Karine de Oliveira Campos, a "Patroa" (ou "Pérola", "Minnie", "Esmeralda" ou "Rubi"), 46 anos, e Marcelo Mendes Ferreira, o “Patrão” (ou “Roku”), 43. Nada acontece sem que os dois saibam na organização criminosa investigada pelo tráfico de cocaína nos portos cearenses. É o que destacam os autos do processo que tramita na Justiça Federal.
O último rastreamento apontou que estariam em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, escondidos em outras identidades. Há imagens na internet com simulações de possíveis disfarces, novas aparências. Os dois seriam naturais de Mato Grosso do Sul, fronteira com o país andino. Apesar de notados em quebras de sigilo telefônico e telemático de outros personagens da mesma história, não foram alcançados.
De lá ou de onde estejam, ela e ele mandam, desmandam, negociam encomendas, recompensam os recrutados ao esquema, lucram com toda a operação, segundo consta no processo. Cobram obediência à hierarquia. Há ligações e ordens registradas em relatórios policiais de que gente do mesmo grupo ainda se movimentava no primeiro semestre de 2024.
Ele e ela são apontados como os principais nomes da rede que se espraia por pelo menos nove estados. Coincidência ou não, sempre Karine citada antes de Marcelo, mais menções a ela do que a ele. No início de suas trajetórias, ela teria os contatos de quem produz a cocaína, ele saberia o nome de quem distribui a droga.A investigação desencadeada a partir da operação Néctar, deflagrada em 2019 no Ceará, mostra que o casal teria poder, fama e expertise muito anteriores das águas e rotas do Ceará. Ela e ele já eram citados em pelo menos outras seis operações policiais, sempre pelo mesmo crime.
Para andamento mais célere ao caso da operação Néctar, recentemente a Justiça Federal desmembrou as acusações do processo contra o casal. Eles são considerados foragidos desde 2021. O POVO não conseguiu contato dos advogados de Karine e Marcelo que aparecem no processo.
Em 12 de maio último, a Justiça Federal enviou intimações a Marcelo "Patrão" em dois endereços informados pelo MPF. Os imóveis ficam nas cidades baianas de Alagoinhas e Dias Dávila. São cartas precatórias para que preste depoimento sobre as acusações, mas não foram atendidas. Ele já havia sido notificado para o mesmo fim em outros dois endereços em Campo Grande (MS), igualmente devolvidas.
Patroa e Patrão são citados em inquéritos há mais de uma década e meia, sobre crimes relacionados ao tráfico e associação para o tráfico internacional de entorpecentes. A mais antiga dessas operações data de janeiro de 2009. Foi quando a Polícia Civil da Bahia investigou Karine e Marcelo como chefes de uma quadrilha de traficantes de drogas, conhecida como "Os Maias”, atuante em cidades do interior baiano.
O apelido deu nome à operação da Polícia baiana. Os dois chegaram a ser presos em Aracaju, então com "apenas" 5 kg de cocaína. A droga pura era trazida da Bolívia. Por isso o caso migrou para a esfera federal. À época, Karine "Patroa" ainda era conhecida como "Maninha".
Em julho de 2022, a PF deflagrou a operação Maritimum, que teria sido a "primeira" proximidade identificada entre Karine e os portos cearenses. As investigações, iniciadas em 2021, expuseram organização criminosa especializada atuando em vários terminais portuários. O modus operandi era semelhante ao descoberto na operação Néctar.
Cerca de 380 agentes cumpriram 46 mandados de prisão preventiva e 90 de busca e apreensão em sete estados: Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Pará. O dinheiro bloqueado em contas bancárias dos investigados somou quase R$ 170 milhões.
Na ação, os policiais federais apreenderam quatro toneladas de cocaína em Areia Branca, no Rio Grande do Norte, e cerca de uma tonelada e um fuzil no Guarujá (SP).
Em 2014, novamente na Bahia, Karine e Marcelo foram investigados na operação Twister, da PF. Em 2019, foram os alvos principais da operação Alba Vírus (menção a veneno branco), da PF. Teriam exportado quase 4 toneladas pelo porto de Santos (SP), do que a investigação alcançou.
Relatórios desta operação apontam que o grupo arrecadou quase R$ 1 bilhão com a venda sistemática e volumosa de drogas. Pelo caso, estão condenados desde 2020, ela a 17 anos e dois meses, ele a 15 anos e dois meses de prisão, por tráfico internacional e associação criminosa.