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Mercado imobiliário em alta
Reportagem

Mercado imobiliário em alta

| No Ceará | Saiba quais as condições que têm feito o cenário ganhar fôlego em 2024. O Sindicato da Construção no Ceará (Sinduscon-CE) tem expectativa de expansão entre 10% e 15% no ano
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Fortaleza, CE, BR 24.05.23 -  Expansão do mercado imobiliário  (Fco Fontenele/O POVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 24.05.23 - Expansão do mercado imobiliário (Fco Fontenele/O POVO)

A vontade de ter uma casa própria era alimentada por Ana Vitória Oliveira Ferreira, 21, desde a adolescência. Nos últimos anos, quando a vida adulta chegou, o emprego formal foi conquistado e o namoro pediu casamento, ela focou no sonho. Mas sem sucesso. O alinhamento dos indicadores econômicos próprios para que ela fechasse o contrato de compra do apartamento no bairro Itaperi, em Fortaleza, só aconteceu em 2024 - ano apontado pelo mercado imobiliário como o de um novo momento para o setor.

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Juros mais baixos impulsionados pelo movimento de queda da Selic, redução do desemprego e mais confiança de consumidores e construtores são os elementos citados por Patriolino Dias, presidente do Sindicato da Construção no Ceará (Sinduscon-CE), como o cenário perfeito para que pessoas como Vitória pudessem fechar negócio.

"Com a taxa Selic chegando a 9% no fim do ano, nosso mercado melhora bastante, principalmente o médio e o alto padrão. Falando de econômico, eu acho que nunca tivemos condições tão boas. O Minha Casa Minha Vida tem as melhores taxas de todos os tempos", afirma, referindo-se às faixas 1, 2 e 3 do programa, nas quais os compradores contam com ajuda do governo federal para pagar o imóvel.

 

Foi ciente dessas condições que Vitória conseguiu adquirir o apartamento de 44 metros quadrados, com 2 quartos, 1 banheiro, sala e cozinha/lavanderia, localizado em um condomínio de duas torres e que já tem 70% das obras concluídas e deve ser entregue ainda neste ano.

"O valor do imóvel foi de R$ 208 mil, tivemos o subsídio de R$ 52 mil e demos a entrada de R$ 20 mil", contabiliza a técnica de enfermagem, reconhecendo o peso do programa federal para a decisão de compra.

Mercado ativo e mais promissor

Benefícios que a cozinheira Indira Leite Siqueira, 39, não obteve quando fechou contrato de compra do apartamento no bairro da Jacarecanga há dois anos. Na época, o programa federal que a auxiliou foi o Casa Verde e Amarela - instituído no Governo Bolsonaro em 2021 - e, apesar de os juros básicos da economia estarem baixos, o valor do subsídio não foi tão robusto quanto o de Vitória.

Ao O Povo, ela conta que um consórcio pago por cinco anos a ajudou a selar o contrato de compra, uma vez que dispôs de mais de R$ 30 mil para dar de entrada. Compras nestas condições mantiveram o mercado ativo no pós-pandemia, como explica o presidente do Conselho Federal dos Corretores de Imóveis (Cofeci), João Teodoro.

Mas, reconhece ele, a projeção para este ano é de um cenário mais promissor. E o Ceará se destaca sensivelmente entre as demais unidades da federação, com crescimento em diversas modalidades de imóveis.

Programa estadual deve dar mais impulso

Patriolino Dias ainda despeja mais expectativa sobre o mercado local em 2024 devido ao programa Entrada Moradia, do governo estadual. Segundo já revelou o governador Elmano de Freitas (PT), o programa vai subsidiar o valor de entrada em imóveis das faixas 1 e 2 do MCMV para famílias com renda mensal de até R$ 4.400.

Antes mesmo do lançamento deste programa, as construtoras contabilizaram 50% de crescimento no primeiro trimestre de 2024 - o melhor em nove anos. Para o ano, o presidente do Sinduscon-CE lança uma expectativa de expansão entre 10% e 15%.

MCMV deve movimentar mais de R$ 5 bilhões

Crescimento também esperado por aqueles que estão em contato direto com os compradores. Tibério Benevides, presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Ceará (Creci-CE), conta que, apenas para o MCMV, são esperados "mais de R$ 5 bilhões" em vendas neste ano, 8,69% maior que os R$ 4,6 bilhões de 2023.

