As manchas de petróleo cru chegaram aos principais destinos turísticos do Litoral Leste do Ceará. Ainda no final da tarde de ontem, mesmo com a retirada do material pela manhã da praia do Cumbe, em Aracati, o piche voltou a atracar no local. Pela primeira vez, desde o início do desastre ambiental, Fortim foi banhada pelo óleo. Em Icapuí, pescadores ancoraram as embarcações para, junto com o presidente do Instituto Municipal De Fiscalização E Licenciamento Ambiental (Imfla) e homens da Marinha do Brasil, retirar os resíduos espalhados por parte da costa do município, com 65 quilômetros de praia.
Em trabalho conjunto, o monitoramento das praias desses três municípios, mais o de Beberibe, também na região, é acionado por grupos de Whatsapp. Ao menor sinal de aparecimento das manchas, presidentes dos comitês criados para gerenciar a crise se destacam ao local indicado para averiguar a veracidade da informação. Foi assim em Icapuí, distante 205 km de Fortaleza, na praia de Melancia de Baixo e Melancia do Alto, onde ontem à tarde 40 kg de petróleo foram recolhidos em um trecho de quase 5 km.
Na praia Redonda, pingos do piche também apareceram. A pouca quantidade é suficiente para afligir Pedro Alves, 62, pescador desde os 12 anos. "A gente fica preocupado porque vai grudar nas embarcações. Até para trafegar e trabalhar é difícil", desabafa. Sem salário fixo, o senhor, pelo menos três vezes por semana, percorre um quilômetro de casa à praia para exercer o ofício 8 quilômetros mar adentro. Assim como ele, mais da metade da população de Icapuí sobrevive da pesca de lagosta e peixes. Estima-se 19 mil pessoas morando na região.
Em Aracati, a 147,5 km da capital cearense, as manchas atingiram pelo menos três praias: Canoa Quebrada, Marjolândia e Cumbe. A principal preocupação dos moradores é os impactos do óleo nas áreas de manguezais e na pesca artesanal. Membro de coletivos comunitários e residente há 40 anos em Canoa, o índio Oscar Della Santa, 64, diz que é impossível não sentir desespero ao ver a praia onde reside e a vida marinha ameaçadas.
"Nós estamos monitorando direto com carros e pescadores uma longa faixa de praia. Algumas manchas foram encontradas e retiradas pela força tarefa composta por autoridades e voluntários da comunidade que está permanentemente mobilizada", destaca Oscar sobre o trabalho de recolhimento do resíduos nas praias vizinhas de onde mora. Os moradores de Fortim, a 132,8 km de Fortaleza, também estão mobilizados.
Durante todo o dia de ontem, moradores, bugueiros, agentes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da cidade, bombeiros civis e homens da marinha fizeram buscas pelas praias. Quase 200 quilos de petróleo foram encontrados entre as falésias da praia de Pontal de Maceió. 50 pessoas participaram do recolhimento e ainda assim, após o procedimento, era possível identificar resquícios no local.
"Por ser um produto tóxico, a dificuldade foi tirar da pedra. Estivemos atentos a todos os equipamentos de proteção necessários. Também porque durante a temperatura alta, pode ter alguns gases", comenta o bombeiro civil Nason da Silva, após percorrer 15 quilômetros e verificar a foz do Rio jaguaribe, maior curso de água em território cearense, passando pelo Pontal do Maceió até o rio Piranji, no limite com o município de Beberibe.
A bugueira Edilane Pedreira, 36, destaca que o turismo dessa região é a fonte de renda para muitas famílias. Por isso, o empenho de tanta gente para retirar as manchas da areia da praia. "As pessoas sabendo disso não vão querer vir mais. Apesar de não ser muito, o pouco que tem amedronta. Se essa mancha continuar, o turismo vai cair". Segundo ela, 17 bugueiros estão credenciados na cidade, mas o número total de vagas é de 40.