CineOP reflete sobre passado, presente e futuro da TV no Brasil
João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.
Lançando um olhar a partir de 2020 para a história, as transformações e os estados da televisão, são muitas as possibilidades de reflexões estéticas e políticas. A proposta da Temática Histórica da 15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto, com curadoria assinada por Francis Vogner dos Reis, pensa a TV brasileira e questões relacionadas a ela a partir das comemorações de seus 70 anos sob o tema "Televisão: o que foi, o que é e o que ainda pode ser".
"O tema faz pensar na televisão e na potencialidade de um meio que há muito tempo ganhou outra dimensão de realidade, pois as imagens e as telas hoje são inúmeras", aponta Francis. "O termo 'tele-visão' se aplica, mais do que nunca, mas é preciso desvinculá-lo da identidade dos veículos tradicionais. O que será feito dessas tecnologias e suas possibilidades?", questiona. A resposta não é fácil e não é só uma, mas o curador evoca o teórico Arlindo Machado: "A televisão será o que conseguirmos fazer dela".
Ainda mais, ressalte-se, em um contexto de reflexões a partir do digital, presentes inclusive no próprio formato da mostra - que ocorre virtualmente por conta da pandemia. "Ao sairmos este ano do campo fechado da história tradicional do cinema, ampliarmos esse debate para outras imagens produzidas para telas, variadas telas, e exibirmos esse conteúdo on-line, me parece paradigmático", pontua Francis.
O destaque da temática Histórica é a TVDO, grupo formado nos anos 1980 por estudantes de Cinema e de Televisão que se destacou por produções experimentais e de vanguarda na TV aberta no Brasil. Um dos debates específicos do eixo temático histórico é sobre o percurso da produtora. Além dele, ainda serão debatidas a comunicação popular e as mudanças das últimas décadas na TV, entre outros tópicos.
"No caso da mostra histórica, ao refletir sobre a relação cinema-televisão, arte-vídeo, entendemos que a convergência, esse híbrido, já estava preconizada no aparato televisivo desde o início. A televisão nunca teve uma linguagem própria, mas se apropriou de várias outras, sobretudo o rádio e o cinema, isso na sua história mais convencional", explica Francis, citando cineastas como Jean-Luc Godard, Rainer Werner Fassbinder e Andrea Tonacci que "faziam cinema" na TV - ou, nas palavras do curador, criavam "objetos estéticos na continuidade (e na ampliação) das pesquisas sobre o tempo, o espaço e a reflexão histórica do cinema moderno, para um outro gênero de público, outra difusão, visando outro tipo de inserção na cultura".
Leia mais | O novo "vácuo administrativo" da Cinemateca Brasileira Entre os 17 filmes que compõem a mostra, está o curta "Mocidade Independente" (1981), que reúne trechos de oito programas que foram exibidos na TV Bandeirantes e que tiveram participação da TVDO na produção. O filme traz trechos com a presença de artistas como Itamar Assumpção, Raul Seixas e Jorge Mautner. Ficam disponíveis, também, filmes como "A Luta do Povo", de Renato Tajapós, que aborda movimentos sociais diversos que se desenvolveram entre 1978 e 1980; e "Os Arara", sobre o impacto da Transamazônica nas vidas de povos indígenas, que foi produzido para a TV Bandeirantes mas não chegou a ser exibido por desentendimentos do diretor Andre Tonacci com a emissora.
Há, ainda, diálogos com o tema e suas reflexões em outras mostras, como a Contemporânea. O curador ressalta o longa "Cadê Edson?", da diretora Dácia Ibiapina. "O que ela faz no filme? Usa imagens feitas pela polícia e pela televisão com intuito de incriminar militantes de um movimento popular para subverter o seu sentido. É a contra narrativa. É poderoso", destaca Francis.
Propondo um olhar específico para as produções televisivas mais experimentais realizadas dos anos 1970 para cá, a mostra histórica da CineOP reflete "como a arte poderia intervir na televisão" em períodos como o da redemocratização, por exemplo. "As circunstâncias da época abriram brechas pra que algumas experiências significativas do ponto estético e político acontecerem. E o ponto de vista da contingência política e tecnológica atual nos dá o que pensar, pois esse território da produção e difusão das imagens precisa ser ocupado por ideias novas, precisa ter um uso que não seja totalmente domesticado pelo mercado como aconteceu com a antiga TV", elabora o curador.
Confira debate inaugural da 15ª CineOP, com o escritor e filósofo Ailton Krenak e o cineasta Tadeu Jungle:
Mostra de Cinema de Ouro Preto
Quando: até 7 de setembro
Onde: www.cineop.com.br
Mais informações: @universoproducao
Programação de hoje, 5/9
10 horas - Masterclass "As telas na pedagogia da pandemia" 11 horas - Debate "FIAF: Comunidade e Estratégias" 12 horas - Debate "O percurso da TVDO" 14 horas - Debate "Projetos audiovisuais educativos que vincularam telas e janelas para ver o mundo, em tempo da quarentena" 16 horas - Masterclass "Cinemateca Portuguesa do fotoquímico ao digital" 18 horas - Debate "Diferentes perspectivas da criação de personagens no documentário" 21 horas - Show Lamparina e a Primavera
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