Fazer a feira em Fortaleza ficou 5,89% mais caro mesmo durante a pandemia. A inflação de alimentos e bebidas, medida pelo Índice de Preços para o Consumidor Amplo (IPCA), saltou de 3,43% para 5,89%, de janeiro a julho deste ano ante igual período em 2019. A pressão no orçamento familiar chega mais forte, principalmente, aos mais pobres, que destinam grande parte da renda para consumir itens da cesta básica. A inflação acelerou 71% de janeiro a julho.
Na avaliação de economistas, a principal vilã dessa equação tem sido a taxa de câmbio flutuante, trazendo impactos diretos e indiretos. Além de muitos produtos serem dolarizados, os insumos usados para o plantio também são, por exemplo, o adubo. Outro fator é que a desvalorização do real gera uma fuga dos itens no mercado interno, sendo mais vantajoso para os produtores a venda no Exterior. Esse movimento diminui a oferta local e o custo sobe.
Isso tem ocorrido com a carne bovina e soja, exportadas para a China. O reajuste do preço dos combustíveis também impacta na logística e chega à ponta. O economista Alex Araújo explica que, além desses aspectos, a sazonalidade do clima e a entressafra agrícola faz com que os produtos de hortifrúti (hortas, frutas, legumes, hortaliças etc) encareçam. E acrescenta que a perspectiva é de inflação elevada também para os próximos meses.
"A tendência é de alta. Até porque existe um aumento que chega ao lojista, mas ainda não foi repassado devido à pandemia. Mas, na medida em que o consumo crescer, a subida chegará à sociedade", avalia. "É o que ocorre com o mercado de automóveis, por exemplo, que disparou 5%", diz.
O vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), Wilton Daher, reitera. "Se a inflação tomar um ritmo mais avançado, teremos um impacto nas camadas menos favorecidas, que dependem muito do preço da cesta básica. São pessoas desprotegidas e que mais vão sofrer com os aumentos da alimentação", avalia.
Neste mês, por exemplo, o valor do arroz inflou e chegou a ficar 80% mais caro em alguns supermercados. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a pedir "patriotismo" aos empresários para segurar o custo dos itens da cesta básica.
O supermercadista e diretor de Patrimônios da Associação Cearense de Supermercados (Acesu-CE), Engel Rocha, pondera que os varejistas não têm controle inflacionário e que os preços dependem de toda a cadeia produtiva. "Para diminuir o peso, precisaríamos de uma reforma tributária e administrativa, pois a carga de impostos é grande", observa.
Fora do lar, a alimentação também está mais cara e tem prejudicado a retomada do setor. "Não foi algo que nos pegou de surpresa, mas estamos sentindo bastante. Da cerveja ao queijo muçarela, que subiu 70% e tem sido complicado para as pizzarias, as elevações estão preocupando", aponta o diretor-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-CE), Taiene Righetto.
"Ainda não voltamos 100% e o movimento está baixo, não há condições de absorver esse preço, que precisará ser repassado ao consumidor. A consequência será a diminuição ainda maior do fluxo", lamenta.
Impacto da alta no preço dos alimentos na Ceasa
O analista de mercado da Ceasa/CE, Odálio Girão, explica que houve elevações de alguns itens em razão da entressafra agrícola. O quilo do feijão verde subiu de R$ 8 para R$ 10. Já o quilo do arroz passou de R$ 3,30 para R$ 4,40, no atacado. "Produto e distribuidores passaram esses meses se equilibrando em meio à economia estagnada, e o que tinha em estoque estava dando uma equilibrada. Creio que esses preços continuarão equilibrados até o fim de setembro e, quem sabe, ficarem assim também em outubro", diz.