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Seis advogados são suspeitos de envolvimento com facções criminosas
Reportagem

Seis advogados são suspeitos de envolvimento com facções criminosas

Ações policiais recentes jogam luz sobre atuações de advogados a serviço do tráfico de drogas. O POVO encontrou seis casos de advogados suspeitos de envolvimento com facções
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A prisão de uma advogada na última quarta-feira, 13, suspeita de atuar com tráfico de drogas e integrar organização criminosa, voltou a colocar em debate o relacionamento promíscuo de advogados com integrantes de facções criminosas. Após o início dos ataques orquestrados por uma facção criminosa em setembro último, órgãos de segurança pública do Estado passaram a afirmar que os advogados, assim como visitas, estão entre os meios encontrados pelos faccionados encarcerados para comunicação com o mundo exterior. Seria uma adaptação ao endurecimento adotado no sistema penitenciário desde o começo do ano e da consequente dificuldade de comunicação por meio de telefones celulares.

Levantamento de O POVO mostra que, pelo menos, seis advogados são suspeitos da prática, desde o começo do ano. O envolvimento de advogados com o crime organizado, porém, vem desde a expansão das facções criminosas no Ceará, em meados de 2015. Mensagens apreendidas nas investigações apontam que alguns são suspeitos de participar do planejamento de fugas, negociações do tráfico de drogas e até atos de violência física.

O caso de Elisângela Maria Mororó, de 46 anos, presa em flagrante na última quarta-feira, 13, é um deles. Ela foi detida com dois homens, apontados como integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), em Catarina, a 366 quilômetros de Fortaleza. Com o trio, a Polícia encontrou quase meio quilo de cocaína e uma pistola .40. Elisângela era considerada foragida da Justiça há cerca de um mês, quando mandado de prisão preventiva havia sido expedido contra ela.

Em 16 de setembro, a advogada havia sido flagrada com bilhetes em pleno Centro de Detenção Provisória (CDP) após visitar homens apontados como lideranças de uma facção. Ao seu lado, estava o também advogado Alberto Lucas Nogueira Lima. Conforme o delegado Alisson Gomes, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), o conteúdo das mensagens dizia respeito a um ousado plano de fuga. Com réplicas do fardamento e da viatura da Polícia Federal, integrantes da Guardiões do Estado (GDE) resgatariam Francisco de Assis Fernandes da Silva, o Barrinha, e Francisco Tiago Alves do Nascimento, o Tiago Magão, dois homens apontados como integrantes do "Conselho Final" da facção. Edgly Dutra Barbosa, o Dudeca, preso em 3 de novembro último em Rondônia, é outra importante liderança da GDE relacionada pela Draco a Elisângela. Conforme o delegado, a advogada intermediava a negociação de 40 quilos de cocaína entre Dudeca e outros homens não identificados. A conversa teria ocorrido em dezembro de 2018, através de mensagens de celular.

Comentando a prisão de Elisângela na última quinta-feira, 14, o delegado Klever Farias, também da Draco, ressaltou que os advogados criminosos são uma "pequena parcela" da classe. "Eles saem da condição de advogados para integrar uma facção criminosa. Não estamos em nenhum momento querendo atingir a classe, essencial à Justiça. Queremos extirpar da sociedade esses criminosos que se utilizam dessas profissões para praticar crimes", ponderou.

Elisângela teve registro suspenso por 12 meses pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Seção Ceará. O POVO procurou o Tribunal de Ética e Disciplina da entidade para saber quantos profissionais respondem processos por envolvimento com organizações criminosas. A OAB-CE informou que os procedimentos são sigilosos e que o levantamento poderia colocar os inscritos da entidade "sob suspeição" (Com informações de Cláudio Ribeiro e Laís Oliveira/Especial para O POVO).

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As acusações

Elisângela Maria Mororó

Acusada de repassar mensagens com detalhes sobre um plano de fuga de chefes de uma facção criminosa. Além disso, mensagens apontariam que ela intermediou uma negociação de 40 quilos de cocaína com outro chefe da facção. Foi presa em flagrante, ao lado de integrantes de uma outra facção, com pistola e drogas. O processo que apura as acusações contra ela transcorre em segredo de justiça.

Alberto Lucas Nogueira Lima

Flagrado ao lado de Elisângela Mororó com bilhetes que continham detalhes de um plano de fuga de chefes de uma facção criminosa. Ainda se encontra foragido. O processo transcorre em segredo de justiça.

Alaor Patrício Júnior

Preso com diversos bilhetes após visita, em uma unidade prisional, a homens apontados como graduados integrantes de uma facção criminosa. Nas mensagens constavam orientações sobre contabilidade do tráfico de drogas, represália a desafetos e até um plano de fuga. Ele foi posto em liberdade, mas segue suspenso pela OAB.

Lucas Arruda Rolim

Advogado chegou a ser preso em flagrante, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão em sua casa, em 16 de outubro. Policiais da Draco encontraram bilhetes e outros papéis que o vinculariam a organização criminosa. No entanto, ele teve habeas corpus concedido após a Justiça entender que a prisão fora ilegal. "O Delegado ao apreender objetos ou documentos relacionados a supostos crimes, deveria remetê-los ao juízo da mencionada Comarca de Maranguape, quando seriam devidamente analisados", diz a decisão. O processo transcorre em segredo de justiça.

Rafael Paulino Pinto Neto

Teve prisão preventiva decretada em 10 de outubro, acusado dos crimes de integrar organização criminosa e tráfico de drogas. O processo também transcorre em segredo de justiça.

Não identificado

Em março último, quatro pessoas foram presas em flagrante suspeitas de tráfico de drogas no bairro Bom Jardim. Com um deles, foram encontrados R$ 25 mil, uma mensagem na tampa de uma marmita e uma carta que aparentavam ter sido escritas por algum presidiário. Uma das pessoas presas relatou que as mensagens foram repassadas por um advogado. O texto falava, justamente, sobre a entrega do dinheiro a um integrante do Comando Vermelho do bairro Maraponga. Além disso, continha instruções sobre o tráfico, como menções a "23 quilo do branco". O POVO opta por não divulgar o nome do advogado por não ter encontrado acusação formal contra ele.

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