O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil voltou a surpreender o mercado e avançou 1,4% no 2º trimestre de 2024, no comparativo com o resultado dos primeiros três meses do ano. É a 12ª vez que o indicador que contabiliza a soma das riquezas geradas no País tem crescimento.
A expectativa de analistas era de um resultado mais modesto, de 0,9%. Na prática, a variação representa, em valores correntes, R$ 2,9 trilhões, segundo informou na manhã de ontem, 3, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“Ao contrário do que aconteceu ano passado, o crescimento do PIB se deve somente ao desempenho positivo da demanda interna, já que o setor externo está contribuindo negativamente para o crescimento da economia”, afirmou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Os dados atestam ainda expansão em outros comparativos. Frente ao 2º trimestre de 2023, o avanço observado entre abril e junho de 2024 é de 3,3%. Já para o 1º semestre deste ano, o IBGE indica que o PIB do Brasil cresceu 2,9%.
Mas os destaques para o trimestre são o recuo da Agropecuária e os avanços significativos de Indústria, Serviços, consumo das famílias e Formação Bruta de Capital Fixo (os investimentos).
Principal responsável pelo avanço do PIB no ano passado, a agropecuária teve a colheita concentrada no primeiro trimestre e não apontou expansão. Ainda com a baixa de preços internacionais, o setor teve uma retração de 2,3% do setor no trimestre.
Em 2023, o chamado boom das commodities levou preços de itens como soja, milho e trigo a elevadas cifras e fez com que a produção brasileira tivesse resultados recordes, impulsionando a influência na atividade econômica do País.
As exportações mapeadas pelo IBGE para o cálculo do PIB no mesmo período chegaram a subir, mas a um patamar pequeno, de 1,4%. Diferente da importação, que chegou a marca de 7,6% no mesmo cálculo.
“Ao contrário do que aconteceu no ano passado, com protagonismo da agropecuária extrativa, a gente viu que o destaque deste trimestre foi a indústria”, observou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
Foi um crescimento de 1,8% no setor, com o segmento de eletricidade e gás liderou a expansão da economia na indústria brasileira no 2º trimestre de 2024. Investimentos em novas usinas e a expectativa sobre o setor de gás com novas reservas a serem exploradas no País explicam o desempenho.
Também em alta, o segmento da construção fortaleceu o crescimento da indústria brasileira, ancorado especialmente na retomada de obras públicas e no mercado imobiliário.
A ampliação do Minha Casa Minha Vida - atendendo faixas da classe média - e o movimento de baixa da taxa de juros fez com que o lançamento e a venda de imóveis no período impulsionassem o setor entre abril e junho.
Como Rebeca Palis apontou, os números se devem ao desempenho do mercado interno e o consumo das famílias, cujo peso para o PIB é maior, teve o principal destaque, “alavancada pelos bons momentos do mercado de trabalho, juros um pouco mais baixos, o aumento do crédito voltado para as famílias e os programas governamentais de transferência de renda.”
O avanço foi de 1,8% e refletiu sobre as demais áreas pesquisadas pelo IBGE. Os serviços tiveram crescimento de 1%, com atividades financeiras, de seguros e relacionadas entre as de maior percentual (2%).
“Olhando pela ótica da demanda, o que chama mais atenção é o crescimento dos investimentos”, observa a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE. A chamada Formação Bruta de Capital Fixo cresceu 2,1%.
Crescimento gera rearranjo no cenário econômico do País
O mercado, de um modo geral, tinha uma expectativa de um crescimento da ordem de 0,9%. Então, o PIB veio bem acima daquilo que os analistas esperavam com esse crescimento de 1,4%. Nesse sentido, a gente observa que ter um crescimento de investimento mostra que o mercado começa a dar um direcionamento de melhoria do cenário e talvez uma recuperação continuada.
