No cenário inóspito do sertão cearense - cujo sol deixa marcas no corpo e na vida - uma história sobre cangaço, vingança, silêncio e bravura. É a temática do filme Como vivem os bravos, de Daniell Abrew, longa-metragem cearense do gênero "nordestern" que tem pré-estreia no Cineteatro São Luiz na noite de hoje, 18, com entrada gratuita.
Ambientado em Palmácia, a narrativa de Como vivem os Bravos envolveu cerca de 150 moradores do município na produção do filme que tem como protagonistas o ex-soldado da polícia Mumbaca e do cangaceiro Alfinete. Depois de anos encarcerados e após atuarem numa fuga intrigante da Força Volante, ambos unem-se para confrontar o inimigo Goteiro, que busca vingança a qualquer custo. O filme é o segundo capítulo da "Trilogia do Silêncio", já composta pelo longa Onde Nascem os Bravos (2017), gravado na fazenda Pinhão, em Quixeramobim, em 2015.
A produção de três filmes em sequência e em diálogo com cidades do interior do Ceará e suas realidades sociais é um trabalho que, de acordo com Daniell Abrew, o diretor do filme, precisou de muito apoio dos municípios. "A gente sempre buscou muito a parceria com as prefeituras, para que elas dessem pra gente o apoio logístico necessário", conta. Os filmes compõem a "Trilogia do Silêncio" porque não têm diálogo algum ao longo das cenas - ideia que, segundo Daniell, surgiu naturalmente ao longo das gravações. "A gente percebeu que não havia necessidade de falas, o que se tornou uma marca da própria franquia", explica. A trilha sonora do filme é composta por sete canções originais com produção do cearense Moisés Veloso.
Em 2014, Daniell fundou a produtora audiovisual StoryKnight, com o objetivo de difundir a produção audiovisual do interior do Ceará com curtas, médias e longas-metragens de ficção, documentário e animação. "Sou de Quixeramobim e sempre percebi uma dificuldade muito grande dos editais de incentivo chegarem até esses locais. Por isso nossa intenção com a trilogia foi sempre trabalhar com o pessoal do interior, fazer deles os protagonistas de cada filme", relata. "A gente não precisava que os atores fossem 'de verdade', tudo isso ia acontecendo muito naturalmente", completa.
"Os Bravos foi a oportunidade de realizar um sonho, me deu a chance de representar uma mulher nordestina e toda sua força. Foi um presente", resume Jéssica Alves, que fez sua estreia como atriz no filme de Daniell Abrew. "No interior cearense tem muita gente incrível, atrizes e atores sensacionais. Mas às vezes o que falta é a oportunidade e sem dúvida o filme foi isso. E era lindo de ver os moradores, pessoas comuns atuando. A entrega deles em cada cena era inspiradora", comenta.
Karine Ogunté, produtora e atriz de Como vivem os bravos, reforça que o longa metragem gerou interesse pelo cinema entre os moradores de Palmácia, que recentemente realizou a primeira edição do seu próprio festival de cinema com apoio de uma escola de artes do município. "Não é aquela coisa de vir de fora, chegar na cidade, gravar um filme e ir embora e nunca mais voltar pra mostrar o resultado", analisa. "Esse trabalho de envolver os moradores nos fez perceber uma espontaneidade muito grande no potencial artístico dessas pessoas, não houve nenhuma preparação específica para cada pessoa, mas o resultado final do filme expressa um entendimento coletivo sobre fazer cinema", observa.
Pré-estreia de Como vivem os Bravos
Quando: terça-feira, 18, às 19 horas
Onde: Cineteatro São Luiz (rua Major Facundo, 500 - Centro)
Gratuito
Informações: (85) 3252 4138
Trilogia
Após o lançamento de Onde Nascem os Bravos (2017) e Como Vivem os Bravos (2020), o último filme da trilogia, Quando Morrem os Bravos deve ser lançado em 2021 e já está em fase de pós-produção.