Em momentos de crise econômica e desemprego em alta, o empreendedorismo parece ser a melhor para os trabalhadores. Mas, as dificuldades em gerir um negócio são muitas. Tanto que, no Brasil, inúmeros empreendimentos fecham as portas antes de completar dois anos de atividade. Uma saída encontrada por empreendedores têm sido as microfranquias, que geralmente não requerem grandes investimentos.
Uma viagem a São Paulo para visitar a família permitiu que Matheus Pfaender conhecesse a Bubblekill (BBK), franquia da marca especializada bubble tea (em inglês, "chá de bolhas"), bebidas coloridas com bolinhas mastigáveis. Originária de Taiwan, a marca ficou famosa na Europa e chegou ao Brasil em janeiro de 2017, vendendo, após dois anos de operação, cerca de 20 mil copos por mês na unidade matriz, no bairro da Liberdade.
Foi o que bastou para Matheus. Investiu R$ 50 mil no pagamento da taxa de franquia para iniciar a montagem de um quiosque de dois metros de largura por três metros de comprimento, no shopping RioMar Fortaleza, se tornando a primeira franquia da Bubblekill no Nordeste, há quase três anos.
O processo de evolução do negócio até recuperar o investimento não foi tão rápido, diz Matheus. Muito pelo investimento extra em equipamentos. Ele se orgulha de ter sugerido uma nova opção no cardápio, "brasileirando" um pouco as opções. Sobre essa inovação, agora presente nos cardápios de todas as franquias no mundo, diz que o modelo de franquia dificulta novidades, mas a BBK tem uma vantagem.
"Franquias se prendem muito ao modelo de negócio já pronto. Mas, por a BBK ser muito nova ainda, estava se adaptando ao mercado. E fomos nos encaixando ao gosto local", observa.
Após quase três anos de mercado, ele conta que o processo de consolidação tem sido gradual e foi acelerado com as redes sociais. Matheus recebe relatos de clientes que afirmam ir ao shopping só pra consumir seu produto. Hoje, o quiosque conta com três funcionários e já houve proposta para instalar quiosque em outro shopping da Capital.
Segundo dados do Portal do Franchising, maior site especializado do setor, e divulgado pela Associação Brasileira de Franchising (ABF), a busca pelo termo "microfranquias" cresceu 14% entre maio e julho, na comparação com os três meses anteriores. Isso mostra um crescimento no interesse do público em empreender durante a crise em opções de menor valor, mas com maior segurança de retorno como as franquias.
A assessora executiva do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae-CE), Alice Mesquita, comenta que, quando o empreendedor parte para a franquia, é porque leva em consideração a marca atrelada e a segurança que isso dá aos consumidores.
"Geralmente, as franquias vêm num modelo de faturamento pré-definido. Na hora de montar uma franquia, é preciso ter segurança na decisão, pois é preciso seguir as regras do franqueador", diz. Ela acrescenta ainda que o que diferencia as franquias de marcas reconhecidas de lançar o próprio negócio sem grande visibilidade inicial é a vantagem do produto testado e reconhecido.
"Na franquia, não existem as dúvidas que existem em negócios próprios sobre o quanto investir, o quanto trabalhar no negócio", acrescenta.
A diretora de microfranquias da ABF, Adriana Auriemo, afirma que, em momentos de dificuldade econômica, o mercado de franquias sempre recebeu muitos empreendedores buscando alternativa de renda, o chamado empreendedorismo por necessidade. Com a pandemia, esse movimento só cresceu e as microfranquias foram os principais alvos.
"Temos dois perfis principais: os profissionais que perderam o emprego e, com o dinheiro da rescisão, decidem investir. E pequenos empresários que aproveitam a queda dos preços dos aluguéis e a baixa dos juros para abrir novas frentes. Em menor quantidade, temos ainda franqueados que expandem suas operações e investidores em busca de diversificação de seus ativos", analisa.
Sobre a Bubbles
Na Bubblekill Fortaleza (BBK), os clientes podem escolher entre mais de 1 mil combinações para preparar a bebida. A segunda etapa consiste na seleção da frutose (que dá sabor mais forte) e das bolinhas que explodem na boca, feitas de suco e envoltas por ágar-ágar, uma gelatina de origem vegetal.
Microfranquias em regime de home office são tendência
Quando Viviane Frota, fonoaudióloga por formação, conheceu o mundo das microfranquias há dois anos, tinha recursos para investir e procurava uma oportunidade e estava aberta a aprender um novo negócio. A proposta para se tornar uma franqueada da Doutor Sofá, com exclusividade de atuação em Fortaleza, chamou sua atenção.
Ela recebeu a proposta e se interessou pelo suporte técnico oferecido, além de equipamentos, fardamento e treinamento para iniciar o atendimento de limpeza especializada em estofados. Para aceitar a proposta, porém, pesquisou muito. "Eles dão a possibilidade de entrar em contato com outros franqueados. Há toda uma rede de apoio".
"A franquia custou R$ 50 mil por contrato de cinco anos e pagamento de royalties. Para iniciar, eles enviam a máquina para lavagem, produtos de limpeza, caixas, fardas, pulverizadores", explica.
Originária de Joinville-SC, a Doutor Sofá franqueada em Fortaleza tem duas equipes e realiza oito atendimentos por dia. A central oferece facilidades, como marketing nas redes sociais e suporte ao cliente. O preço do serviço varia a partir do orçamento, mas a lavagem e impermeabilização custa no mínimo R$ 100.
O trabalho em home office é outro diferencial. Vivane não tem gastos com ponto físico, algo que potencializa o retorno financeiro, que, segundo ela, é crescente desde o início da operação. "Às vezes, os clientes perguntam sobre escritório fixo, mas explicamos o funcionamento. Não existe problema".