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Filosofia para iniciantes: Entenda o socialismo utópico pensado por Charles Fourier
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Filosofia para iniciantes: Entenda o socialismo utópico pensado por Charles Fourier

Pesquisador Eduardo Chagas apresenta o pensamento político do francês Charles Fourier, considerado um dos pais do cooperativismo, e sua crítica à competição desenfreada da sociedade industrial moderna
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François Charles Fourier (1772-1837), como também Saint-Simon (1760-1825) e Robert Ower (1771-1858), pertence ao grupo de pensadores do século XIX, denominados por Marx e Engels de "socialistas utópicos", que deram os primeiros passos para o chamado "socialismo". Eles refletiram sobre as contradições do capitalismo industrial, sobre os problemas causados pela sociedade capitalista moderna em desenvolvimento e propuseram uma sociedade ideal, em que as classes antagônicas vivessem em equilíbrio, em harmonia, em cooperação, defendessem a liberdade de pensamento, a igualdade, e procurassem o bem comum, acima do lucro à custa da exploração humana. Eles defendiam por meio da boa vontade, da participação de todos, uma reforma pacífica da sociedade, daí o reformismo, em que houvesse mais construção de escolas, casas para os trabalhadores, aumentos de salários, redução das horas de trabalho, ou seja, que a sociedade fosse harmônica, fraterna e filantrópica.

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Charles Fourier, discípulo de Saint-Simon, de classe média baixa, vivia em dificuldades financeiras, daí conhecia bem as misérias e as desigualdades de seu tempo. A tese central da utopia de Fourier é que a sociedade industrial do século 19 contém e estimula a raiz do mal social, a causa que atormenta a humanidade, que é competição, a concorrência, entre os homens. Em vez dos homens se associarem, eles lutam uns contra os outros, competem entre si, criam sistemas de concorrência, em que o sucesso de uns significa o fracasso dos outros. Enquanto a finalidade da sociedade for a competição, o esforço para o enriquecimento individual e não o bem-estar de todos, haverá sempre, na opinião de Fourier, caos, conflito social e miséria humana.

Para pôr fim aos males da sociedade industrial, é necessário, segundo a utopia de Fourier, que os homens vivam não em competição, mas em associação, em cooperação mutuamente benéfica, em que a vantagem de cada um contribua para o todo social, para o bem-estar de todos. Para isto, os homens devem viver em associações, chamadas por Fourier de "falanstérios" (comunidades agroindustriais), em que vivam entre 1.200 a duas mil pessoas na alegria e na cooperação. Nos "falanstérios" as mulheres são iguais aos homens; a família é abolida e as crianças são educadas pela comunidade; a jornada de trabalho é reduzida e o trabalho é prazeroso, variado; como o trabalho é cooperativo, a produção é superabundante, não havendo problema de distribuição; a competição desaparece, cedendo lugar a uma associação, em que o homem é produtor e consumidor ao mesmo tempo.

A utopia de Fourier é uma crítica à concorrência desenfreada da sociedade industrial moderna, em que, embora haja superprodução, aumenta-se a miséria, pois cada um segue seu próprio interesse em detrimento dos outros e da comunidade. Mas, tal utopia, em vez de negar a propriedade privada, propõe criá-la em abundância e distribui-la para todos os homens. Do mesmo modo, ele também não nega as classes sociais antagônicas, como o capital e o trabalho, mas defende a paz entre elas. Para acabar com os males, com a desigualdade e a miséria humana, a utopia de Fourier propõe, enfim, a sociedade reagrupada em comunidades de produtores cooperativos, em que seria possível assegurar a paz entre os homens, entre as classes sociais opostas, e a produção e a distribuição coletivas, garantindo, assim, a igualdade, a fartura e o bem-estar para todos.

Eduardo Chagas é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e em Educação da Universidade Federal do Ceará (UFC).

 

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