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Migrantes e refugiados veem desafios aumentar durante a pandemia
Reportagem

Migrantes e refugiados veem desafios aumentar durante a pandemia

Deslocados de seus países, muitos perderam sua fonte de renda depois da chegada do novo coronavírus. Além de racismo e xenofobia, famílias enfrentam dificuldades para se alimentar e a manter a casa
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GUINEENSE Samuel Mendes, 30, estudante de Direito e desempregado há um ano:
Foto: Aurelio Alves/ O POVO GUINEENSE Samuel Mendes, 30, estudante de Direito e desempregado há um ano: "Com a pandemia ficou mais difícil"

Se a situação de pandemia é de extrema gravidade para os que estão em seus países de origem, o que dizer da população migrante e refugiada? É o que questiona Idalina Pellegrini, coordenadora da Pastoral do Migrante na Capital, umas das organizações de referência na acolhida e acompanhamento dessas populações. "Deslocados de seus países, de seus familiares e amigos, muitos perderam o trabalho e passaram a não poder pagar pelo seu alimento, pelo aluguel e pela conta de energia", relata.

De acordo com o Sistema Nacional de Registro Migratório (SisMigra), entre 2010 e 2018, a Capital recebeu 408 pedidos de refúgio e 5.516 migrantes. Entre eles está o guineense Samuel Mendes, que veio para o Brasil há dez anos em busca de uma graduação. Aos 30, ele mora sozinho no Centro e está desempregado desde maio de 2019. "Eu dependo só de mim para me manter e custear a faculdade. Estava só com o seguro-desemprego; com a pandemia ficou mais difícil", conta o estudante de Direito. "Já deixei de pagar algumas contas, estou com dificuldades de pagar a mensalidade do curso e o pouco dinheiro que tenho estou usando só para alimentação."

Também de Guiné-Bissau, Samuel Soares chegou em 2009 e pouco depois precisou solicitar refúgio. "Vim com o sonho de formação acadêmica. Por dificuldades financeiras, tive de abandonar a faculdade. Comecei a trabalhar em uma obra e fui fazer o Curso Técnico de Enfermagem. Consegui uma vaga em um hospital e regressei à faculdade", conta ele, que desde 2016 trabalha como enfermeiro e tem mestrado na área.

Naturalizado brasileiro, Samuel permanece como presidente da Associação dos Estudantes da Guiné-Bissau no Ceará, "no desafio de acolher outros migrantes e enfrentar questões do cotidiano, como racismo e xenofobia". Junto com a Pastoral do Migrante, o grupo lançou uma plataforma para cadastrar imigrantes em situação de maior vulnerabilidade. "Foram mais de 600 cadastros, de toda nacionalidade, e entre as primeiras necessidades estavam alimentação, produtos de higiene e auxílio aluguel", enumera. Desde então, cerca de mil cestas básicas foram entregues a 409 famílias, entre residentes em Fortaleza e em Redenção.

Raimundo Domingo Freire, cujo pai era um maranhense que se exilou do governo de Getúlio de Vargas em 1948, chegou da Venezuela há dois anos e oito meses. Aos 59 anos na época, Raimundo veio junto de um de seus filhos pedindo refúgio da situação política e social do país vizinho. Agora, no grupo de risco para a Covid-19, ele não pode continuar vendendo sonhos recheados e fazendo consertos eletrodomésticos. "Consegui ter acesso ao auxílio emergencial, mas meu filho não. Então, como é jovem, tem 31 anos, ele precisa sair e fazer os bicos que aparecem."

Os dois vivem um quarto na casa de um amigo e contam com ajudas voluntárias para completar alimentação e pagamento de contas. "Todo mundo sofre quando separa da família. Sempre ficamos aqui pensando nas dificuldades de quem ficou. Com a pandemia tudo fica mais triste; não podemos mandar tanto dinheiro quanto antes", expõe Raimundo. Ele conta que tem aproveitado o tempo em casa para fazer cursos online e buscar emprego formal. "A melhor ajuda que a gente pode ter é indicação para trabalho", afirma.

Idalina ressalta que em Fortaleza "não é muito diferente da situação de migrantes pelo mundo". "É uma população que vive da auto-organização, da assistência de instituições filantrópicas e de cidadãos que se disponibilizam em apoiar questões mais especializadas, como da área jurídica", afirma. "Não há uma política sistematizada que possa assegurar o acesso dessas pessoas à saúde, à segurança social e à estabilidade no emprego e na habitação, em tempos de crise ou não", lamenta a missionária. A Pastoral solicitou a inclusão dessas pessoas no Programa de Tarifa Social de Energia Elétrica e aguarda o atendimento da solicitação.

 

20 de junho

Desde 2001, a data é lembrada como o Dia Mundial do Refugiado. Aquele ano marcou o 50º aniversário da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados. A data lembra os desafios globais para a acolhida e integração dessas populações, além de alertar para as causas dos deslocamentos forçados

Atendimento por WhatsApp

Programa Estadual de Atenção ao Migrante, Refugiado e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas

Contato: (85) 98439.3462

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