Como foi um bom crescimento no ano de 2023, continuando agora com um bom crescimento, talvez se aproximando de 3% para 2024, dando um indicativo de que quem sabe, para o ano de 2025, continuar com um ritmo de crescimento. Não necessariamente na mesma magnitude, mas beirando próximo dos 2%. Ou seja, mostrando uma tendência de crescimento continuado.
Há de se observar que esse crescimento do setor industrial gera um crescimento de demanda por energia e a gente sabe da mudança para a bandeira vermelha patamar 2. Ou seja, o encarecimento desse custo que, de certa forma, acaba por elevar o índice inflacionário e, de alguma forma, também isso pode provocar uma elevação da taxa Selic já agora na reunião de setembro do Comitê de Política Monetária.
À medida que você vai ter nesses rearranjos de crescimento da atividade, a necessidade de manter esse crescimento com o nível de inflação dentro da meta, pode ser que acabe tendo, talvez, um estancamento de um crescimento mais efetivo em função da necessidade do controle também do processo inflacionário.
A melhoria do emprego, que também vem ocorrendo, fazendo com que a taxa de desemprego caia para o patamar de 6,8%, vem estimulando esse crescimento do PIB também. Isso gera uma maior performance em relação a crescimento de demanda em todos os setores, principalmente o segmento de serviços e a indústria.
E um realinhamento do setor agro, que pode ser que tenha uma elevação do custo da produção por conta do aumento do custo da energia. Então, algo que a gente deve acompanhar juntamente com essa melhoria da taxa de investimento.
Haddad diz que PIB para o ano deve superar 2,8%
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou ontem o crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano (abril a junho). Esse resultado deve fazer com que o governo promova uma nova estimativa de arrecadação de receitas. Ele explicou que a Secretaria de Política Econômica (SPE) vinha projetando um crescimento entre 1,35% e 1,4%, o que foi confirmado.
"Nós vamos, provavelmente, reestimar o PIB para o ano que, pela força com que vem se desenvolvendo, pode superar 2,7%, 2,8%, e há instituições que já estão projetando PIB superior a 3%. Isso pode ensejar uma reprojeção de receitas para o ano que vem", disse.
Haddad observou que a peça orçamentária entregue para o Congresso Nacional no final do mês passado, como manda a Constituição, se baseou em números de julho, como foi o caso da estimativa das receitas. O governo fechou o Orçamento para 2025 com a previsão de um PIB estimado em 2,5% para este ano e a indicação de que o desempenho da economia vai superar esse percentual, devido ao crescimento orgânico da economia, significa que poderá ocorrer um reajuste das receitas esperadas.
"A indústria voltou muito forte e a taxa de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) veio acima das projeções (5,8%). Nós temos que olhar o investimento porque é ele que vai garantir crescimento com baixa inflação. Se não aumentarmos nossa capacidade instalada, vamos ter dificuldade de crescer, mas algumas indústrias estão com margem para crescer. Portanto, os investimentos vão ajudar a não ter gargalos. A demanda puxada pelos investimentos é tudo o que a gente quer: crescimento com investimento é a maior garantia de equilíbrio entre oferta e demanda", afirmou.
A peça orçamentária entregue ao Congresso no dia 30 de agosto consolida o compromisso do governo em promover o equilíbrio das contas públicas, fundamental para o crescimento sustentável.
A previsão de superávit primário para 2025 é de R$ 3,7 bilhões; o valor do salário mínimo estimado está em R$ 1.509,00; o limite de despesas primárias está em R$ 2,249 trilhões e a receita primária, que tende a aumentar por causa do bom desempenho do PIB, está projetada em R$ 2,907 trilhões, equivalente a 23,5% do PIB.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, também celebrou o resultado em suas redes sociais. "Mais uma notícia boa para a economia. O PIB cresceu 1,4% no 2º trimestre de 2024, uma alta de 3,3% em relação a um ano atrás. Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravata e mentiras. É isso que importa." (Agência Brasil)
Economia do Brasil é a 2º que mais cresce dentre 58 países, aponta ranking
Com o avanço do PIB de 1,4% no segundo trimestre ante o período anterior, o Brasil teve o segundo maior crescimento dentre uma lista de 58 países, elaborada pela agência de classificação de risco Austin Rating com dados já conhecidos para o período.
