Estado que mais testa para coronavírus no Brasil, o Ceará realizou o exame em apenas 1,02% da população. Foram realizados 93.466 exames até ontem, 29, conforme atualização da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). A liderança cearense na testagem indica, na verdade, que os outros estados testam muito menos do que deveriam, visto que o índice de testagem nacional é muito aquém da taxa indicada por pesquisadores. A testagem é dos principais indicadores para embasar políticas públicas de enfrentamento à pandemia. Como os exames são realizados, em sua maioria, em pacientes com sintomas graves, a subnotificação é grande e preocupante, alertam especialistas.
"A falta de testes não nos dá um bom cenário", principalmente considerando que a maioria das pessoas testadas são as já internadas e com sintomas graves, destaca Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Covid-19 Brasil, que acompanha a evolução da pandemia no País. "A verdadeira chama da contaminação são as pessoas com sintomas leves, em torno de 30%, e as assintomáticas, que são 55%. 85% da população infectada e transmitindo não está sujeita a teste", analisa. Há uma subnotificação generalizada no Brasil, conforme Domingos.
"Se fosse (testada) 1% fora os pacientes que estão internados ou com sintomas graves, que seriam isolados naturalmente, seria bom. Se fosse 0,5% em pessoas com sintomas leves ou assintomáticos já seria ótimo", detalha. A testagem deve ocorrer de maneira ampla e constante, como medida de acompanhamento.
Conforme Alessandro Farias, pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o resultado da testagem deve ser a base para qualquer decisão no atual contexto de pandemia. "Qualquer decisão governamental de abrir ou fechar ou mesmo decisões internas das unidades hospitalares precisam se basear no teste. Como a gente não está testando, a gente está simplesmente na sorte. É temerário abrir (o isolamento) sem ter nenhum dado", avalia o chefe do Departamento de Genética, Evolução, Microbiologia e Imunologia e coordenador da Frente de Diagnósticos da Força-Tarefa da Unicamp contra a Covid-19.
A maioria dos exames realizados no Ceará é do tipo RT-PCR, com 55.423 testes (59,31% do total). Em seguida vem os testes rápidos, com 35.231 exames (37,7%). Foram feitos ainda 2.797 exames sorológicos (2,99%). Os dados são do IntegraSUS, a partir de informações do e-uSUS Vigilância Epidemiológica (e-SUS VE) e do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL) — sistemas de notificação do Ministério da Saúde, além de unidades privadas..
O método RT-PCR é o ideal para o diagnóstico na fase atual da disseminação pois identifica o material genético do vírus e tem grande sensibilidade. A janela imunológica (período entre o dia em que o paciente é contaminado e o dia em que testa) é muito pequena, entre um e três dias, conforme Alessandro. O teste rápido, assim como o sorológico, identifica o anticorpo produzido pelo paciente. Deve ser feito com, no mínimo, sete dias do início dos sintomas, sendo ideal entre 10 e 15 dias. "Os países que mais testaram, como a Alemanha, testaram até 150 pessoas a cada 100 mil habitantes. O ideal é testar todo mundo e várias vezes. O ideal era testar profissionais de saúde, por exemplo, toda semana mesmo sem sintomas", afirma.
Em Fortaleza, a Secretaria Municipal da Saúde informou que "prioriza a realização de testes de Covid-19 (rápido ou swab) em pacientes com síndrome gripal com quadro indicativo para internação". "Nos demais casos é realizado o acompanhamento do paciente conforme critérios clínicos epidemiológicos. Vale ressaltar que o exame é realizado em todos os profissionais da saúde que apresentem sintomas de síndromes gripais".
Começa na segunda-feira, 1º de junho, a fase de teste da reabertura gradual das atividades em Fortaleza. Ontem, o Estado chegou a 38.395 casos da doença, do IntegraSUS, às 17h53min. Foram 441 novos casos foram contabilizados. Em relação às mortes, foram 2.859 óbitos pela Covid-19 registrados, sendo 126 em 24 horas. Balanço aponta ainda que 25.858 pessoas já se recuperaram da doença no Ceará e 46.727 casos seguem em investigação no Estado. Fortaleza é o município com o maior número de confirmações da patologia, com 21.705 casos e 1.877 óbitos.