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Professores são demitidos após acusação de assédio
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Professores são demitidos após acusação de assédio

Docentes foram desligados pela direção de escolas em Fortaleza por causa de denúncias de adolescentes publicadas nas redes sociais
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O que fazer - divulgacao nao autorizada de conteudo in timo na internet (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta O que fazer - divulgacao nao autorizada de conteudo in timo na internet

De acordo com apuração feita pelo O POVO, pelo menos 11 professores, coordenadores e estagiários foram demitidos de terça para quarta-feira em Fortaleza, após denúncias de assédios a adolescentes, vazamento de fotos e vídeos íntimos e até casos de estupro relatados por meio da hashtag #exposedfortal partilhada intensamente nas redes sociais Instagram e Twitter há dois dias. Além dos demitidos, pelo menos mais dois suspeitos teriam sido afastados temporariamente. Três escolas procuradas pela reportagem tomaram a iniciativa.

"Fizemos a demissão dos professores na terça-feira mesmo. Além de três que já eram do quadro de funcionários, demitimos mais um que veio de outra escola e tinha sido aprovado no processo seletivo recentemente", afirmou o vice-diretor de uma escola particular. O POVO não publica o nome das instituições porque não há denúncias diretamente contra elas e para preservar a identidade das alunas.

"Começamos a receber muitas mensagens e depois decidimos fazer os desligamentos desses professores por videochamada na noite de terça. Eles não admitiram, mas se disseram muito preocupados. A maioria disse que era melhor assim (sobre a demissão). Dessa forma, penso que eles confessam, achando melhor o desligamento. Não conseguimos localizar, nos relatos que recebemos, o nome do professor que entrou recentemente, mas alguns pais nos ligaram e nos alertaram de denúncias antigas sobre ele nas escolas onde os filhos estudaram. Agora, está nas mãos da polícia", diz.

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O vice-diretor afirma ainda que os diretores e coordenadores de escolas particulares estão conversando entre si. "Alguns (dos casos) a gente sabe que aconteceu, tanto os nossos quanto os de fora", diz. No entanto, ele também faz alerta em relação a falsas denúncias: "por exemplo, vi uma aluna relatando um problema de outra ordem que ela teve com o professor, mas que ela estava colocando como se tivesse sido assédio".

A reportagem entrou em contato com duas alunas e colheu narrativas que falam não somente de assédio, tentativa de estupro e outros crimes cometidos por ex-namorados, mas também dos mesmos tipos de delitos cometidos no ambiente escolar ou pela internet, tendo como protagonistas alguns de seus professores.

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Em respeito ao que estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), O POVO não divulga nomes das menores de idades nem dos denunciados.

"Um professor saiu de um colégio porque mandou mensagens de conteúdo sexual para uma aluna e insinuou que mandaria um nude (foto ou vídeo com imagens íntimas) para ela. A escola soube mas não o demitiu, apenas o convidou a se retirar. Ele saiu e foi para outra escola", afirma uma adolescente. "Hoje ele avisou para a turma que estava sendo afastado temporariamente até que a escola junte mais casos para demiti-lo de vez", disse.

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Outra adolescente entrou em contato por meio de mensagem com o professor que a assediou, dizendo: "com todo esse #exposedfortal, fiquei com muita vontade de expor o que aconteceu naquela época, que você disse que estava excitado com minhas fotos e me mandou um vídeo (...). Eu realmente queria te expor, tenho print e tudo, mas eu não vou. Eu realmente espero que você não faça isso com mais ninguém!". O docente, que também leciona em cursos preparatórios conhecidos na cidade, respondeu: "obrigado e garanto que não aconteceu mais e nem vai acontecer...foi uma brincadeira infeliz e já me desculpei na hora com você".

A Polícia Civil do Estado do Ceará (PCCE) informou por meio de nota que "a Delegacia de Combate à Exploração da Criança e do Adolescente (Dceca) segue em diligências sobre os casos noticiados e realizou algumas oitivas de pessoas envolvidas e segue com as apurações em andamento. Ressalta ainda que as informações que chegaram ao conhecimento da Dceca vão de crimes de ação penal pública incondicionada, que tratam de pessoas que tiveram fotos íntimas expostas sem o seu consentimento, até crimes passíveis de representação por parte da vítima, como é o caso de ameaças. É importante deixar claro que nesse momento, independente de registro do BO, a Dceca apura a conduta de um grupo, que teria divulgado material pornográfico sem autorização das vítimas. As demais denúncias, que incluem ameaça, difamação e calúnia, a PCCE só conseguirá dar continuidade aos trabalhos policiais se houver o registro do fato por meio da Delegacia Eletrônica (Deletron) ou presencialmente em uma delegacia da Polícia Civil".

Ouça o podcast Recorte:

Sobral e Cariri concentram relatos de abusos no Interior

No começo deste mês, outra hashtag expôs o mesmo crime de abuso sexual nas redes sociais. A #exposedcariri expunha na rede social Twitter os crimes de importunação sexual, assédio sexual e estupro de vulnerável no município. 

A 12ª Promotoria de Justiça de Juazeiro do Norte instaurou um procedimento extrajudicial para apurar casos de abuso sexual sofridos por alunas em cinco escolas e uma universidade em Juazeiro do Norte e Crato, sendo as instituições públicas e privadas. Os abusos teriam sido cometidos por professores e funcionários. O caso ainda está em investigação.

Durante boa parte do dia de ontem, no entanto, o município que esteve em destaque nas redes sociais foi Sobral, como um dos assuntos mais falados do momento no Brasil. A hashtag #exposedsobral mostrava, além dos relatos, uma lista com 48 professores que eram acusados de importunação e assédio sexual, assédio verbal, estupro, pedofilia, vazamento de "nudes" (fotos íntimas) e relacionamento abusivo.

Uma adolescente, aluna de uma escola particular em Sobral, afirma ter sido abusada por um colega de colégio um ano mais velho e acha a situação menos constrangedora do que a das amigas, que passaram pela mesma situação, mas com professores. "Eles (os professores) já são conhecidos de outras escolas que trabalhavam, mas as denúncias de alunas nunca deram em nada", diz.

Segundo a menina, muitas outras passam pelo abuso mas não têm coragem de denunciar. "Acho que o pior daqui de Sobral é que alguns garotos são de famílias influentes e acaba se tornando perigoso (denunciar)". 

O secretário da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, afirmou ontem que a Polícia Civil irá apurar as denúncias de crimes sexuais ocorridos em Sobral. "Também estamos atentos ao #exposedsobral e #exposedcariri. Vamos apurar as denúncias. São crimes inaceitáveis e que marcam para sempre a vida dessas garotas", publicou em rede social.

"Como o 'exposed' não se restringe apenas a Fortaleza mas também já aconteceu no Cariri e agora está em todo o estado, a presidente da Comissão da Mulher Advogada da OAB/CE, Christiane Leitão, está reunindo todas as representantes da comissão da Mulher Advogada no Ceará para fazer uma nota e ver como atuar em relação ao caso", afirmou a assessoria da Ordem dos Advogados do Brasil Secção Ceará. (Flávia Oliveira)

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O uso de uma palavra-chave antecedida pelo símbolo # nas redes sociais funciona como um agrupador de conteúdo postado por diversos usuários. A ferramenta dá volume e mais visibilidade ao que é compartilhado.

 

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