Ao receber o cargo de Roberto Cláudio (PDT), ainda em 1º de janeiro, o prefeito José Sarto (PDT) foi taxativo sobre quais seriam as "prioridades zero" da gestão: Aulas presenciais nas escolas, retomada da economia e, principalmente, vacinação. "Seremos os primeiros a adquiri-las, oferecê-las e oportunizá-las a todos e todas aqui de Fortaleza".
Mais de três meses depois da cerimônia, alcançando a marca dos 100 dias de gestão, o prefeito acabou tendo a maior parte dos planos frustrada pela 2ª onda da Covid-19. Diante de novas cepas mais agressivas da doença, a perspectiva de retomada plena das aulas e da economia ficou mais distante, sobretudo após a adoção de novo lockdown na Capital.
Nem mesmo uma agenda de visitação diária de escolas municipais, algo anunciado por Sarto logo na posse, acabou mantida por muito tempo após os números da pandemia confirmarem a tendência de segunda onda. Desde então, a gestão tem deixado a questão para depois do avanço do processo de imunização da população.
A vacinação, por outro lado, surge como ponto onde a gestão deslanchou. Beneficiada por intensa articulação conjunta entre o prefeito e o governador Camilo Santana (PT) junto ao Instituto Butantan, o Governo Federal e representantes de vacinas estrangeiras, Fortaleza iniciou processo de vacinação em 18 de janeiro e tem se mantido como uma das capitais que aplica mais rapidamente os estoques enviados pelo Ministério da Saúde.
"Fortaleza hoje é destaque nacional em vacinação", diz o prefeito, comemorando a aplicação de 457 mil vacinas de 1ª dose até a última quinta-feira. A título de comparação, Brasília, município com população estimada de mais de três milhões de pessoas - Fortaleza tem 2,6 milhões -, só havia aplicado cerca de 320 mil doses no mesmo período.
O prefeito comenta até a mudança de postura de alguns opositores do governo, que antes questionavam vacinas e sua eficácia, mas hoje defendem sua aplicação. "Eu fico feliz que essa turma, que por vezes debochava da vacina, negava a ciência, agora está mudando o discurso e se rendendo às evidências", disse, em entrevista ao O POVO.
Na questão econômica, por outro lado, a gestão ainda tenta equilibrar polêmica em torno de decretos de isolamento social rígido - defendidos pela comunidade científica, mas alvo de resistência pela maior parte dos setores produtivos - com medidas de proteção social.
Algumas ações prometidas por Sarto após a eleição do ano passado, como programas voltados para a geração de empregos, ainda não saíram do papel. Até agora, a gestão tem priorizado medidas de assistência emergencial, como auxílios para autônomos, deixando a questão dos empregos com menor destaque.
Politicamente, Sarto prometia "diálogo amplo" com vereadores de Fortaleza, incluindo membros da oposição, o que vem sendo cumprido pelo prefeito. Antes mesmo de assumir o cargo, o pedetista priorizou uma agenda de diálogos com vereadores eleitos, atraindo para a base aliada parte dos vereadores eleitos pela coligação do adversário Capitão Wagner (Pros) em 2020, incluindo bancada de dois vereadores do PMB.
Além disso, Sarto sancionou dois polêmicos projetos de lei apresentados por vereadores da oposição, algo incomum durante a gestão Roberto Cláudio (PDT). As propostas, apresentadas por Ronaldo Martins (Republicanos) e Danilo Lopes (Podemos), determinaram a inclusão, respectivamente, de templos religiosos e espaços de atividade física como serviços essenciais durante a pandemia na Capital.
Polêmicos, os projetos foram contestados até mesmo por líderes da base aliada do prefeito, mas acabaram sancionados após diálogo de Sarto e os opositores. Com a interlocução direta com os vereadores, o prefeito conseguiu contar até mesmo com boa parcela de votos de vereadores da oposição em algumas votações de interesse do governo na Câmara.