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Pecém, "a joia da coroa" do Ceará, reúne as principais apostas do setor
Reportagem

Pecém, "a joia da coroa" do Ceará, reúne as principais apostas do setor

| Área mais promissora | Complexo gera efeitos sobre polos em atividade, em todo o Estado, em uma ação mútua de incentivos que desenvolve a indústria e demais setores
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Operação no Complexo reflete sobre a logística em diversos setores  (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima Operação no Complexo reflete sobre a logística em diversos setores

A indústria do Ceará, assegura Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e vice-presidente da CNI, está no futuro há décadas.

O pioneirismo nas energias renováveis, a captação de setores consolidados na economia brasileira - como siderurgia, cimenteira e calçadista - e o debate constante sobre o que há e pode ser novo para os industriais - a exemplo do hidrogênio e da amônia verdes há quatro anos e, agora, dos data centers - são o motivo da afirmação do líder empresarial, que aponta o Complexo do Pecém como "a joia da coroa" do Ceará.

Hoje, o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) abriga cerca de 80 empresas, cujo impacto de investimentos na economia local gira em torno de R$ 30 bilhões e mantém o emprego direto de mais de 100 mil pessoas. Ordenados no modelo porto-indústria, os empreendimentos têm no Porto do Pecém o fomentador do desenvolvimento.

É a partir das novas rotas de navegação e da possibilidade de transporte dos operadores que as empresas planejam os negócios, em um ciclo de incentivo mútuo que estimula, além da indústria, os setores de serviços e comércio da região e também o agronegócio - tanto o interior cearense como o Vale do São Francisco, em Pernambuco, e parte de Rio Grande do Norte e Piauí enviam cargas para o Exterior por meio da infraestrutura do terminal cearense.

Idealizado na década de 1990 e com operação no início dos anos 2000, o Complexo do Pecém foi alvo de críticas sobre a viabilidade econômica. O empreendimento sempre contou com investimentos públicos que somam bilhões de reais. O desenvolvimento do Cipp teve exemplo semelhante no Estado apenas na energia eólica. Pioneiro no Brasil neste tipo de geração, o Ceará sofreu ataques pelos incentivos dados ao setor, que foi adotado por todas as unidades da federação localizadas no Nordeste, e hoje responde pela maioria da energia elétrica gerada no País.

Ludmilla Campos, diretora-executiva da Associação das Empresas do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Aecipp), viveu esses momentos quando trabalhava em uma multinacional do setor eólico e avalia as críticas recentes ao H2V e aos data centers cujos investimentos miram o Cipp como mais uma fase de provação do que fortalecerá e levará a indústria cearense a um patamar mais elevado, tendo objetivos sustentáveis na esteira dos projetos.

"Diante de qualquer transição ou novidade, existe uma característica natural do ser humano de criticar. Mas não tenho dúvidas de que não vamos mais frear o hidrogênio verde. O movimento (dos projetos) é lento porque é muito novo para o mundo", avalia.

Ludmilla Campos, diretora executiva da AECIPP(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Ludmilla Campos, diretora executiva da AECIPP

O H2V no Ceará conta com 6 pré-contratos, dos quais três em fase de confirmação do investimento entre 2026 e 2027. O impacto sobre a economia local, projetado em estudo da Fiec, é de R$ 39,1 bilhões sobre o Produto Interno Bruto (PIB) em um horizonte de oito anos - o que tornaria o Estado o segundo maior PIB do Nordeste.

Já quando o assunto são os data centers - e o Pecém é alvo de seis projetos, um deles de parceria entre Casa dos Ventos e TikTok, cujo aporte estimado é de R$ 50 bilhões apenas na primeira fase -, a diretora-executiva da Aecipp demonstra ainda mais confiança na conversão dos projetos em investimentos. Ludmilla considera o tipo de empreendimento "maduro em todo o mundo" e que encontra no Ceará a infraestrutura essencial - formada pelos 17 cabos submarinos que ancoram na Praia do Futuro e a base oferecida pela Zona de Processamento de Exportação do Ceará - apta a atender as demandas dos investidores.

"Isso torna o Pecém a área mais promissora do Ceará. É uma mola propulsora da economia indiscutivelmente", destaca.

Brígida Miola, secretária executiva de Indústria da Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE) do Estado do Ceará, também diz acreditar nisso ao apontar efeitos do Cipp em outras regiões.

"A gente vai ter uma interiorização do desenvolvimento econômico através do setor tanto de produção de hidrogênio verde como de data center, porque vai precisar de parques de geração de energia que o Complexo pode não suportar. Não fica somente ali. É uma cadeia de valor que consegue alcançar o Interior do Estado do Ceará também", explica.

Brígida Miola, secretária executiva da Indústria da SDE(Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares Brígida Miola, secretária executiva da Indústria da SDE

Mas, apesar de ser a principal aposta, o Cipp não é o único alvo de esforços do Estado quando o assunto é indústria, segundo ela. A secretária executiva cita o uso do Fundo de Desenvolvimento Industrial no apoio aos polos industriais na Região Metropolitana de Fortaleza e Interior, além de mencionar os projetos de portos secos como complementares aos esforços no Pecém, levando ainda a uma conexão entre as áreas devido à influência logística da Ferrovia Transnordestina e do Porto.

Historicamente, o Ceará conta com os polos em Maracanaú, Sobral, Cariri e Horizonte/Pacajus. Mas tem visto modelos semelhantes surgirem com sucesso em Guaiúba, Eusébio e Maranguape, nos quais as vocações são distintas. Para o presidente da Fiec, esses esforços miram o apoio à modernização que a indústria que fez o Ceará crescer nas décadas iniciais do setor merece ter.

"A indústria é feita pelo todo. Nós estamos falando em setores que estão chegando, que a gente só está conseguindo fazer tudo isso porque nós temos essa indústria de base forte. E essa indústria tem que ser sempre respeitada e tem que ser sempre incentivada. A soma do todo que dá fazer com que a indústria tenha crescido", arremata Ricardo Cavalcante.

O Hub de Hidrogênio Verde e a Rede VERDES | Raio X

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