"Ver e pensar esses filmes se afirma como uma atitude política e estética ao mesmo tempo". A afirmativa, referente à recente produção nacional de documentários, é do crítico de cinema, jornalista e curador Carlos Alberto Mattos. Ele e o documentarista e professor Bebeto Abrantes promovem o "Na Real_Virtual - Seminário sobre Documentário Brasileiro Contemporâneo". Após ser realizado entre julho e agosto, o evento retorna nesta quarta, 4, para mais reflexões sobre a produção do gênero no País, contando com a presença de 16 cineastas que participarão de 12 debates. Os encontros, que demandam inscrição para acesso, ocorrem via plataforma Zoom sempre às segundas, quartas e sextas, às 19 horas, até 2 de dezembro. O evento disponibiliza quatro modalidades de pacotes, além da possibilidade de adquirir acesso para sessões individuais.
Leia a continuação da matéria | Relação entre ficção e documentário é inspiração para o cinema brasileiro
O projeto veio sendo gestado pela dupla há pelo menos dois anos, sempre com a intenção de discutir a produção documental dos últimos 25 anos. "Nesse período, as formas de filmar a realidade se multiplicaram, se sofisticaram e produziram uma diversidade incomparável com qualquer outra época da produção nacional. Realçou-se o caráter subjetivo do documentário, consagrou-se o chamado dispositivo como substituto do roteiro, hibridizou-se a relação entre o real e o ficcional, testaram-se muitas formas de experimentação", elenca Carlos.
Leia também | De Fernando Pessoa a Saramago, artista cria esculturas inspiradas na literatura
Com a pandemia, a dupla adaptou o evento ao formato virtual, com envio de links dos filmes a serem debatidos e materiais de apoio às pessoas inscritas. A primeira parte teve participação de Maria Augusta Ramos, João Moreira Salles, Cao Guimarães, Carlos Nader, Petra Costa, Walter Carvalho, Belisario Franca, Joel Pizzini, Gabriel Mascaro, Rodrigo Siqueira, Marcelo Gomes e Emílio Domingos.
"Em termos de discussão, percebemos como existem intercessões inesperadas entre diretores que praticam métodos bastante diferentes no documentário, mas dialogam seja nas práticas de observação do mundo, seja na poética que extraem da realidade. Acima de tudo, vimos como está viva e vibrante essa modalidade de cinema no Brasil", analisa Carlos.
O sucesso do seminário, que contou com média de 150 inscrições para os doze encontros já realizados, abriu espaço para a produção da segunda parte. Nela, participarão Adirley Queirós, Alberto Alvares, Ana Luiza Azevedo, Claudia Priscilla, Eryk Rocha, Evaldo Mocarzel, Joel Zito Araújo, Jorge Furtado, Kiko Goifman, Lúcia Murat, Roberto Berliner, Sandra Werneck, Silvio Da-Rin, Susanna Lira, Vincent Carelli e Walter Salles.
A abertura do evento, hoje, será dedicada ao cineasta Eduardo Coutinho (1933-2014). A curadora cearense Kamilla Medeiros faz parte da equipe de produção do seminário e destaca a importância do diretor. "Coutinho é inescapável. Na primeira parte do 'Na Real', todos os convidados, em algum momento e de forma super natural, falavam que ele era uma referência", afirma. A abertura tem acesso exclusivo para quem se inscreveu no Pacote A.
Leia também | CCBJ promove exposição fotográfica virtual sobre diferentes expressividades de gênero
Enquanto a primeira parte se voltou para procedimentos e estratégias distintos de abordagem do real, a parte 2 irá refletir sobre alguns dos "grandes tópicos" tratados pela produção recente. "A questão racial, a imagem indígena, os temas identitários, a memória da ditadura e a nossa integração (ou não) à América Latina serão abordadas por documentaristas destacados/as no tratamento de cada um desses assuntos", exemplifica Carlos. "Temos diversas narrativas de Brasil, como diz Bebeto Abrantes, em jogo nessa programação. O documentário tem grande papel a cumprir no esclarecimento do que se passa com o Brasil deprimente que vivemos hoje", avalia.
Leia também | 2° Anima Ceará começa nesta quinta-feira, 5, em formato virtual
Em um diagnóstico geral da produção nacional, Carlos aponta que o gênero no País "têm sido uma trincheira de resistência". "Desde 2013, o documentário brasileiro se repolitizou, bastando ver a quantidade de filmes que espelham e refletem sobre o golpe de 2016, o advento do protofascimo entre nós, assim como as novas demandas políticas ligadas ao feminismo e aos/às afrodescendentes", avalia. "A relativa economia de recursos para fazer um documentário, aliada às formas mais dinâmicas de finalização e distribuição, sobretudo via internet, fazem os documentários responderem de forma mais imediata à realidade", afirma o curador.
Seminário NA REAL_VIRTUAL
Quando: abertura hoje, 4, e sessões sempre às segundas, quartas e sextas, às 19 horas
Onde: Plataforma Zoom
Quanto: pacote com acesso às 12 sessões e sessão de abertura por R$ 300; outros três pacotes com acesso a quatro sessões distintas por R$120; sessão individual por R$ 40
Mais informações: no site do evento
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker.