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Maior importação de derivados de petróleo torna preço final mais imprevisível
Reportagem

Maior importação de derivados de petróleo torna preço final mais imprevisível

| Oscilação | Distribuidoras que trazem combustíveis, gás de cozinha e demais produtos do exterior trabalham com preços mais elevados que a Petrobras e repassam ao mercado local
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No Ceará, chegada de combustíveis e demais derivados de petróleo do exterior se dá por três grandes distribuidoras (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE No Ceará, chegada de combustíveis e demais derivados de petróleo do exterior se dá por três grandes distribuidoras

O aumento da importação de derivados de petróleo essenciais para a economia brasileira tem se configurado como mais um elemento da dinâmica de preços oscilante que infere sobre gasolina, diesel, gás de cozinha e até asfalto. A compra do exterior desses itens cresceu 6,89% entre 2020 e 2021, chegando a um total de 20,93 milhões de metros cúbicos (m³) e tornando ainda mais imprevisível o cálculo do preço final ao consumidor.

 

 

Isso porque os produtos chegam ao Brasil com o preço do mercado internacional sem interferência da Petrobras. Ou seja, antes da companhia fazer o reajuste de 18% na gasolina há duas semanas - cujo efeito final ainda representa um déficit frente o exterior -, as importadoras já compravam e vendiam os itens no mercado brasileiro com a elevação total.

"A gente tem volume maior de importação porque a Petrobras estacionou o refino desde 2016, no Governo Temer. Mas o nosso mercado cresceu, caiu com pandemia, porém já retornou a níveis pré-pandemia. Então, essa diferença do consumo dos derivados de hoje e a produção da Petrobras desde 2016 é atendida pela importação de derivados. Por isso essa rampa extremamente forte. A gente vai ter que pagar o preço do Petróleo. Se não tem 100% da capacidade de consumo, vai ter que pagar o preço internacional e ser levado pelo vento dos mercados estrangeiros", explica Ricardo Pinheiro, consultor da área de Petróleo e Gás.

Com a decisão de desinvestir na área do refino e se concentrar na exploração do petróleo, a Petrobras passou a não atender a totalidade da demanda nacional e, atualmente, consegue abastecer 70% de todo o combustível consumido no País.

No caso específico do Ceará, segundo Prinheiro comenta, a chegada de combustíveis e demais derivados de petróleo do exterior se dá por três grandes distribuidoras: Shell, SP e Vibra (antiga BR Distribuidora). Estas empresas são as únicas com capacidade de tancagem para armazenar cargas internacionais vindas de navio. As demais operam por caminhões tanque ou cabotagem.

Mas, no País, são 11 empresas que conseguem importar gasolina, diesel, gás de cozinha, asfalto e outros derivados estratégicos para a economia nacional e cujo preço sofre o peso dos elementos internacionais diretamente.

Variação por derivado

Dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) apontam elevação na importação de diesel (20,36%), GLP (11,05%) e asfalto (99,08%) entre 2020 e 2021. Os montantes chegam a 14,43 milhões de m³; 4,01 bilhão de m³ e 64,17 mil m³, respectivamente, ao fim de 2021.

Quando comparados a 2019, antes da crise deflagrada pela pandemia de covid-19, os números demonstram superação em 10,98% (diesel), 12,98% (GLP) e 909,16% (asfalto). Apenas a importação de gasolina continua abaixo do registrado em 2019 nesses comparativos. Recua 38,64% entre 2020 e 2021 e 49,88% entre 2021 e 2019.

Já os custos de importação desses derivados contabilizados pela ANP avançaram com mais intensidade, dada a variação do dólar e do barril de petróleo neste período. O diesel apontou, em 2021, um total de US$ 7,07 bilhões, o que representou um montante 75,57% maior que o de 2020.

O número total impressiona e é o maior, mas o crescimento é superado com larga vantagem pelas despesas de GLP (R$ 1,2 bilhão e crescimento de 114,13% nos custos) e asfalto (US$ 30,12 milhões e alta de 118,88%).

Paridade reforça elevação

Sobre uma saída para atenuar esse cenário que só castiga o consumidor final não é observada a não ser que o modelo de preços da Petrobras seja alterado. "O preço fica mais caro porque quando o derivado importado entra no Brasil, a importadora só pratica o preço de paridade internacional. A Petrobras, para não gerar concorrência extremamente forte, acaba elevando seus preços para o mesmo patamar das estrangeiras. Assim, a importação provoca sim uma carestia ao consumidor brasileiro porque a Petrobras não vende para não gerar desiquilíbrio de mercado", atesta o consultor.

A política de preços da companhia também tem origem em 2016, quando o Governo Federal retirou os derivados dos preços controlados e, pressionado pelos investidores que aplicaram recursos na Petrobras no exterior, fez com que a companhia atualizasse os valores de acordo com os indicadores internacionais.

Pinheiro afirma ainda que a venda das refinarias da Petrobras não deve reduzir os preços no mercado brasileiro, uma vez que os valores são ditados pelo mercado internacional. Ele cita ainda como exemplo a Refinaria de Mataripe, antiga Landulpho Alves, na Bahia. Vendida pela Petrobras para a Acelen - empresa criada pelo Fundo Mudalaba Capital, dos Emirados Árabes Unidos -, a indústria comercializa combustível acima do preço da média da companhia brasileira.

"Nós vamos sofrer esse impacto até que haja uma mudança no padrão energético internacional. E nós estamos falando de um setor complexo e de difícil substituição. Um mercado que vem se moldando há quase dois séculos e não se consegue mudar em 1 ou 2 meses", arremata.

 

PODCAST VOO 168 BASTIDORES

Controle internacional sobre preço é impenetrável

A gente precisa entender que petróleo é uma commodity é negociada no mundo todo e tem influência muito grande dos países produtores. Entre eles estão Estados Unidos, Rússia, Emirados Árabes... A Rússia está em guerra e sofrendo sansões. Isso acaba atrapalhando o mercado e gera o preço que temos agora. Mesmo com o dólar caindo nessas últimas semanas chegando aí a R$ 4,68, o preço do barril do petróleo continua num certo valor considerável, acima de US$ 100. O que poderia estar acontecendo? A gente está percebendo uma queda do dólar que já poderia estar influenciando retirando um pouco do peso nos produtos, como gasolina e diesel. Porque aí nós sabemos que o Brasil utiliza a paridade de preços internacionais. Isso acaba influenciando o mercado, porque não dá para atender a demanda de maneira suficiente e eleva o preço. E sempre quem paga é o consumidor final.

A gente ainda tem os países que ajudam na constituição do preço final elevado, que são os grandes consumidores, como Estados Unidos e China. Eles demonstram influência nesse mercado juntamente com os grandes produtores. Até em períodos nos quais o barril de petróleo está baixo demais, eles interferem na produção para manter a cotação em alta e o preço elevado. É um oligopólio muito forte, que influencia na vida financeira de todo o mundo e prejudica a economia de alguns países. Entre eles, o Brasil que, apesar de ser grande produtor, não é autossuficiente em derivados por não ter mais refinarias.

Wandemberg Almeida

Conselheiro do Corecon-CE

 

Presidência

Especialistas classificam a tarefa do próximo presidente da Petrobras como árdua, por ter que atender os interesses dos investidores internacionais, que buscam maiores lucros e defendem a paridade de preços com o exterior, e os do presidente, que quer manter os preços inalterados para não atrapalhar sua reeleição

 

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