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Pós-vacinação: a retomada do turismo
Reportagem

Pós-vacinação: a retomada do turismo

Setor é um dos mais impactados na crise gerada pela pandemia. Viagens locais têm ajudado, mas expectativa é que vacinação avance no mundo, fronteiras sejam reabertas e o turismo internacional retorne
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Um dos atrativos de Fortaleza são as praias (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Um dos atrativos de Fortaleza são as praias

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, os setores da economia, especialmente os mais afetados, aguardavam com muito entusiasmo pelo início da vacinação para que as atividades econômicas pudessem ser retomadas sem 'poréns'. A cadeia do turismo, uma das mais prejudicadas, agora, com o início da imunização, faz perspectivas de crescimento.

Cadeia econômica das mais capilares da economia, o setor abrange mais de 100 atividades profissionais, movimentando comércio e serviços. A diversidade é tamanha que movimenta desde as grandes companhias aéreas internacionais, até o vendedor de produtos típicos, do formal ao informal.

E o atual contexto da área do turismo é de desemprego e quebras de empreendimentos, gerando queixas contra a falta de ações mais enérgicas para garantir o saneamento financeiro. Régis Medeiros, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Ceará (ABIH-CE), destaca que a hotelaria fechou durante todo início da pandemia por causa da falta de hóspedes. Após o lockdown retornou, mas com demandas bem abaixo do histórico. 

Abalados ainda mais pela não realização das festividades de fim de ano e o recente cancelamento do Carnaval, projetam ocupação próxima de 20% em fevereiro, sendo que o normal de anos anteriores, mesmo em baixa temporada, seria de 45%. "Não podemos deixar de pagar nada, precisamos de apoio e fôlego. Setor de eventos que é um elo fundamental para o turismo está parado há um ano. Precisamos de apoio financeiro, de crédito", complementa Régis.

Se a situação está ruim, poderia ser pior caso o turismo nacional estivesse desaquecido. Com o fechamento de fronteiras, a oferta de voos regionais aumentou. A Azul Linhas Aéreas, por exemplo, incrementou a oferta de frequências no Ceará, além da Capital, e já atende Jericoacoara e Aracati com voos diretos vindos de grandes centros urbanos nacionais.

A Civitatis, empresa especializada em atividades e passeios turísticos pelo mundo, revela que a compra de passeios nacionais por viajantes brasileiros aumentou 120% ao longo de 2020, e continua em alta neste ano. E, com a retomada na confiança em viajar, visto o esforço do setor turístico em atender as especificações sanitárias, esperam expansão.

Um dos atrativos de Fortaleza são as praias
Um dos atrativos de Fortaleza são as praias (Foto: FCO FONTENELE)

Alberto Gutiérrez Pascual, CEO e fundador da Civitatis, destaca que uma pesquisa feita pela companhia, na Espanha, revela que 70% dos entrevistados nunca haviam feito esse turismo em localidades próximas das cidades onde moram. Ele destaca que a realidade é parecida em todo o mundo. "Mais impressionante, a grande maioria (86%) dos que resolveram conhecer melhor seu local de residência diz ter superado suas expectativas com os passeios. Esta é uma tendência que vemos em todo o mundo, nos mais de 135 países em que atuamos."

Para o professor de Economia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Agostinho Pascalicchio, enquanto o processo de vacinação no Brasil e no mundo caminham, o turismo nacional deve continuar em evidência. Para ele, 2021 deve ser um ano de reestruturação, em que o setor vai buscar se reaparelhar para que no ano que vem colham os frutos.

Pascalicchio ainda defende que a representação do turismo na geração de riquezas do País tende a ser maior. A inventividade entre os segmentos no período de crise cresceu, projetos governamentais de fortalecimento da atividade (inclusive os planos de desenvolvimento do turismo interno) e a digitalização de muitos processos farão com que o setor saia fortalecido.

