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Mobilização para ato do 7 de setembro preocupa governadores
Reportagem

Mobilização para ato do 7 de setembro preocupa governadores

Chefes de Executivo vêm mantendo atenção sobre condutas de quadros da PM nos dias que antecedem ao feriado do 7 de setembro, data em que aliados e apoiadores de Bolsonaro pretendem se manifestar em pontos diferentes do país
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EM DISCURSO ontem no Dia do Soldado, comandante do Exército disse que Forças estão
Foto: Marcos Corrêa/Presidência da República EM DISCURSO ontem no Dia do Soldado, comandante do Exército disse que Forças estão "sempre prontas para cumprir a Constituição"

Possível adesão de policiais e bombeiros militares aos atos previstos para o 7 de setembro em apoio a Jair Bolsonaro (sem partido) tem causado apreensão entre governadores, que já acionaram setores de inteligência nas próprias polícias para mapear e antecipar movimentações nas tropas.

A reação dos gestores se dá na esteira do afastamento de um comandante da PM de São Paulo na última segunda-feira, 24, que vinha convocando outros militares para o protesto do feriado da Independência.

Nessa quarta-feira , 25, o PDT entrou com pedido no Ministério Público em todos os estados da federação para que o órgão monitore eventuais gestos de indisciplina de policiais nesse período que antecede o 7/9, manifestando-se politicamente, o que é vedado pela Constituição.

No Ceará, O POVO acionou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para saber se a pasta vem mantendo algum tipo de acompanhamento da conduta de quadros da PM cearense sobre os atos, mas não houve resposta até ontem à noite.

Nesta semana, um vídeo divulgado por coronel da reserva do Ceará foi incluído num pedido de informações do MP no Distrito Federal endereçado ao comando da PM daquela unidade.

Especialistas ouvidos pela reportagem são unânimes em afirmar que o cenário é preocupante, principalmente porque a retórica bolsonarista se deslocou das Forças Armadas para as corporações militares estaduais, cuja chefia compete aos governadores.

"Caso haja uma adesão de policiais da ativa a essas manifestações (como houve em São Paulo), que abertamente vão pedir fechamento de instituições, é grave", adverte Fábio Kerche, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Para o pesquisador, os holofotes se voltam para a PM porque "parece que, felizmente, as Forças Armadas estão sinalizando para sociedade e imprensa que não embarcariam nisso (ruptura institucional)".

Ontem, no Dia do Soldado, o comandante do Exército, ao lado do presidente, fez discurso em que aponta para conciliação e estabilidade. O teor da fala foi interpretado como indício de que a instituição não embarcaria numa aventura golpista.

"É quase o que resta ao Bolsonaro, um apelo à PM, mas a PM poderia sustentar isso?", questiona Kerche, respondendo em seguida: "Eu acho que a polícia poderia fazer muito barulho, criar uma situação de violência e instabilidade".

Estudioso das Forças Armadas e professor de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o cientista político Lucas Rezende avalia que a combinação desses elementos e o que pode acontecer no dia 7/9 "é imprevisível".

"Talvez estejamos chegando a um ponto de ruptura que já vem sendo anunciado e alertado pelos analistas políticos desde antes das eleições de 2018", ressalta. "O risco é muito grande, até mesmo porque, se os PMs se insubordinarem, isso significa que eles estarão sem comando e sem linha hierárquica."

Rezende também aponta que Bolsonaro tem apostado nas polícias como elemento catalisador para os protestos de rua depois de tentar engajar os comandos de Exército, Marinha e Aeronáutica, mas sem sucesso.

"O cenário já era bastante perigoso", continua o cientista, "mas o que estamos vendo agora é ainda mais - é o guardinha da esquina, é aquele que sabe dos hábitos, sabe quem é crítico do governo, monitora vizinhos e opositores".

A cientista política Carolina Botelho, do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social/Mackenzie, adiciona outro elemento a esse caldo já inflamável.

"Há risco de essas lideranças ligadas a PMs consolidarem e extrapolarem a influência para outros estados, conflagrando quartéis e entidades. É o maior perigo", indica, acrescentando que o exemplo de São Paulo poderia "se estender para além do estado, chegando a outras PMs".

"Por isso precisamos ter uma resposta rápida e severa", sugere a pesquisadora, para quem a possibilidade de comportamentos fora das quatro linhas da Constituição "já é uma realidade".

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