Os indícios de uma Câmara Municipal conturbada, apontados nas urnas após crescimento recorde de cadeiras da oposição na eleição de 2020, não ficaram só na promessa em Fortaleza. Nos 100 primeiros dias de governo José Sarto (PDT), foi no Legislativo municipal que o prefeito encontrou quase todas as maiores dificuldades que teve até agora no cargo.
Principal matéria enviada pelo governo à Câmara, a proposta de reforma da Previdência municipal ilustra bem as dificuldades da gestão no Legislativo. Apresentada primeiro como dois projetos diferentes no início de fevereiro, a matéria virou alvo de questionamentos judiciais e intensos protestos de servidores, que terminaram com sua retirada de pauta.
Para além das críticas da oposição, a proposta foi parar na Justiça após ação de uma vereadora do próprio partido do prefeito, Enfermeira Ana Paula (PDT), surpreendendo a base aliada. "Sou contrária ao projeto em si, mas recorri na Justiça pela forma que isso está sendo feito, em atropelo", disse a vereadora à época.
A ação da correligionária acabou suspendendo tramitação da matéria na Justiça, atrapalhando planos do prefeito. Inicialmente com previsão de votação ainda em janeiro, a reforma da Previdência teve de ser reapresentada pela gestão, já soma mais de 100 propostas de emendas e segue até hoje sem data certa de aprovação na Casa.
Líder do governo na Câmara, Gardel Rolim (PDT) tem minimizado impasses no Legislativo, dizendo ser do interesse da gestão que a matéria tenha amplo espaço para debates no parlamento.
Mas não são só em temas polêmicos que a Câmara viveu grandes embates durante os 100 primeiros dias da gestão Sarto. Até mesmo o protocolo de funcionamento das sessões da Casa, prevendo a ocorrência de votações remotas, gerou intenso bate-boca e reviravoltas no Legislativo. Até o ano passado, este tipo de ação era quase sempre consensual.
Líder da oposição na Casa, Márcio Martins (Pros) tem creditado a pressão às recentes mudanças no bloco de oposição, que ganhou espaço e diversidade de perfis na última disputa - incluindo desde novatos mais afeitos às redes sociais, como Inspetor Alberto (Pros) e Carmelo Neto (Republicanos), até parlamentares mais experientes, como Ronaldo Martins (Republicanos) e ele próprio. Ele também diz que as cobranças devem continuar.