Ontem, 3, diante dos casos hospitalares após a ingestão de bebidas adulteradas com o composto químico, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou o Edital de Chamamento Internacional 17/2025.
O documento busca identificar fabricantes e distribuidores internacionais do medicamento Fomepizol, usado como antídoto para tratar o envenenamento por metanol.
“É o mais eficaz”, comenta a médica hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, Carla Matos. O medicamento é responsável por bloquear a transformação do metanol em metabólitos tóxicos, mas, entre os antídotos, apenas o etanol farmacêutico está disponível para uso no País.
O etanol farmacêutico é administrado de forma controlada, intravenosa ou oral, conforme necessidade clínica, informa o Ministério da Saúde.
Atualmente, o Fomepizol não possui registro sanitário no Brasil. Contudo, a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS) tornou necessária a busca por fornecedores em outros países, com solicitação no edital da Anvisa em ampolas de 1,5 ml e concentração de 1.000 mg/ml.
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A farmacêutica do Centro de Informação e Assistência Toxicológica (Ciatox) do Instituto Doutor José Frota (IJF), Karla Magalhães, explica que o metanol pode aparecer em algumas bebidas de forma irregular. Seja por erros na produção, ou acrescido equivocadamente.
"Os principais efeitos no corpo humano do metanol se devem mais a quando ele está sendo metabolizado. O metanol em si não é tóxico e não tem odor e sabor diferente do álcool etílico. No entanto, durante o seu processo de metabolização, ele produz um uma substância chamada ácido fórmico", relata.
Para Magalhães, de maneira geral, os casos de pacientes expostos podem ser considerados graves, "porque a ingesta de um único drink pode levar a um quadro clínico extremamente grave", completa.
A hepatologista Carla Matos ressalta que, em caso de ingestão da bebida adulterada, os primeiros sinais de alerta no organismo são alterações neurológicas, como visão turva e convulsões. “Você começa a ter alguma dessas complicações, corre para o pronto socorro”, explica.
O impacto na visão, segundo Carla Matos, está relacionado ao local no organismo onde o ácido fórmico, produzido na metabolização do metanol, age mais rapidamente. Nesse caso, o sistema nervoso central é afetado.
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A médica hepatologista do Hospital Sírio-Libanês, Carla Matos, alerta que o metanol, ao passar pelo fígado para eliminação, é metabolizado, culminando na produção do ácido fórmico.
“Esse ácido fórmico é como se fosse o veneno da formiga, picando seu nervo ótico, seu sistema nervoso central. Nessas regiões, esse ácido fórmico vai causar alterações, vai aumentar o risco de acidose, da acidez aumentar no organismo. E isso é o que pode causar os problemas mais graves que levam para a UTI (Unidade de Terapia Intensiva)”, diz.
Nas primeiras 8 horas, antes da metabolização do composto químico, é possível que o indivíduo note sintomas vagos, como a tontura, mas sem incômodos críticos, mantendo a impressão dos efeitos da embriaguez.
É somente após as 8 horas que a possibilidade de visão turva, cegueira e até convulsões são apontados no corpo humano.
Os efeitos variam de acordo com cada pessoa, mas a evolução para um quadro mais grave começa de 12 a 24 horas após o consumo.
É nesse contexto que o indivíduo começa a notar a visão turva, com dificuldade para enxergar devido à alteração no nervo. “Não é aquela visão dupla, é uma alteração de realmente não estar enxergando”, ressalta a hepatologista.
As convulsões aparecem como uma agressão direta ao sistema nervoso central — “Isso não tem hora, vai variar. Tem gente que tem convulsão e não tem alteração da parte do nervo ocular”.
A orientação do Ministério da Saúde é que o paciente procure a unidade de saúde mais próxima e informe os sintomas, além da indicação do consumo de bebida alcoólica. Outros aspectos a serem relatados incluem o tipo de bebida ingerida, se havia rótulos na embalagem e o horário da ingestão. (Colaborou Gabriele Félix/Especial para O POVO)
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