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Edifício Andréa: A difícil missão de salvar vidas
Reportagem

Edifício Andréa: A difícil missão de salvar vidas

Reportagem conversou com bombeiros que trabalham nas buscas das vítimas da tragédia do Edifício Andréa, no Dionísio Torres. Operação de resgate completa quatro dias hoje
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OPERAÇÃO DE RESGATE que teve início na terça-feira havia retirado até ontem sete sobreviventes e sete corpos (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE OPERAÇÃO DE RESGATE que teve início na terça-feira havia retirado até ontem sete sobreviventes e sete corpos

O bombeiro se encosta no muro da rua Tibúrcio Cavalcante e pede água. Usa blusa vermelha, calça camuflada, lenço no pescoço e botas. É moreno, pouco mais de 1,65 metro. "Faltam só dois", comenta, indicando a contagem de desaparecidos que ainda restam ser resgatados dos escombros do Edifício Andréa, na Dionísio Torres. As mãos e o rosto estão esbranquiçados da poeira.

Desde o desabamento do prédio, já se passaram mais de 80 horas de trabalho. Em números e também pela extensão, é uma das maiores operações de socorro do Corpo de Bombeiros do Ceará. Até a noite desta sexta-feira, sete pessoas tinham sido resgatadas com vida, sete haviam morrido e duas permaneciam desaparecidas.

O militar, assim como outros com quem a reportagem conversou, pede reserva sobre o nome. O trabalho de salvar vidas é anônimo. Apenas o comandante da tropa fala, o coronel Eduardo Holanda, que se alterna entre boletins à imprensa e informações aos familiares das vítimas, reunidos num edifício vizinho, que ontem estava vazio.

Casado, pai de duas crianças, o militar está exausto. Enquanto bebe água, confere no relógio os minutos que faltam para encerrar o turno e voltar para casa. "Entrei 8 horas da manhã", afirma. Então pede licença e sai para comer um pedaço de pizza na tenda da Defesa Civil.

"O trabalho é lento", alerta outro bombeiro. "É manual, quase artesanal. Avançamos devagar. Só usamos alavanca, enxada, pá e as mãos". Agachado na rua, ele retira os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), como chamam entre si. Guarda item a item no bagageiro da moto, estacionada próximo ao local do desmoronamento. Veste fardamento cáqui e máscara.

Naquele dia, havia passado mais tempo rente ao chão, o ouvido colado como se auscultasse as pedras e lajes à procura de sinais de possíveis sobreviventes. Pergunto como se sente depois de três dias da tragédia, com as buscas perto do fim. O bombeiro silencia. Em seguida, responde: "Amanhã (neste sábado) estarei de volta logo cedo".

Às 20h em ponto, a turma que entrou pela manhã vai deixando o local. Avançam em duplas e trios, as roupas recobertas da sujeira dos escombros contrastando com os que se aproximam para render os colegas de ofício.

Um deles conta que trocou de turno para poder ficar em casa com a esposa e a filha. "Assim eu consigo passar mais tempo com elas, mais perto, e evitar tanto desgaste", relata.

Um militar chega apressado. Faz gesto de continência, cumprimentando o superior na entrada da cancela da rua, última divisa entre a área comum e o setor de trabalho. Do outro lado, o comandante ordena que coloque o capacete. "Da cancela pra lá, já é pra estar preparado", avisa, a voz de quem está habituado a disciplinar as tropas.

"O expediente começa aqui", diz o bombeiro recém-chegado. "A partir de agora, serão 12 horas batendo laje."

Dois jovens bombeiros se aproximam da zona de resgate. Admitidos na corporação há pouco tempo, não foram sequer nomeados, mas já fizeram o curso. Têm 23 e 24 anos. Um é de Acopiara e o outro, do Crato, municípios no interior do Ceará. "Chegamos na quarta-feira, um dia depois do acidente", fala um deles. "É a segunda vez que trabalhamos no resgate."

Antes de entrarem, o comandante lhes repete o que havia acabado de falar a outro militar. "Da cancela pra lá, só de capacete", sublinha.

Ao final do expediente, a bombeiro avança devagar. É uma das poucas mulheres a vestir a farda laranja, típica das equipes de salvamento. Embora não participe diretamente das buscas nos escombros, a militar cumpre a mesma carga horária de todos os demais: 12 horas de trabalho, coordenando pessoal e organizando escalas.

De saída para casa, trazia a filha de seis anos nos braços. Enquanto a mãe não terminava a jornada, a pequena Tatiana, que havia chegado da escola, a aguardava numa tenda. Agora voltavam depois de mais um dia vencido na peleja de encontrar as últimas vítimas do desastre do Edifício Andréa.

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