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Grupo Nóis de Teatro comemora 18 anos de história com série de espetáculos on line
Vida & Arte

Grupo Nóis de Teatro comemora 18 anos de história com série de espetáculos on line

De 14 a 16, e de 21 a 23 de agosto, o grupo Nóis de Teatro realiza celebração virtual com performances individuais e coletivas para comemorar 18 anos de formação
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Espetáculo Ainda Vivas, do grupo Nóis de Teatro (Foto: Bruno Sodré)
Foto: Bruno Sodré Espetáculo Ainda Vivas, do grupo Nóis de Teatro

O que move o artista a continuar produzindo diariamente? Em um momento que carece de incentivo à produção cultural, por que permanecer criando? Essas perguntas comportam infinitas respostas, mas uma circunstância é fato: o fazer artístico surge da constante necessidade de encontrar uma maneira de se expressar em um espaço que, por vezes, ignora as mentes criativas e seus respectivos corpos. Entre a incessante luta para estabelecer a autoafirmação e a paixão pela arte, o Nóis de Teatro chega aos 18 anos neste agosto de 2020.

Composto atualmente por Altemar Di Monteiro, Amanda Freire, Bruno Sodré, Doroteia Ferreira, Edna Freire, Henrique Gonzaga, Kelly Enne Saldanha e Nayana Santos, o grupo mostra que é possível construir uma história duradoura no setor artístico. Nascido em 2002 como parte da ação de uma igreja católica no Grande Bom Jardim, os primeiros anos foram dedicados para a composição de espetáculos em homenagem à padroeira de Fortaleza, Nossa Senhora da Assunção.

Houve, porém, um fato que mudou as perspectivas dos participantes. Com a criação do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ) em dezembro de 2006, os artistas receberam o primeiro cachê por uma apresentação. "A partir desse momento, começamos a ter uma repercussão maior. No início, nós nos apresentávamos em troca de lanche", lembra Altemar Di Monteiro, dramaturgo, doutorando em Artes da Cena e diretor do Nóis de Teatro.

Após vários anos desde a formação, os integrantes passaram a aprofundar os estudos sobre dramaturgia. Em meados de 2010, o grupo iniciou suas participações em editais públicos. "Nesta época, ainda estávamos vinculados à comunidade católica, mas não tínhamos relação com a catequese. Começamos a discutir questões sociais e políticas", explica Altemar.

A conexão com a igreja, que perdurou por mais de uma década, foi finalizada em 2015. A escolha de sair aconteceu, principalmente, para possibilitar maior liberdade criativa. "Várias limitações políticas desestabilizavam alguns princípios morais e estéticos das nossas performances", diz o diretor. Mas a decisão trouxe frutos que até hoje são motivos de orgulho: a manutenção de uma sede própria na Granja Lisboa.

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Entre esses períodos, que foram marcos para o desenvolvimento artístico do grupo, os artistas colecionaram diversos espetáculos em suas trajetórias. Entre as obras que já foram executadas, estão "O Auto da Barca do Inferno", "O Juiz de Paz na Roça", "Artimanhas" e "O Que Mata é o Costume". Altemar Di Monteiro ainda destaca outros dois: "A Granja", que conta a história do bairro em que vivem, e "Sertão.doc", que discorre sobre as questões agrárias a partir da perspectiva da cidade. "Foi quando começamos a receber recursos públicos de maneira mais continuada. A produção cultural estava muito efervescente. Tinha uma grande produção de festivais, eventos, editais… A gente começou a sair da comunidade para levar os conteúdos a outros lugares", recorda.

No repertório atual, constam "Despejadas", "Todo Camburão Tem Um Pouco de Navio Negreiro" e "Ainda Vivas". Com as apresentações paradas devido ao isolamento social causado pela pandemia do novo coronavírus, o grupo promove atividades exclusivamente on-line. Entre as ações, fizeram bingo virtual, baladas falsas e clipe, além da ocupação das redes sociais do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura durante o mês de julho.

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Porém, nem mesmo 18 anos de produções constantes garantem estabilidade em um mercado tão incerto. "Desde 2019, por conta da fragilidade e da escassez de recursos, estamos segurando as pontas para não fecharmos nossa sede, porque temos um grande acervo no lugar", explica Altemar. Desde o ano passado, os integrantes também trabalham individualmente para se sustentar. "A pandemia demarcou uma virada, em que a gente teve que se reinventar muito", comenta. O grupo, que antes planejava uma programação anual, agora estabelece metas para o mês seguinte.

Para o futuro, além do objetivo de conseguir viver da arte como única profissão, eles desejam discutir a política. "No campo social, queremos desmistificar a periferia como significado apenas de marginalidade e pobreza. Somos um grupo que nasce da periferia, urge da periferia e é para a periferia. A gente não leva só o nome da periferia para outros cantos, mas viabilizamos a arte e a cultura no nosso local", complementa Altemar.

O Nóis de Teatro chega à maioridade ao lado de outros poucos nomes da capital cearense que alcançaram esse êxito. Em um cenário de incertezas, os artistas conquistaram um espaço que, para tantas pessoas, poderia parecer inimaginável anos atrás. Os integrantes, que têm no mínimo uma década de grupo, são corpos dissidentes, de mulheres, pretos e LGBTs, que se afirmam enquanto protagonistas da criação artística e da própria vida. O amanhã pode ser desconhecido, mas eles carregam em si o que há de mais fundamental: a vontade e a persistência de continuarem juntos.

Como será a festa de 18 anos

Para comemorar o aniversário, o Nóis de Teatro está montando uma programação virtual. O "Confeitado" conta com seis dias de performances dos artistas, que farão apresentações surpresas. "A peça está sendo ensaiada, mas não sabemos as performances uns dos outros. Em cada dia, terá uma apresentação diferente. Nosso desafio será improvisar a partir do que os artistas trarão", explica Altemar Di Monteiro.

O diretor avisa que, apesar da proposta de improviso, vários testes estão sendo feitos para não haver problemas técnicos. "Ainda terá um jogo, que vai acontecer durante a transmissão. A única pessoa que viu as produções foi a diretora Amanda Freire", afirma. O roteiro ficou por conta do próprio Altemar. O projeto gráfico é de André Victor.

Os ingressos custam R$ 12 (R$6, a meia) e permitem acesso a um fim de semana de evento entre os dias 14 a 16 ou 21 a 23 de agosto. Para participar, basta acessar o site Sympla e efetuar a compra dos tickets. A apresentações serão transmitidas pela plataforma Zoom.

Confeitado

Quando: dos dias 14 a 16 e 21 a 23 agosto, às 21 horas
Quanto: R$ 12 a inteira e R$ 6 a meia, por fim de semana
Onde: por meio da plataforma Zoom
Ingressos: no site Sympla
Mais informações: no Instagram @noisdeteatro

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