"Existe uma demanda reprimida por turismo e lazer que já não vem de agora. A participação futura do turismo no PIB (Produto Interno Bruto) deve ser maior do que era antes da pandemia. Consideramos ainda 2021 como o ano da vacinação, mas a partir do começo do ano que vem o setor deve deslanchar de fato com desempenho marcante na economia brasileira", analisa.

O professor da Mackenzie acrescenta que o ritmo de vacinação mundial será determinante para o turismo, em especial o cearense, que é mais próximo da Europa e Estados Unidos. "O turista estrangeiro vacinado não vai ter receio de vir ao Brasil. A questão vai ser outra, de atratividade do destino brasileiro no mercado internacional. Por isso é sempre importante que as campanhas internacionais de turismo para o País continuem ativas".

EXPECTATIVA

O foco do segmento hoteleiro e setor turístico é de retomada mais equilibrada a partir do segundo semestre. A chegada do verão europeu oferece animação, pois, com a vacinação mais adiantada em países da Europa e nos Estados Unidos, é esperado que as fronteiras reabram e os cidadãos vacinados possam viajar.

VOOS

Atualmente, o Ceará não conta com voos diretos para destinos internacionais. Todos estão fechados por causa da pandemia. São ligações para Argentina, Estados Unidos, Portugal, Espanha, França e Holanda.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-11-2019: Samuel Sicchierolli, presidente da VCI S.A, empresa incorporadora da marca Hard Rock Café no Brasil. Show em restaurante de Fortaleza. (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-11-2019: Samuel Sicchierolli, presidente da VCI S.A, empresa incorporadora da marca Hard Rock Café no Brasil. Show em restaurante de Fortaleza. (Foto: Alex Gomes/Especial para O POVO)

BATE PRONTO COM Samuel Sicchierolli, presidente da VCI SA, incorporadora da marca Hard Rock no Brasil

O POVO - Como analisar a situação do setor de turismo com relação a protocolos sanitários? Estas medidas devem permanecer para após a vacinação?

Samuel Sicchierolli - Os protocolos sanitários precisam e devem ser mantidos e isso será uma tendência mesmo com a vacinação, será uma regra geral e quem não seguir está fora do mercado. O turismo para entretenimento retorna plenamente fortalecido no segundo semestre de 2021, sempre acompanhado de muita tecnologia na sua operação, desde a compra, a operação e as experiências a serem recebidas. As pessoas apreciam mais do que nunca visitar o natural, mas com soluções altamente tecnológicas. Locais mais remotos, experiências mais autênticas suportadas com assistência digital 24 horas por dia, sete dias por semana. A interação e experiência serão a base do entretenimento do futuro.

OP - Como projeta a demanda daqui para frente? O turismo corporativo pode ser o grande impactado?

Samuel - Os hotéis de trabalho desaparecem em pelo menos 65%. Viagens, congressos ou reuniões de trabalho nunca voltarão a ser como eram se puderem ser feitos online. O turismo de trabalho será muito impactado.

OP - O Hard Rock Hotel Fortaleza tem previsão de inauguração ao fim do ano. Como projetam a demanda até lá?

Samuel - A entrega da obra será em dezembro, mas ainda temos um período de treinamento por parte da rede Hard Rock. Entretanto, nosso modelo de negócios não depende da demanda por hotel porque vendemos as unidades aos clientes, tanto unidades no bloco hoteleiro como casas e apartamentos.

 

PARTICIPAÇÃO NO PIB

Em 2019, a participação do turismo no PIB mundial chegava a 10,4%, de acordo com estudo do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês). No Brasil, esse índice chegava a 8% naquele ano, com cerca de 7 milhões de trabalhadores empregados. Segundo a FGV, o impacto da pandemia deve fazer o PIB do turismo cair 39% em 2020. Para 2021, previsão é de recuperação, mas em nível 4% inferior ao registrado em 2019, com geração de R$ 270,8 bilhões em receitas.

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