Com o slogan "Beber do Riso", o Autoral Comedy Bar nasceu de um sonho antigo de Valéria Vitoriano, maturado durante anos: promover a volta do cearense aos shows de humor. Desde a década de 1990, a comédia se consolidou como uma das principais atrações turísticas da Capital — algumas casas de humor, inclusive, vendem pacotes de shows em agências de viagens. Barracas de praia, teatros temáticos, churrascarias e restaurantes da orla atraem turistas do mundo inteiro, interessados em praias, frutos do mar e as autênticas piadas da Terra do Humor. Apesar de a atividade ser essencialmente turística, o setor não conta com apoio da Setfor, a Secretaria Municipal do Turismo de Fortaleza.
"O Autoral é uma casa pensada para o cearense voltar a frequentar o show de humor como na década de 1990", destaca Valéria, intérprete de Rossicléa. "Uma casa pequena, intimista, são 100 lugares, um preço nada exorbitante. Eu fiz com o Autoral o que eu fiz com a Rossicléa: criei um bar que eu gostaria de frequentar. A proposta é de movimentar e incluir também o stand up", complementa.
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Localizado ao número 2035 da av. Santos Dumont — fora do tradicional circuito turístico —, o Autoral Comedy Bar abriu as portas no dia 9 de janeiro deste ano, mas paralisou as atividades em 17 de março em virtude da pandemia de Covid-19. "Quando eu me percebi dentro da pandemia, tendo inaugurado recentemente uma casa de humor, tendo 12 funcionários na folha, eu perdi. Eu amanheci e não tinha mais o meu trabalho, não tinha a certeza de que conseguiria me sustentar com a minha reserva. Não tive uma segunda opção. Passei a minha vida toda fazendo um negócio que eu não posso fazer agora, que é aglutinar. Vocês percebem a grandeza, o peso dessa constatação para um artista que só fez isso a vida toda? É um buraco", desabafa a proprietária. Com a gradual reabertura do setor cultural, o Autoral voltou a funcionar presencialmente no último 18 de setembro.
No encontro das ruas Osvaldo Cruz e av. Beira-Mar, entre hotéis e restaurantes, o Teatro do Humor e Cultura Cearense é um espaço voltado aos turistas. Fernanda Gomes, produtora cultural, foi proprietária da casa de 2005 a 2015 e destaca que diversas famílias são beneficiadas pela arte de fazer rir. "O Ceará sempre foi um dos destinos mais escolhidos pelo turista brasileiro e boa parte desse público busca por shows de humor; exemplo disso são as casas de show que se firmaram nos trechos turísticos na última década. O humor movimenta toda uma cadeia produtiva, desde os consultores de vendas que ficam na orla, passando por recepcionistas de hotéis, guias, taxistas, bilheteiros, garçons, músicos, técnicos de som e luz até o proprietário do estabelecimento. O turista sempre gostou da nossa molecagem, do personagem transvestido, mas nos últimos anos houve um grande crescimento pela busca do stand up comedy", assegura.
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"O Teatro do Humor foi o primeiro teatro temático de humor do Brasil, está no mercado desde 2005 e nunca recebeu nenhum incentivo fiscal, sempre sobrevive da venda de ingressos. O humor cearense nasce da molecagem do nosso povo: depois de três dias de chuva, o sol resolve aparecer e o povo vaia... Isso só acontece no Ceará. Os humoristas e comediantes têm talento de sobra, precisam de apoio para o desenvolvimento da escrita, de roteiros. Acredito sim que o poder público possa contribuir com isso, com escolas de circos, de música, de teatro. Precisamos de escolas de formação para essa linguagem, pois a maioria dos humoristas nunca fez um curso formativo", defende Fernanda.
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Procuradas pela equipe do O POVO, as secretarias de turismo do Estado e do Município informaram por telefone que as pastas não possuem ações específicas voltadas ao incentivo e fomento do humor.
Carri Costa, ator, diretor, produtor teatral e fundador do Teatro da Praia, concorda com as pontuações de Fernanda Gomes: "É muito pertinente falar sobre a ausência do poder público, principalmente neste momento histórico que vivemos. Eu acho que o poder público comete um pecado terrível em não tirar proveito daquilo que temos com tanta fluidez, que é provocar o riso nas pessoas", analisa.
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"Quando você não estabelece políticas públicas, quando você não estabelece dotação orçamentária para pesquisa, estudo, fomento de produções cômicas para aquele artista que está começando e para aquele humorista que já está neste mercado, você perde muito — principalmente com a qualidade daquela obra, que poderia ser um produto genuinamente de exportação e turístico que colocaria nosso Estado em um patamar turístico de qualidade. A ausência do poder público não impede que o humor e esse mercado fruam, mas obviamente a intervenção do poder público pode qualificar este trabalho e proporcionar diretrizes mais cearenses no sentido literal", pondera.
"Eu acho que a gente tem que qualificar para que o turista chegue aqui e analise todo esse cenário como uma coisa de interesse cultural, de interesse artístico; isso é muito mais interessante do que o puro entretenimento. Nós temos essa forma espontânea de provocar o riso no sangue do cearense, os símbolos da nossa cultura estão dentro da gente e precisamos passar isso pro resto do Brasil e para o mundo inteiro. Nada melhor como ter parceiros como o poder público para que a gente conheça de onde veio. Isso vai provocar uma revolução no entendimento do que a gente chama de cearensidade", finaliza Carri. (Bruna Forte)