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Elis Regina completaria 75 anos em 2020, ainda como a maior cantora do Brasil
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Elis Regina completaria 75 anos em 2020, ainda como a maior cantora do Brasil

O Vida&Arte celebra nascimento de Elis Regina, intérprete que marcou o Brasil com sua voz, força e coragem. Passam os anos e ela segue inesquecível
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Elis Regina morreu em 1982 e deixou um legado incalculável para a MPB (Foto Agência Estado) (Foto: AE)
Foto: AE Elis Regina morreu em 1982 e deixou um legado incalculável para a MPB (Foto Agência Estado)

"Se você não pisasse no palco, o que faria de sua vida?". A indagação da escritora e jornalista Clarice Lispector intrigou Elis Regina. "Não sei. Realmente não tenho a menor ideia". Clarice insistiu: "Pense agora, então". Era 1969. Naquele mesmo ano, Elis foi aplaudida de pé pelos músicos da orquestra regida pelo maestro inglês Peter Knight — ao gravarem juntos o disco Elis in London, ao vivo, a cantora não repetiu nenhuma das 12 canções. Elis nasceu feita. Rebentou ao mundo na úmida Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, em 17 de março de 1945. Aos 11 anos, começou a cantar na Rádio Farroupilha e lançou o primeiro disco aos 16. Cresceu sob os holofotes.


"É que o palco está tão ligado à minha maneira de ser, à minha evolução, aos meus traumas, que eu acho que me separar de um palco é a mesma coisa que castrar um garanhão: ele deixa de ter razão de existir". Elis Regina interpretou o Brasil — do "menino que vai pra feira vender sua laranja até se acabar" ao "down, down, down in the high society"; chorou as lágrimas de tantas Marias e Clarices viúvas da ditadura militar; sentiu no vento o cheiro de nova estação. Contou, certa feita, que foi escalada para ser a "Celly Campello da Continental" logo no início da carreira: "O que me deixava nervosa pelo fato de ter que ser uma segunda pessoa. Eu, na minha... Dizem que a perfeição é uma meta, eu tava à cata dela. Continuo à cata, não sei se vou chegar lá algum dia, mas eu queria morrer sendo eu". Elis viveu sendo ela, entre sombras e luz feito um furação em breves 36 anos. Elis, incendiária.

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Ponto de vista

Elis: a coragem de ser

O ato de cantar é um ato de coragem. Cantar é a exposição extrema de si mesmo, que exige generosidade e determinação. O mergulho público nos significados de uma canção revela, ao mesmo tempo, essas três qualidades do sujeito: coragem, generosidade e determinação. Elis Regina esbanja tais qualidades em sua obra e por isso sua música tornou-se um referencial, um paradigma.

Elis, saindo da adolescência, tornou-se repentinamente a maior personalidade da televisão nacional comandando o (programa) O Fino da Bossa. É necessário entender que naquela época os programas de auditório, gravados com a presença de plateias, bem como os festivais de música, se assemelhavam aos chamados "shows de realidade" que hoje existem na televisão brasileira.

Elis teve a coragem de assumir o comando: de um programa de televisão, de sua própria carreira e de sua própria vida. Não se curvou diante das pesquisas mercadológicas das gravadoras, não cedeu às tentações do sucesso fácil. Tal postura talvez nos leve a entender as razões que fazem da obra dessa mulher algo tão presente na vida brasileira. Nos momentos menos esperados surge, sempre, a pertinência de seu canto, sua força.

Elis, a impertinente. Sua pertinência, sua entrega inconformada, pode ser percebida em suas interpretações. Doce ao cantar a doçura, cortante ao enunciar a revolta. Verdadeira em sorrisos e lágrimas expostas na televisão, Elis Regina simplesmente é, verdadeiramente, Elis Regina.

Elvis de Azevedo Matos é professor de Música da Universidade Federal do Ceará 

 

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