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A infraestrutura do futuro do Ceará
Reportagem

A infraestrutura do futuro do Ceará

| Planejamento | Projetos pensados ao longo dos últimos 30 anos e consolidados no Ceará 2050 norteiam a estratégia do Estado para se manter competitivo em várias frentes
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Pecém é exemplo de projeto que mudou a atuação do Ceará em uma área e foi atualizado a partir de novas possibilidades de negócios (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Pecém é exemplo de projeto que mudou a atuação do Ceará em uma área e foi atualizado a partir de novas possibilidades de negócios

Ao longo de, ao menos, 30 anos, o Ceará contou com gestores públicos capazes de planejar o futuro a longo prazo e dar seguimento à estratégia montada por seus antecessores - mesmo quando estes eram de correntes políticas opostas. O resultado foi um estado cuja competitividade cresceu e se projetou entre os de maior potencial em diversas áreas no Brasil.

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Continuidade e atualização são as palavras de ordem neste modus operandi praticado pelo Executivo estadual. Além de dar seguimento às iniciativas, os governadores as atualizavam a partir do conhecimento novo adquirido.

Porto do Pecém, o projeto Malha D'Água, o novo Aeroporto Internacional Pinto Martins - já ampliado - e o Cinturão Digital são exemplos clássicos de equipamentos que transformaram a atuação cearense em frentes importantes, como lembra Francisco de Queiroz Maia Júnior, ex-vice-governador e ex-secretário do Planejamento e Gestão e Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado do Ceará.

"A infraestrutura é uma das áreas, entre as políticas públicas, mais bem estruturadas no Ceará. Eu diria que vem sendo atualizada, relativamente, a matriz de infraestrutura, o que coloca o Ceará hoje com infraestrutura, pelo menos, a nível de Nordeste do Brasil, bastante competitiva", afirma.

Os exemplos dados por ele têm referência em uma palavra evocada como um mantra pelo governo Camilo Santana (PT): hub. De localização estratégica reconhecida internacionalmente, o Ceará é vocacionado a ser um território de grande valor logístico para diversas áreas. É nesta lógica que nasceu o projeto de hubs de Camilo: aéreo, portuário e tecnológico.

Com a concessão do Aeroporto Pinto Martins e a chegada da Fraport juntamente com a Air France/KLM, formou-se as bases do hub aéreo, cujo objetivo era tornar o Ceará a principal porta de entrada de estrangeiros do Norte e Nordeste brasileiros.

Já o portuário tem no Porto do Pecém consorciado com o Porto de Roterdã e funcionando no modelo porto-indústria a principal estratégia de transformar o Ceará no ponto de parada de embarcações que trazem mercadorias de todo o mundo para o Brasil e levam as cargas daqui para fora.

O tecnológico usa a vantagem de ter Fortaleza como a cidade de maior número de cabos submarinos de fibra óptica como atrativo para data centers de grandes empresas ao mesmo tempo que estimula a criação de grandes empresas locais no setor.

Maia lembra ainda que todos foram alvo de estudo do Projeto Ceará 2050 e tiveram até algumas atualizações ao longo da formulação do documento que foi transformado em Proposta de Emenda à Constituição do Ceará, virando lei e referência para o planejamento de longo prazo do Estado.

"O estado precisa abraçar o 2050 porque é o melhor planejamento que dispõe e é preciso de um planejamento desse para a gente preparar o estado no futuro. É um projeto de vanguarda, que precisa, como todo o projeto, de atualizações", observa, recordando que o início do Ceará 2050 foi sob seu comando na Secretaria de Planejamento e Gestão, em 2017.

"O Ceará ainda tem grandes oportunidades para ser descobertas e é isso que o Ceará 2050, de alguma forma, preconiza. Mas precisa ser modernizado constantemente", acrescenta, alertando para a necessidade de continuidade do projeto.

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CANINDE-CE, BRASIL, 16-10-2023: CE-020 Usina de Energia Solar na Estrada. (Foto: Aurelio Alves/O Povo)
CANINDE-CE, BRASIL, 16-10-2023: CE-020 Usina de Energia Solar na Estrada. (Foto: Aurelio Alves/O Povo)

Logística do Estado ainda tem projetos "a passos de cágado"

Os avanços logísticos obtidos pelo Ceará nas últimas décadas são destaques na Região e no País, atesta o Bruno Iughetti, presidente da Câmara Setorial Logística. O especialista aponta o setor como um dos mais assertivos dentro da estratégia do governo.

A constituição do Porto do Pecém no modelo porto indústria e a modernização do Porto de Fortaleza, especialmente com terminal de passageiros, forma um cenário promissor em diversas frentes. A constituição do hub de hidrogênio verde, aponta, é resultado do sucesso deste planejamento.

Iughetti destaca a integração de modais como pertinente e resultado de uma atualização dos planos iniciais. As garantias dadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de conclusão da Ferrovia Transnordestina são comemoradas por ele, vide o impacto que isso gera no Pecém e também na constituição de outro modelo de negócio: os portos secos entre o Ceará e o Piauí.

"Isso é muito importante porque gerará novos pontos de desenvolvimento", ressalta, lembrando ainda da constituição de uma malha - ainda tímida - entre os aeroportos regionais. Medida é resultado de uma alternativa ao hub aéreo abatido pela pandemia de Covid-19.

No entanto, o presidente da Câmara Setorial Logística lamenta a letargia que o Estado vive no que diz respeito às rodovias. "Infelizmente tenha dado a passos de cágado porque não tem agilidade necessária e a prioridade para um projeto que tem muito a contribuir com a logística na malha rodoviária do Estado do Ceará", comenta, apontando para a Rodovia 4º Anel Viário, a Rodovia CE-155 e o Arco Metropolitano - este que sequer saiu do papel.