"O alto e altíssimo padrão vende muito rápido. Os imóveis por volta de R$ 1 milhão que deram uma parada, mas quando se fala em Minha Casa Minha Vida está vendendo sempre", detalha Benevides.

O corretor, inclusive, teve um papel crucial na história de Vitória: "Fomos em uma corretora e com auxílio muito importante do nosso corretor encontramos um imóvel que nos atendia perfeitamente. O processo foi muito rápido, em questão de um mês conseguimos resolver tudo."

Velocidade de venda entre as mais ágeis do País

A velocidade de compra é um dos indicadores que apontam para um aquecimento real do mercado cearense, destaca Benevides. A média local gira em torno de 180 dias e é uma das mais ágeis do País, segundo Teodoro: "O Ceará está se apresentando, hoje, mais aquecido que o resto do Brasil", afirma.

Este cenário estimula toda a cadeia produtiva, fazendo com que as construtoras lancem mais empreendimentos e as corretoras coloquem mais gente em campo para promover as condições que o mercado imobiliário apresenta no Ceará em 2024.

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Condições do MCMV

Faixa 1

Renda bruta até R$ 2.640

taxa de 4%, no Norte e Nordeste, e 4,25% nas demais regiões

Faixa 2

Renda bruta de
R$ 2.640 a R$ 4.400

Cotistas: taxa de 4,75%, no Norte e Nordeste, até 6,5% nas demais regiões, a depender da renda

Não-cotistas:taxa de 5,25%, no Norte e Nordeste, até 7% nas demais regiões, a depender da renda

Faixa 3

Renda bruta de R$ 4.400 a R$ 8.000

Cotistas: 7,66%

Não-cotistas: 8,16%

Fonte: Caixa Econômica

FORTALEZA, CEARÁ, 23-05-2024: O mercado imobiliário e os canteiros de obra. Na obra, construções de prédios no bairro Aldeota. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, 23-05-2024: O mercado imobiliário e os canteiros de obra. Na obra, construções de prédios no bairro Aldeota. (Foto: Fernanda Barros / O Povo)

Estado atrai mais marcas e tipos de empreendimentos

Um movimento observado entre as construtoras nos primeiros cinco meses de 2024 e que demonstra o aquecimento do mercado imobiliário local é a chegada de novas marcas no Estado e também a ampliação do mix nas modalidades de imóveis por outras de atuação já consolidada. Neste ano, ao menos, três empresas já enxergaram oportunidades de negócios a partir dessas tomadas de decisões devido ao aquecimento do setor no Ceará.

"Fortaleza, hoje, é a capital economicamente mais ativa do Nordeste e identificamos uma oportunidade para atender essa faixa de consumidores da classe média", afirma Diego Villar, CEO da Moura Dubeux, ao explicar o investimento da empresa ao trazer para a cidade a Mood - empresa focada na classe média, com clientes de renda mensal a partir de R$ 12 mil.

Com sede em Pernambuco e liderança no Nordeste, o grupo tem o Ceará como principal mercado, atualmente. Em 2023, diz Villar, o Estado foi responsável por R$ 600 milhões dos R$ 1,6 bilhão de vendas. Já no primeiro trimestre de 2024, "esse cenário se repetiu e registramos números gerais (incluindo lançamentos e imóveis já lançados anteriormente) de VGV (valor geral de vendas) de R$ 164 milhões e 366 unidades comercializadas."

Lançado na última semana, o primeiro empreendimento da empresa no Ceará é o Mood Cocó. O empreendimento tem VGV de R$ 128 milhões e entrega duas torres com 245 apartamentos de dois ou três quartos, com suíte, uma ou duas vagas de garagem.

De olho em "regiões em desenvolvimento", que funcionam como "vetores de crescimento" para as vizinhanças, o CEO da Moura Doubeux diz que está focado "em locais que sejam cercados por serviços e proporcionem comodidade aos proprietários", mas não descarta chegar ao interior cearense com novos empreendimentos.

