Em 2022, com a combinação de fatores que tem tornado o ambiente econômico ainda mais oscilante no Brasil, o investidor está atento à conjuntura e analisa com cautela onde fazer suas aplicações no mercado financeiro – principalmente depois de dois anos de uma pandemia que mudou hábitos de poupança e a relação dos brasileiros com o dinheiro.
Desdobramentos do cenário externo, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, a política de “Covid zero” na China e o aperto monetário dos Estados Unidos impactam diretamente nos investimentos atrelados à taxa básica de juros ou o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor – Amplo) no País, e pesam na hora de decidir onde é mais rentável investir.
> A meta inflacionária é estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, para que seja cumprida, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros (Selic) da economia.
O aumento da inflação é o fator mais apontado por investidores como desestimulador, seguido da alta dos juros e das eleições presidenciais. É o que aponta o Raio X do Investidor Brasileiro, pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) em parceria com o instituto Datafolha.
Dados mostram que muitos tiveram de lidar com perdas parciais ou mesmo totais de rendimentos, outros não conseguiram economizar e ainda tiveram que retirar dinheiro de aplicações ou mesmo se desfazer de algum bem na tentativa de recompor a renda.
Essa diminuição de ganhos afetou, sobretudo, a classe com a renda mais baixa, o que se nota pelos resultados da sondagem realizada pela primeira vez entre a classe D/E. Os dados mostram que este público ainda investe pouco e conhece menos os produtos financeiros do que as demais classes.
> A sondagem, que ouviu 5,8 mil pessoas das classes A, B, C e D/E, de todas as regiões do País, incluiu pela primeira vez as classes D/E e também trouxe recortes de raça, orientação sexual e geração.
“O crescimento da taxa de juros e a utilização dos instrumentos de política monetária são utilizados primordialmente quando você tem uma inflação de demanda, quando há muita circulação de recursos. Na pandemia, com o auxílio emergencial, se gerou um crescimento de demanda atípico naquele momento, com o crescimento também de oferta de bens que incrementou o processo inflacionário que já acontecia”, explica o economista Ricardo Coimbra.
Segundo Coimbra, “o problema da inflação brasileira não é apenas monetário, é de custos, relacionado com a elevação dos combustíveis e os problemas da guerra, mas também ao grave desarranjo da situação fiscal que se tem hoje, que gera instabilidade, provoca elevação do câmbio. Parte significativa das variáveis (milho, soja, aço) são commodities negociadas no mercado mundial, o que acaba contaminando também os preços no mercado interno”.
Apesar do contexto turbulento, o levantamento revela que um terço da população brasileira (31%), ou aproximadamente 52 milhões de pessoas, conseguiu investir em algum produto financeiro em 2021.
> Outro destaque do Raio X é a sensação de otimismo ou pessimismo para a economia do País ao longo de 2022. Se comparado aos quatro anos anteriores, os brasileiros veem o cenário como pior.
“Onde um vê risco, outro enxerga oportunidade”, avalia Marcelo Billi, superintendente de Comunicação, Certificação e Educação de Investidores da Anbima. “E há uma parcela de pessoas das classes D/E que ainda consegue investir, apesar de ter poucos recursos financeiros. É importante olharmos com mais atenção para essas famílias e entender as suas estratégias, avaliar se há produtos e serviços adequados às suas necessidades e que tipo de iniciativas de educação financeira podem ajudá-las a poupar e investir melhor”, acrescenta.
Ter a casa própria é o desejo de 29% dos brasileiros que investiram em produtos financeiros em 2021, mirando a compra do imóvel com os rendimentos dessas aplicações. O objetivo é mais presente entre um terço dos entrevistados das classes D/E (34%) e aparece em proporção semelhante na A/B e na C, ambas com índice de 28%.
Manter o dinheiro guardado ou aplicado como uma reserva de emergência vem logo em seguida como destino do retorno das aplicações, sendo citado por 20% dos investidores brasileiros. Já investir em um negócio próprio aparece com 8% e uma fatia relevante dessas pessoas (12%) são da classe D/E.
O recorte de gênero evidencia ainda que as mulheres investem menos que os homens: quase 3/4 delas ainda estão fora do mundo dos investimentos. O público feminino aponta a falta de dinheiro como principal motivo para não investir.
As prioridades são diferentes quando se comparam as entrevistadas com os entrevistados: para elas viajar pelo mundo e conhecer novas culturas (9%) e fornecer educação para si e para filhos e netos (8%) é mais importante do que investir em negócio próprio (7%) e usar na velhice (6%). Enquanto isso, para os homens, pensar na aposentadoria (9%) e empreender (9%) passa na frente de viagens (6%) e estudar (6%).
Na opinião de Billi, esse comportamento reflete o impacto causado por aspectos socioeconômicos: “em média, as mulheres recebem salários menores e dedicam mais tempo à família. E as investidoras escolhem a poupança em uma proporção maior do que os homens, o que pode refletir uma preferência por alternativas menos arriscadas, o que é natural quando se ganha menos. Ter informações como essas ajuda as instituições financeiras a pensarem como se comunicarem melhor com esse público e se adequarem melhor à realidade delas”.
Entenda
SELIC
A Selic é considerada
a taxa básica de juros da economia.
CONTROLE
Principal instrumento de política monetária para controlar a inflação.
DEFINIÇÃO
A taxa define juros de empréstimos, cartão de crédito, investimentos etc.
Meta
A meta inflacionária é estipulada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e, para que seja cumprida, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros (Selic) da economia.