A contagem de votos cédula a cédula nos Estados Unidos favoreceu o agora presidente eleito do país, Joe Biden. O democrata, ex-vice-presidente de Barack Obama, superou na tarde deste sábado, 7, os 270 delegados necessários no Colégio Eleitoral para eleger-se. Após mais de 72 horas de apuração, com viradas e ações judiciais de Donald Trump em curso, Biden foi declarado vencedor juntamente com sua vice, a senadora Kamala Harris, que será a primeira mulher e negra a ocupar o cargo.
Além de histórica, pelo contexto de polarização e acirramento no qual ocorre, a eleição da chapa Biden-Harris é simbólica. Ao tomar posse no próximo dia 20 de janeiro, Biden se tornará o 46º presidente dos EUA, o gestor mais velho a assumir o cargo, com 78 anos (ele já era o senador mais jovem a ter ganho uma eleição) e a pessoa mais votada na história americana com mais de 74 milhões de votos.
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Já a vice-presidente eleita, Kamala Harris, é filha de imigrantes da Índia e da Jamaica; A primeira mulher, negra e pessoa com ascendência asiática a ocupar o cargo catapultou a campanha para um feito que, devido ao sistema eleitoral, faz com que seja difícil que um presidente no poder não garanta a reeleição. Donald Trump tornou-se apenas o quarto na história a não conseguir o feito.
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A vitória de Biden é uma vitória do estilo moderado e sugere o início do desgaste da onda populista, revisionista e agressiva vista nos últimos anos tanto nos EUA quanto em outros países do mundo. A Pensilvânia foi o estado que definiu o pleito e o terceiro do chamado "Cinturão da Ferrugem", onde Trump venceu em 2016, que virou para Biden neste ano. Os milhares de votos por correio dos democratas ajudaram Biden a virar estados-chave onde Trump liderava no fim da primeira noite de apuração. Jovens, mulheres e a comunidade negra fizeram a diferença para a chapa vencedora. Os votos que selaram o resultado vieram da cidade da Filadélfia, onde, há mais de 200 anos, foi escrita a Constituição dos EUA. Biden fez 16 viagens ao estado da Pensilvânia, onde está a cidade, durante sua campanha. Desde 2008, o candidato a presidente que vence na Pensilvânia termina eleito. As projeções também indicam vitória de Biden em Nevada e lideranças na Geórgia, onde um democrata não ganha há 28 anos, e no Arizona, onde os democratas não sabem o que é vencer há 24 anos.
Após a vitória, os democratas foram ao Twitter: "América, estou honrado por ter me escolhido para liderar nosso grande país. O trabalho que temos pela frente será árduo, mas prometo o seguinte: serei um presidente para todos os americanos", escreveu Biden. Na mesma plataforma, Harris postou vídeo no qual telefonava para o colega: "Nós conseguimos, Joe. Você será o próximo presidente".
A lista de desafios é grande. O mais urgente deles, a pandemia do coronavírus, segue avassalador. Com registros de mais de 100 mil casos por dia nos EUA, o cenário de crise deve perdurar; possivelmente influenciando no planejamento da economia americana para os próximos meses, questão que reverbera em outros cantos do mundo. Já nas relações internacionais, Biden optará pelo retorno do multilateralismo e pela reaproximação com aliados históricos da Europa e com organizações e acordos internacionais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o acordo climático de Paris.
Internamente, os democratas terão que dar uma resposta rápida ao eleitorado negro, que virou o jogo em cidades e condados importantes nesta eleição, em relação às questões de igualdade racial e de violência policial contra sua comunidade. Biden não é a favor da eliminação de Departamentos de Polícia, mas prega que haja um trabalho em conjunto com assistentes sociais e psicólogos no treinamento dos agentes ou até mesmo em ações conjuntas para evitar que abordagens tornem-se casos de homicídio como o do afro-americano George Floyd, no estado de Minnesota, em março deste ano.