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Documentário sobre Hector Babenco busca eternizar diretor a partir do cinema
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João Gabriel Tréz é repórter de cultura do O POVO e filiado à Associação Cearense de Críticos de Cinema (Aceccine). É presidente do júri do Troféu Samburá, concedido pelo Vida&Arte e Fundação Demócrito Rocha no Cine Ceará. Em 2019, participou do Júri da Crítica do 13° For Rainbow.

João Gabriel Tréz arte e cultura

Documentário sobre Hector Babenco busca eternizar diretor a partir do cinema

Dirigido por Bárbara Paz e representante do Brasil na disputa pelo Oscar, documentário "Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" ressalta ligação íntima entre vida e cinema do diretor
Tipo Opinião
'Babenco' é a estreia da atriz Bárbara Paz como diretora de longas-metragens. Ela e Babenco foram parceiros de vida e trabalho por quase 10 anos, até a morte dele, em 2017 (Foto: reprodução)
Foto: reprodução 'Babenco' é a estreia da atriz Bárbara Paz como diretora de longas-metragens. Ela e Babenco foram parceiros de vida e trabalho por quase 10 anos, até a morte dele, em 2017

O cineasta argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco foi indicado ao Oscar de Melhor Direção em 1986, aos 40 anos, pelo trabalho em "O Beijo da Mulher-Aranha". O anúncio das indicações, feito por Barbra Streisand, é um dos momentos que compõem o documentário "Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou", dirigido por Bárbara Paz, esposa do artista. Pouco depois do trecho dedicado ao reconhecimento internacional, o próprio cineasta conta, em narração, que foi naquele contexto que recebeu o primeiro diagnóstico de câncer, doença que o acompanhou por três décadas até o falecimento, em 2016. Apesar de desenganado e abatido, seguiu. É essa a toada do documentário, um registro pessoal da trajetória de Babenco, marcada por uma intensa aproximação entre vida e cinema. O filme, que foi escolhido para representar o Brasil na disputa pelo Oscar de Filme Internacional, estreia nos cinemas do País amanhã, 26, mas chega às salas de Fortaleza apenas no dia 3 de dezembro.

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Com registros da intimidade do casal, fotografia em preto e branco e uso constante de narração, o documentário apresenta-se, já de partida, como uma obra meditativa e reflexiva, não apenas sobre Babenco, mas sobre cinema, pertencimento, afetos, vida e morte - tudo a partir das experiências do retratado. Este ponto de vista vem de forma natural, inclusive por ser o de Bárbara, companheira de profissão e afeto do diretor na última década de vida dele.

"Babenco - Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou" se constrói a partir de imagens de entrevistas, cenas e bastidores de filmes dirigidos pelo cineasta e, ainda, outros registros feitos especificamente para o documentário, como que "diários" da doença dele produzidos por Bárbara. De certo modo, o filme não é dirigido apenas por ela, mas também pelo próprio cineasta, que surge em cena ajudando a companheira, comentando escolhas e verbalizando a vontade de, com aquele projeto, construir com ela um filme sobre a própria morte.

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A maior parte dos registros de intimidade entre Bárbara e Babenco é pautada em proximidades simbólicas e físicas, inclusive da câmera em relação ao cineasta. Numa das primeiras sequências neste sentido, ele explica para ela sobre a abertura da lente e o foco dos elementos no plano. Quando maior a aproximação, mais o foco pode se perder. A opção é, inclusive, essa, como se Bárbara buscasse intensamente dar conta de Babenco a partir das minúcias.

O trabalho de montagem no documentário - assinado também por Bárbara, em parceria com Cao Guimarães e consultoria de Yael Bitton e Karen Harley - propõe relações entre as imagens registradas pela diretora e aquelas de arquivo, estabelecendo gestos ensaísticos que buscam relacionar trechos de obras do diretor com temas e memórias abordados no documentário: do Oscar à experiência de Babenco na prisão, dos desafios iniciais do câncer aos tratamentos, em costuras reforçadas de vida e trabalho.

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Em uma das falas de Babenco, ele ressalta frontalmente a aproximação intrínseca entre a lida profissional e a manutenção de vida: "Estar filmando é estar vivendo um dia mais". "Não sei o que que vinha primeiro: se era filmar ou estar vivo", segue o cineasta, numa ideia que indica o caminho pelo qual o documentário busca seguir - o de tentar buscar a permanência de Hector na eternidade a partir do ofício que o construiu não somente enquanto profissional, mas humano.


Foto do João Gabriel Tréz

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