A MRV também enxergou oportunidade na modalidade de médio padrão em Fortaleza. Com 17 anos de Ceará e foco na faixa econômica, tendo entregue 12 mil chaves e investido R$ 33 milhões em urbanização, segundo contabiliza Alessandro Almeida, diretor comercial da MRV&CO, o grupo resolveu lançar a Sensia.

"Nós entendemos que tinha essa oportunidade dentro do mercado de Fortaleza, no qual, temos bastante competidores no mercado econômico. Dentro do médio e alto padrão já vimos um salto e diante disso olhamos a vocação dos nossos terrenos e pensamos: por que não fazer parte de Fortaleza nessa grande oportunidade?", conta.

O primeiro empreendimento da Sensia, o Vila do Sol, tem R$ 115 milhões de VGV para entregar duas torres, 264 apartamentos de cerca de 54 m², com um e dois quartos, suíte, cozinha integrada com sala e varanda.

Na outra ponta do mercado, atendendo a clientes que contam com os benefícios do Minha Casa Minha Vida e já consolidada no segmento de bairros planejados, a Planet Smart City traz para Fortaleza o primeiro empreendimento vertical em 2024.

Susanna Marchionni, CEO da empresa no Brasil, conta que a decisão foi ancorada na experiência que já possui com verticais em São Paulo e o bom momento do mercado imobiliário do Ceará.

"Com certeza um momento é propício, no sentido que todas as políticas são direcionadas para aumentar o número de habitações disponíveis. Seja com juros, seja aumentando o teto máximo de valor da casa, seja com subsídio", conta, citando um déficit habitacional reconhecido de 7 milhões de casas e a projeção de até 10 milhões não oficialmente.

Ainda guardando sigilo dos detalhes, Sussana deve lançar três verticais neste ano. Um primeiro vertical na Capital, estimado em torno de R$ 50 milhões, o segundo na Região Metropolitana e o terceiro ainda não foi revelado.

Com sede na Inglaterra, origem na Itália e investimentos na Índia e no Brasil, além dos países europeus, a Planet projeta R$ 300 milhões em VGV no Brasil neste ano, com participação decisiva do Ceará, vide a maioria dos projetos desenvolvidos no Estado.

 

Mão de obra é desafio para a inovação nos canteiros

Ao mesmo tempo em que crescem com novos empreendimentos, as construtoras também reservam atenção à inovação para enfrentarem a competição do mercado cearense, segundo conta Jorge Dantas, presidente do Inovacon do Sinduscon-CE. E o principal desafio que se projeta para o setor neste quesito, em 2024, é o da mão de obra.

Relacionado diretamente a serviços braçais e de salários-base, a construção tenta atualizar essa imagem com novas técnicas construtivas e operários de melhor qualificação e, consequentemente, melhores salários.

"Estamos com vários tipos de inovação e sistemas inovadores. Prédios com fachada ventilada, com painéis montados que garantem mais produtividade e rapidez é uma", diz Dantas, citando uma das medidas básicas aplicadas e que exigem novo treinamento ao pessoal.

Além disso, a construção modular, nas quais partes do imóvel são fabricadas e chegam no canteiro prontas para serem montadas, são outro exemplo do que já foi desenvolvido e é aplicado como inovação pelas construtoras.

Hoje, a construção civil conta com um estoque de empregos formais de 78.173 - contabilizados em março pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) - e a expectativa do Sinduscon-CE é ampliar isso em ao menos 8 mil postos em 2024 dado momento de expansão do setor.

Moura Dubeux e Planet Smart City citam as contratações como reflexo da chegada da nova marca, no caso da primeira empresa, e dos novos empreendimentos, na segunda.

Ao mesmo tempo, o aquecimento do mercado local em frentes diversas garante novas tecnologias, segundo ele. O desenvolvimento de novos equipamentos para a construção dos super prédios lançados no último ano é um exemplo, pois precisou de concretos com certificação não existentes até então.

"Nós temos cinco faculdades de engenharia, as indústrias como a Apodi e a Votorantim, além das construtoras, para atender a necessidade do mercado com custos competitivos", ressalta o presidente do Inovacon.

Outra área de atenção para ele é a administração dos canteiros de obra, que tiveram processos e fluxos revistos para melhorar a segurança e produtividade, que pode chegar a um ganho de cerca de 10%.

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