Vice-prefeito de Fortaleza, Élcio Batista (PSB) esteve dos dois lados da mesa em 2020: como chefe da Casa Civil do Governo do Estado, assumiu a frente de negociação com os representantes dos militares, que tentavam alterar a proposta salarial do Estado e obter ganhos maiores no soldo.
Vencida essa etapa, que se encerrou com o fim da paralisação dos PMs após 13 dias de tensão durante os quais o senador Cid Gomes (PDT) foi baleado, o pessebista iria enfrentar o principal nome desse grupo, mas agora nas urnas: Capitão Wagner, deputado federal pelo Pros e candidato a prefeito de Fortaleza.
Um ano depois do motim e três meses após a eleição, da qual saiu vencedor ao lado de José Sarto (PDT), Batista não descarta a possibilidade de uma nova paralisação de militares.
Questionado se algo semelhante pode ocorrer nos próximos anos, ou mesmo em 2022, o vice-prefeito respondeu: “Não dá para excluir completamente os riscos (de um novo motim)”.
“O que dá para dizer”, prossegue Batista, “é que temos uma Constituição que deixa muito clara a vedação de que forças policiais façam paralisação, e isso significa motim”. Para ele, “quanto mais a sociedade tiver compreensão desses limites e a opinião pública, os riscos serão menores”.
O vice-prefeito diz acreditar, porém, que “aquele momento foi importante para que a gente discutisse a força corporativista de uma parte de uma instituição policial e, ao mesmo tempo, a partidarização de uma instituição militar numa sociedade democrática”.
Se, do lado do bloco governista, há um sinal de alerta aceso em relação ao assunto, do outro parece imperar certo silêncio, que sugere uma tentativa de superar o episódio desgastante para nomes de peso como Wagner, que, apesar do motim, teve desempenho expressivo na briga contra Sarto.
Das principais lideranças da paralisação de PMs no Ceará, apenas Cabo Sabino atendeu às solicitações de entrevista. Todos os demais se negaram a falar ou sequer responderam.
Um dos interlocutores dos policiais durante o ano passado, o senador Eduardo Girão (Podemos) foi procurado para comentar, mas não deu retorno. O parlamentar é cotado para concorrer ao Governo do Estado no ano que vem.
Reeleito vereador, Sargento Reginauro (Pros) também foi contatado pela reportagem. A sua assessoria informou, contudo, que não havia conseguido acioná-lo.
Presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramece), Pedro Queiroz da Silva também foi procurado, mas, por meio de assessoria, disse que uma ordem judicial o impedia de falar sobre o assunto. Filiado ao Republicanos, Queiroz disputou vaga na Câmara de Fortaleza, ocupando a suplência da vereança.
Outros nomes projetados no motim também concorreram no pleito do ano passado. À frente da Associação das Esposas dos Militares, Nina Carvalho, uma das articuladoras da paralisação, tentou vaga na Câmara pelo Republicanos. Sem sucesso.