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Bolsonaro ameaça golpe e incita desobediência à Justiça
Reportagem

Bolsonaro ameaça golpe e incita desobediência à Justiça

| 7 de setembro | Com atos registrados nas 27 capitais do país, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro reforçaram manifestações de teor antidemocrático e golpista, que ganharam adesão do próprio chefe do Executivo
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BOLSONARO promoveu manifestações e discursos de caráter golpista e antidemocrático em 2021. Presidente esteve em atos em Brasília e em São Paulo (Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP)
Foto: MIGUEL SCHINCARIOL / AFP BOLSONARO promoveu manifestações e discursos de caráter golpista e antidemocrático em 2021. Presidente esteve em atos em Brasília e em São Paulo

Em dia de manifestações antidemocráticas por todo o País, Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou ontem o Supremo Tribunal Federal (STF) de golpe, pregou desobediência à Justiça e afirmou que só sairá da Presidência "morto, preso ou com vitória". Atos foram registrados nas 27 capitais do país, incluindo Fortaleza, tendo o STF como principal alvo.

A fala ocorreu na tarde de ontem, diante de milhares de pessoas que protestavam em defesa do governo na Avenida Paulista, em São Paulo. Mais cedo, em Brasília, ele já havia feito ameaça direta ao presidente do STF, Luiz Fux. "Ou o chefe desse Poder enquadrada o seu [ministro] ou esse Poder pode sofrer aquilo que nós não queremos", disse.

 

Mais tarde, na capital paulista, a ameaça ganhou detalhes e alvo claro, o ministro Alexandre de Moraes (STF). "Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Não se pode admitir que uma pessoa apenas, um homem apenas, turve a nossa liberdade", disse, citando o ministro por nome e afirmando que não cumprirá mais decisões expedidas por Moraes.

"Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", disse. Nos últimos meses, Moraes foi responsável por uma série de decisões contra militantes bolsonaristas que fizeram ameaças às instituições democráticas, ainda que por provocação da Procuradoria-Geral de Justiça (PGR) e da Polícia Federal.

No discurso, Bolsonaro também afirmou que só deixará a Presidência "preso, morto ou com a vitória". Na sequência, desafia investigações em curso contra ele na Justiça: "Digo aos canalhas que nunca serei preso", disse, complementando depois: "Dizer àqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá".

Registrados por todo o país, os atos alusivos ao 7 de setembro foram dominados por discursos, faixas, cartazes e gritos de guerra autoritários e antidemocráticos, sendo comuns pedidos de intervenção militar. Além de ameaças e ataques diretos a Alexandre de Moraes, os principais alvos de bolsonaristas foram o STF e o Congresso Nacional.

Apesar da grande expectativa em torno dos atos, estimativa de público ontem na Esplanada dos Ministérios foi de cerca de 150 mil pessoas, apenas 5% do público previsto por bolsonaristas em áudios e vídeos transmitidos nas redes sociais.

Atualmente, o STF analisa cinco inquéritos que têm como alvos Jair Bolsonaro, seus filhos ou apoiadores próximos. Outras duas ações envolvendo o presidente tramitam no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que avaliam inclusive a cassação da chapa dele na eleição de 2018.

Apesar de tramitarem há mais de um ano, as ações estão no centro da recente escalada de tensões entre Bolsonaro e o Judiciário. No início de agosto, Alexandre Moraes incluiu o presidente no inquérito das fake news, uma das ações contra apoiadores dele no STF.

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Nesse sentido, outro adversário citado nominalmente por Bolsonaro foi o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. Na fala, o chefe do Planalto cobrou a adoção do voto impresso na eleição de 2022, embora o tema já tenha sido objeto de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) derrotada na Câmara.

"Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança por ocasião das eleições. E dizer que não é uma pessoa do TSE que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável", disse. "Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública dos votos", disse, apesar de o atual modelo de urnas eletrônicas em uso no Brasil já ser auditável e com contagem pública.

Discursos de Bolsonaro em Brasília e em São Paulo foram acompanhados por, além do vice-presidente Hamilton Mourão, ministros do governo, incluindo os generais Braga Netto (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral da Presidência).

Pela manhã, Bolsonaro chegou a afirmar que realizaria hoje uma reunião do Conselho da República, onde prometeu levar uma "foto" das manifestações de ontem. Presidentes da Câmara, Senado, no entanto, reagiram com surpresa à declaração, dizendo desconhecer qualquer convite para reunião. Mais tarde, o governo minimizou e disse que a reunião se tratava, na verdade, do Conselho de Governo.

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