Elemento crucial da articulação dos modais e que vai em sentido contrário do planejamento pensado no programa estratégico Logística do Atlântico, do Ceará 2050.

No documento que virou lei, um estudo de viabilidade sobre concessões de rodovias estaduais e federais era sugerido, com término em 2024. Ao mesmo tempo, a elaboração de um estudo de viabilidade para a navegação de cabotagem no Pecém era indicada, entre outros pontos.

Mas nem todo o planejamento pode ser adiado por completo. O documento indica para 2039 a construção de terminais intermodais de carga em regiões estratégicas do estado, além da duplicação de uma série de rodovias que percorrem o Ceará.

Jaguaribara, Ce, BR 01.04.22 Açude Castanhã recebe um grande volume de água com as chvas da pré-estaçao chuvosa (Júlio Caesar/O POVO)
Jaguaribara, Ce, BR 01.04.22 Açude Castanhã recebe um grande volume de água com as chvas da pré-estaçao chuvosa (Júlio Caesar/O POVO)

Segurança hídrica merece atenção e agilidade nas ações

Considerada primordial para o futuro do Estado por Amílcar Silveira, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), a segurança hídrica demonstrou avanços ao longo dos anos por ser foco de todos os gestores estaduais desde antes da redemocratização, mas ainda precisa de avanços para assegurar o consumo humano e também a produção rural, segundo ele.

Ao mesmo tempo que elogia as obras do Ramal do Rio Salgado, que devem agilizar a chegada das águas do Rio São Francisco para o Castanhão, ele critica a eficiência da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e da Secretaria de Recursos Hídricos na gestão dessas águas.

"Hoje, a água que vem para Fortaleza nasce onde chove 500 milímetros, enquanto que Fortaleza chove em torno de 1,3 mil milímetros. Nós estamos trazendo água de regiões secas para Fortaleza", lamenta.

Perguntado sobre como vê a infraestrutura de abastecimento hídrica do Ceará e a estratégia de desenvolver novas culturas no futuro, o presidente da Faec disse não conseguir visualizar antes de conseguir ver a estrutura básica funcionando hoje.

"O Estado do Ceará tem 54 mil hectares em perímetros irrigados, mas só funciona 14 mil. Então, antes de eu pensar em frutas de grande valor agregado, eu preciso, pelo menos, plantar uns 50.000 hectares", aponta.

No Ceará 2050, o planejamento dos recursos hídricos trabalha com prazos mais extensos, projetando a entrega até 2050. Mas que tem o início projetado desde 2020.

Entre as ações, a construção de novos açudes, o desenvolvimento do Programa Malha d'Água e diversos planos que envolvem a gestão da água captada. Assim como as demais áreas, a segurança hídrica surge como uma constante no planejamento público, mas precisa da agilidade cobrada pelo presidente da Faec para não gerar riscos ao consumo humano e aos produtores rurais, sejam eles grandes ou pequenos.

"Eu acho que, no futuro, o Ceará precisa passar pela discussão da transposição das águas do Rio Parnaíba para, principalmente, tentar atender o Sertão do Inhamuns, que é a região mais crítica do Estado. E essa discussão tem que ser feita a partir de agora", adiantou Amílcar sobre o que pensa para o futuro no aspecto da infraestrutura dos recursos hídricos cearense.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-02-2018 :  Chegada do cabo submarino SACS de fibra optica, De Angola para a praia do futuroi. (Foto: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA, CE, BRASIL, 21-02-2018 : Chegada do cabo submarino SACS de fibra optica, De Angola para a praia do futuroi. (Foto: Fabio Lima/O POVO)

Tecnologia e inovação precisam de articulação mais célere

Localização estratégica e planejamento também foi o que tornou o Ceará um ambiente competitivo no que diz respeito à tecnologia e inovação no Brasil. Principal ponto de conexão de cabos submarinos de fibra óptica da América do Sul, o Estado captou grandes data centers e desenvolveu o Cinturão Digital, incentivando a conexão por fibra óptica da população via pequenos provedores digitais, e viu grandes players se sobressaírem no setor.

Essas iniciativas, diz Ricardo Liebman, presidente do Instituto Iracema Digital, acontecem há apenas 20 anos e já promoveram a conexão no Interior e estimularam a criação de centros de inovação em todo o Estado.

"Há um profundo entendimento e pressa de tornar o Ceará mais capaz e inovação não se faz sem educação e ciência", afirma, citando centros de empreendedorismo criados pelo Sebrae e as universidades que se multiplicaram nos municípios cearenses.

A compreensão de ter na inovação uma medida constante, destaca Liebmann, é resultado do planejamento de longo prazo e a atualização disso já acontece, com o 5G e a chegada do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) no Ceará.

Com players se agigantando nas telecomunicações, a exemplo da Brisanet e da Mob Telecom, ele acredita que mais talentos locais sejam aproveitados e a nova tecnologia gere novas oportunidades de negócios no Estado.

No entanto, o presidente do Instituto Iracema Digital defende a necessidade de uma articulação mais forte desse ecossistema e aponta para o governo do Estado como o agente mais vocacionado para a função.

"Uma coisa é ter o ecossistema. Outra é ter um que faça a coisa junto. Então, o que falta para acelerar - e acho que nós estamos até atrasados em relação a outros ecossistemas - é o Estado ter uma presença mais forte", afirma, citando que a iniciativa privada já conta com hubs de inovação, da mesma forma que as universidades possuem parques tecnológicos, todos aptos por uma articulação mais precisa.

A fala de Liebmann comunga com o que foi planejado pelo Ceará 2050, no qual o desenvolvimento integrado é um dos pontos em destaque do Programa Estratégico Ciência e Futuro, assim como o apoio a centros de inovação do Estado.

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