O Peru, com 2,4%, foi o país que mais cresceu. Ao lado do Brasil, com a mesma taxa de crescimento, figuram Arábia Saudita e Noruega.
Imediatamente atrás do Brasil ficaram Irlanda (1,2%), Holanda (1%), Indonésia (0,9%), em terceiro, quarto e quinto lugares, respectivamente. Empatados em sexto lugar, com expansão de 0,8%, figuram Croácia, Espanha, Japão, Sérvia e Tailândia.
As duas maiores economias do mundo, EUA e China, tiveram incremento de 0,7% e ficaram no sétimo lugar, empatadas com Chipre, Lituânia e Malásia
Outras das maiores economias do mundo tiveram desempenho mais modesto: Reino Unido (0,6%), no oitavo lugar; Canadá (0,5%), no nono lugar; França (0,3%), no 11º lugar; e Itália (0,2%), no 12º lugar.
No campo negativo apareceram Alemanha (-0,1%), no 15º lugar; Coreia do Sul (-0,2%), em 16º; Suécia (-0,3%), em 17º; e Chile (-0,6%), em 18º.
Segundo a Austin, o Brasil deve ocupar a oitava posição no ranking de maiores economias do mundo neste ano e no próximo.
A agência usa projeções de crescimento feitas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e o volume estimado para o PIB de diferentes países em dólares. Pelas previsões do FMI, o PIB brasileiro cresceria 2,1% em 2024 e em 2025.
Em 2023, a alta de 2,9% no PIB brasileiro já tinha feito o Brasil subir duas posições nesse ranking das maiores economias do mundo, passando da 11ª colocação em 2022 para a nona posição no ano passado. A nova projeção com o País na oitava colocação geral representa mais um avanço, portanto.
Com uma expansão projetada de 2,1% em 2024 e em 2025, o Brasil superaria as economias da Itália, Canadá, Rússia, México, Austrália, Coreia e Espanha, sendo menor somente que a dos Estados Unidos, China, Alemanha, Japão, Índia, Reino Unido e França.
Por falta de dados disponíveis do trimestre analisado, Macau, Vietnã, Índia, Armênia, Uzbequistão, Mongólia, Moçambique e Rússia ficaram nas últimas posições do ranking. (Agência Estado)
O que o resultado do PIB do Brasil sinaliza para o Ceará?
O crescimento de 1,4% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil no segundo trimestre deste ano traz sinalizações positivas para o Ceará. É o que avalia o economista Alex Araújo, em entrevista ao quadro Guia Econômico, na Rádio
O POVO CBN.
De acordo com o economista, embora os dados sejam nacionais, o tipo de segmento econômico que está crescendo no País está aquecido no Estado, a exemplo dos investimentos das energias renováveis, como o de energia solar, energia eólica, hidrogênio verde, dentre outros.
"Então esse investimento que está acontecendo nesse setor está puxando a economia e está irradiando para outros setores", explica.
Outro ponto destacado pelo economista é que o cenário econômico cearense é puxado pelo crescimento do emprego formal no interior, classificado como favorável, considerando a concentração econômica na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
"Esse crescimento reduz a desigualdade econômica que a gente tem no nosso próprio Estado", pontua.
Sobre o PIB do Brasil, o economista explica que além de ter crescido acima do que era esperado pelo mercado, há uma sinalização forte de resiliência da economia, considerando que entre abril e maio ocorreram as enchentes no Rio Grande do Sul. "A economia foi resiliente mesmo com todos esses problemas".
Para o segundo semestre deste ano, as projeções são semelhantes aos resultados obtidos no mesmo período de 2023. "É muito factível que a gente tenha um resultado muito parecido com o do ano passado, quando a economia apresentou um crescimento um pouco acima de 2,5%". (Révinna Nobre/Especial para O POVO)