Legislativa. (fotos: Tatiana Fortes/ O POVO)
LICENCIOU: Osmar Baquit (PDT)

MOTIVO: Acordo

ASSUMIU: Oriel Nunesfilho (PDT)

29//8/2019

Fonte: Levantamento O Povo.

Informação

Exceto Zezinho e Hugo, os demais deputados formularam o pedido de licença alegando a necessidade de tratar "assuntos particulares" ou numa variação disso. Zezinho, secretário, não recebe salário da Assembleia. Hugo, como qualquer outro trabalhador licenciado por razões médicas, seguiu recebendo salário. No entanto, não teve direito a acessar verba de desempenho parlamentar e verba de gabinete, o que ficou para o suplente. Os demais deputados licenciados não recebem nem salário nem as verbas citadas.

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