Em meio à pandemia, Mariana Marques encontrou o próprio tempo, que ela resolveu partilhá-lo resultando em uma marca, Tempo Chamado Tempo. O batismo, não teria melhor. "Fazia tempo que eu trabalhava com textos, com a palavra, mas tinha vontade de fazer algo com que as pessoas pudessem ficar, decorar a casa, o ambiente de trabalho", encarou como proposta, sendo ela mesma quem pinta e poetiza cada uma das peças.
Criadora da feira Auê, a publicitária aproveitou o isolamento físico para materializar o que o tempo, ao menos para ela, chama: a percepção do que importa, nem sempre visível, nem sempre sentido, muitas vezes, atropelado, no dia a dia. Então ela o lembra. Mistura "estalos de consciência", que escreve à mão, com um pouco de cor, e dá o tom. Como suporte, servindo de base à nova paixão, silhuetas já conhecidas (copos, centros de mesa, tigelas, bancos), mas que se tornam totalmente inesperadas, com sua visão artística, ajudando, a seguir, entendê-la.
Leia também | Mostra de Cinema de Ouro Preto discute o novo momento da TV e da comunicação
"Sobre o formato, acho mais honesto falar que é uma intervenção num artesanato que vale por si só. É milenar, tem em muitas culturas, muitos lugares. O que fiz foi colocar um pouco de mim numa coisa que na verdade não precisa de mim para nada, mas eu quis. E acho que ficou bonito, ficou tocante", apresenta.
Cada modelo ainda estimula a tradição local. São itens que ela traz de uma olaria em Messejana e outra em Cascavel. "Trabalho hoje basicamente com o barro, mas pretendo em breve me aventurar por algo em concreto, ferro, corda, para criar alguns acabamentos. Faço tudo isso com a ajuda de minha dupla (em outros projetos como a Auê), Pedro Mourão".
Ao lado do designer ela pretende ampliar os produtos para esculturas, mas até lá o charme mesmo, e diferencial, são os escritos, da vivência de Mariana, muito antes, com as letras. Há nove anos construindo o diálogo da Catarina Mina, passa a narrar um capítulo que é seu, anotando algumas ideias, e criando séries, como tem feito à Tempo. "Nada que se leve muito a sério ou que seja muito pretensioso", porém. Prefere que as frases sejam convites. "Na maioria das vezes é um jogo de palavras para gente pensar, para puxar uma conversa com quem está do lado, para lembrar de alguma coisa. Como todo texto", é honesta em dizer, também referindo-se aos desenhos.
"Vou seguindo duas coisas: uma vontade que se desdobra, então a mesma série é feita em vários dias com desdobramentos de um elemento (como amebas, listras, formas geométricas etc.) e também tenho que respeitar minha limitação de ilustradora, não sou uma grande desenhista, nunca fui. Mas tenho algum senso de proporção e vou colocando essas duas coisas para brigar", explica, embora tudo ainda estreante, para ela.
Apesar de contato próximo a uma marca artesanal, à frente de uma, é bem diferente. "É um cansaço físico, mas vale a pena cada segundinho", afirma. "Há peças simples que termino em pouco tempo, já peças, como os bancos, que levo mais de um dia, porque há também a paciência com a tinta, com o tempo dela", diz, longe de pressa. "Quero começar a moldar em breve, fazer um curso de cerâmica, então vai ter outro tempo com o qual vou precisar lidar. Um tempo enorme, bom pra trabalhar nosso senso de urgência, que é o tempo do barro".
Leia também | Pianista Antonio Adolfo celebra a obra de Milton Nascimento no disco "Bruma"
Até o momento, já produziu cerca de 60 peças. "Devo fechar as 100 ainda no mês de setembro. Lanço em lotes que chamo de 'levas', que estão juntos por terem textos e temáticas parecidos, cores parecidas... contam juntos uma história", explica. A empresária e artesã está na segunda leva, que receberá reposição ainda duas vezes. "No momento há poucas peças disponíveis, para minha surpresa vende tudo muito ligeiro", um aviso.
Tempo chamado tempo
Onde encontrar: tempochamadotempo.meloja.com.br e @tempochamadotempo
Mais inf.: (85) 98831 3137