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Doenças relacionadas à falta de saneamento básico causaram 17,2% dos óbitos em internações do Ceará em 2023
Reportagem

Doenças relacionadas à falta de saneamento básico causaram 17,2% dos óbitos em internações do Ceará em 2023

Pesquisa mostra que Ceará é o terceiro estado com maior participação de patologias ligadas à falta de saneamento na média de óbitos em internações
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Entre as doenças proliferadas com falta de saneamento estão dengue, chikungunya, zika, difteria, leptospirose, febre tifóide, hepatites e leishmaniose (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Entre as doenças proliferadas com falta de saneamento estão dengue, chikungunya, zika, difteria, leptospirose, febre tifóide, hepatites e leishmaniose

Mais de 30 doenças relacionadas à falta de saneamento causaram, em média, 7,8% dos óbitos em internações no Brasil no período de 2021 a 2023. As enfermidades estão ligadas a condições precárias de acesso à água, tratamento de esgoto e manejo de resíduos sólidos.

No Ceará, algumas dessas doenças foram responsáveis por 18.008 internações e 3.884 óbitos de pacientes internados em 2023. Os dados são de uma pesquisa realizada pela Associação e Sindicato Nacional das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon Sindcon) com dados do Sistema Único de Saúde (SUS).

Conforme o levantamento, o Ceará é o terceiro estado com maior participação de patologias ligadas à falta de saneamento na média de óbitos em internações registrados no período da pesquisa. Nos três anos analisados, a taxa de participação das doenças nos óbitos do Ceará é de 13,3%. O Estado só fica atrás do Amazonas (15%) e de Pernambuco (13,7%).

Em 2021, as doenças causaram 8,9% das mortes de pacientes internados no Ceará, em 2022 foram 14,9% e em 2023 foram 17,2% do total.

Dengue, chikungunya, zika, difteria, leptospirose, febre tifóide, hepatites e leishmaniose são algumas das doenças que podem ser proliferadas e transmitidas com mais facilidade em ambientes insalubres.

Os sintomas das doenças são diversos, pois cada uma é causada por um patógeno diferente. São fungos, bactérias e vírus transmitidos de inúmeras maneiras, por vezes envolvendo outros animais ou mosquitos como vetores.

“Você vai vendo a abrangência de doenças quando você entende que saneamento não é só água e esgoto, é muito mais do que isso. Nós temos uma diversidade muito grande de agentes etiológicos e cada uma tem suas especificidades”, explica Lydia Pantoja, professora do departamento de ciências biológicas da Universidade Estadual do Ceará (Uece).

As doenças têm um aspecto importante em comum: a proliferação é facilitada por meio da água suja, pelo preparo e armazenamento inadequado de alimentos e pelo acúmulo de lixo. A professora chama atenção para o potencial risco que as enfermidades podem trazer.

“Muita gente acha que o problema é uma diarreia, uma disenteria, um pico febril, um mal-estar, uma coceira de pele. Mas nós temos agentes etiológicos que podem matar”, explica.

A leptospirose, por exemplo, transmitida a partir do contato com a urina de ratos infectados, evolui para manifestações clínicas graves em 15% dos casos, comprometendo os rins e o pulmão do paciente.

Lydia chama atenção também para a gravidade da febre tifóide, causada pela bactéria Salmonella enterica de sorotipo Typhi. Em casos graves, a doença pode resultar em hemorragias intestinais e na perfuração do intestino.

Há ainda as doenças causadas por parasitas intestinais, os “vermes”. Além de causar grande desconforto com diarreias agudas, essas enfermidades podem acarretar em casos de desnutrição. Em crianças, isso afeta inclusive o desenvolvimento.

“Se eu não tratar adequadamente, se eu não buscar um serviço de saúde de qualidade, eu posso chegar a um óbito”, afirma.

Os gastos com internações de pacientes com doenças relacionadas à falta de saneamento também foram analisados no levantamento da Abcon Sindcon. No Ceará, em média, foram R$ 36 milhões nos últimos três anos, o que equivale a 4,4% dos gastos com internações no geral.

QUADROS

Óbitos em internações causados por doenças relacionadas à falta de saneamento no Ceará
2021: 2.565
2022: 3.562
2023: 3.884
Média de 2021-2023: 3.337

Taxa de participação no total geral de óbitos em internações do Ceará

2021: 8,9%
2022: 14,9%
2023: 17,2%
Média de 2021-2023: 13,3%
Fonte: Abcon Sindcon

Maiores taxas de óbitos em internações por doenças relacionadas à falta de saneamento no Brasil (Média de 2021-2023)

1 - Amazonas: 15%
2 - Pernambuco: 13,7%
3 - Ceará: 13,3%
4 - Rio de Janeiro: 13,2%
5 - São Paulo: 12,6%

Fonte: Abcon Sindcon

Confira a lista de doenças relacionadas à falta de saneamento consideradas pela pesquisa:

  • Cólera
  • Febre tifóide e paratifóide
  • Shigelose
  • Amebíase
  • Diarréia e gastroenterite de origem infecciosa presumível
  • Outras doenças infecciosas intestinais
  • Difteria
  • Septicemia
  • Leptospirose
  • Tifo exantemático
  • Febre amarela
  • Dengue
  • Febre hemorrágica devida ao vírus da dengue
  • Outras hepatites virais
  • Malária por plasmodium falciparum
  • Malária por plasmodium vivax
  • Malária por Plasmodium malariae
  • Outras formas de malária
  • Malária não especificada
  • Leishmaniose visceral
  • Leishmaniose cutânea
  • Leishmaniose cutâneo-mucosa
  • Leishmaniose não especificada
  • Tripanossomíase
  • Esquistossomose
  • Outras infestações por trematódeos
  • Equinococose
  • Dracunculíase
  • Oncocercose
  • Filariose
  • Ancilostomíase
  • Outras helmintíases


Fonte: Abcon Sindcon.

Observação: Nem todas as doenças têm casos registrados no Ceará. A lista foi utilizada de forma geral com dados de todos os estados.

 

 

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