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Festival Literário de Iguape reúne nomes como Gilberto Gil e Emicida em programação gratuita
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Festival Literário de Iguape reúne nomes como Gilberto Gil e Emicida em programação gratuita

FLI 2020 promove programação diversa, virtual e gratuita com o tema "Pausa para o agora". Na programação, nomes como Gilberto Gil, Emicida e Ailton Krenak
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Escritora trans Amara Moira (Foto: Bethania Pereira/ Divulgação)
Foto: Bethania Pereira/ Divulgação Escritora trans Amara Moira

"Há muito tempo não programo atividades para 'depois'. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã. (...) O futuro é aqui e agora". Na obra "O amanhã não está à venda" (2020), o líder indígena, ambientalista e escritor Ailton Krenak nos provoca a mergulhar no presente, a imergir no hoje. Com o tema "Pausa para o agora", a 8ª edição do FLI - Festival Literário de Iguape nos convida ao fôlego da palavra: até o próximo dia 20, o festival gratuito e virtual reúne nomes como Ailton Krenak, Gilberto Gil, Amara Moira, Emicida, Preta Rara, Jerá Guarani, Siba, Tiganá Santana, Marcelo D'Salete, Raull Santiago, Roberta Estrela D'Alva e Mel Duarte. O evento tem transmissão via Instagram, Facebook e YouTube e conta com acessibilidade em Libras nas datas de 13 e 20 de setembro.

Gerenciado pela organização Poiesis e integrante do Programa Oficinas Culturais, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Estado de São Paulo, o FLI foi criado em 2013 e já promoveu atividades gratuitas para cerca de 30 mil pessoas, em mais de 160 ações de formação e difusão na cidade de Iguape, região do Vale do Ribeira. Em 2020, o FLI acolhe a virtualidade em tempos de pandemia e se expande além dos limites geográficos — sob curadoria de Bianca Santana, Antonio de Lara Mendes e Reynaldo Damazio, os convidados costuram reflexões sobre tempo, terra, memória e emergência.

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Entre os destaques da FLI 2020 on-line, o encerramento no dia 20 conta com uma ampla programação de conversas: Ailton Krenak e Emicida, às 16h20min, abordam o tema "Principia"; logo mais às 18h30min, Ana Maria Gonçalves, Siba e Tiganá Santana falam sobre "Memória e Presente"; já Aline Rochedo Pachamama, Giovanni Venturini e Raull Santiago dialogam sobre "Metanarrativas da emergência" às 19h30min. O debate sobre "Literatura universal", com Amara Moira, Jerá Guarani e Julio Cesar da Costa às 20h45min, é a última atividade antes do show de encerramento com Gilberto Gil às 21h45min. Não é necessária inscrição para participar e assistir as apresentações.

"É importante ressaltar que essa programação da FLI já carrega um histórico de trazer tanto a oralidade quanto autores que não são normalmente reconhecidos como cânones e não são protagonistas de festivais literários para o centro do debate, para ter visibilidade nos espaços de maior projeção", destaca a curadora Bianca Santana. Escritora, jornalista e autora da obra "Quando me descobri negra" (2015), Bianca defende a valorização da produção literária que não reproduz hierarquias excludentes. "O Brasil, um país com 54% de população negra, publica por séculos primordialmente autores brancos, homens em sua maioria. O que a gente mais lê como literatura canônica ou universal são também textos estrangeiros, que vêm do Norte do mundo, reforçando uma posição colonialista de não reconhecer o que se produz aqui como literatura. É possível pensar na noção de epistemicídio, trabalhada por Sueli Carneiro, quando ela olha para o epistemicídio não só como não reconhecer saberes produzidos por determinados grupos, como também não reconhecer esses sujeitos como produtores de conhecimento. Parece-me que a gente vive um momento histórico de questionar porquê somente determinadas vozes têm projeção nas nossas sociedades", complementa.

Neste domingo, 13, Bianca e os demais curadores da FLI 2020 conversam sobre "Literatura, curadoria e liberdade" às 17 horas. Sobre o processo curatorial, que envolve de oralidades ao slam, adiciona Bianca: "O que se produz nas periferias das grandes cidades, o que se produz na zona rural, tem uma riqueza poética e simbólica de uso da língua, de conteúdo, e de significado imensa — tanto quanto o que se produz numa elite intelectual. É muito importante um festival literário incentivar uma produção mais diversa, incentivar a leitura de diversos gêneros, de diversos sujeitos. É disruptivo, é convidativo, é um chamado à igualdade e à justiça social de algum jeito". Na urgência desta pausa para o agora, a literatura é Fio de Ariadne. "A própria apreciação do texto literário convida a atenção. Muitas vezes, a literatura é o nosso refúgio. Quando a gente abre um livro, a gente desconecta do entorno e das nossas ansiedades e se conecta com aquela história. A literatura nos desconecta da noção de temporalidade e nos permite acessar percepções variadas, como algo sublime, como algo que extrapola. Esse lugar do tempo, tão caro à literatura, também foi um incentivo ao tema da FLI", finaliza Bianca.

Fernando Fado, coordenador de programação do Festival Literário de Iguape, por meio do programa Oficinas Culturais, destaca que a pluralidade intrínseca à vida reverbera na literatura: é preciso atenção no olhar. "A gente reconhece a palavra. A palavra pode ser expressa de muitas formas — escrita, oral... A gente valoriza muito a palavra e compreende que a palavra está em movimento. Cada segmento artístico fala, é poesia. Fazer esse encontro entre a poesia da música, a poesia da literatura e a poesia da oralidade e pensar nas possibilidades dos encontros é onde mora a riqueza", opina.

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Para Fernando, um convite à pausa neste período turbulento é urgente. "Olhar para o nosso quintal, olhar para si e perceber-se nesse tempo tem uma força. Um festival é um projeto de sociedade e isso se reflete na programação: quando temos um poeta surdo participando como palestrante e não um objeto de estudos; quando a gente tem uma travesti; uma pessoa negra; uma pessoa indígena como protagonista a gente está pensando em um projeto de sociedade. Espero que, um dia, a gente chegue lá", encerra.

FLI - Festival Literário de Iguape

Quando: de 7 a 20/9, com acessibilidade em Libras nos dias 13 e 20/9
Onde: Instagram, Facebook e YouTube da Oficinas Culturais
Programação completa: oficinasculturais.org.br/flionline/
Gratuito

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