Cearense, natural Fortaleza, Bruno Camarotti sabe dar licença às paixões. Não no sentido de ausentá-las sim de potencializá-las. Desde a infância ele é ligado ao fazer manual. Quis o destino que se formasse primeiro arquiteto. Sem problemas. Bruno foi lá e "arriscou". Ele importa o lado arquitetônico aos seus projetos, mas de marcenaria, à qual, de fato, passou a ser entregue. Os frutos já são desde já. Ainda recente, anuncia sua primeira leva de móveis, todos com cara de Ceará, de onde, mesmo longe atualmente, morando em São Paulo, onde abriu o Estúdio Camarotti, faz parecer perto. A verdade é que o coração - que é de artista -, esse é das bandas de cá. "Minha mãe pintava em cerâmica e tinha uma loja de artesanato", não nega a herança ao manual. Conta que costumavam viajar à Cascavel para a compra da matéria, que ele, criança, também pintava. Aos oito, teve contato, pela primeira vez, com a madeira (mudando rumo de sua vida, mais tarde).
Na época, lembra-se: "meus pais tinham um apartamento em um condomínio recém construído na praia do Icaraí. Vários marceneiros executavam móveis para outros apartamentos no pilotis do prédio. Eu, moleque, queria fazer um ‘esquibunda’. Essa foi a primeira sacada de moldar a madeira. Eu mesmo fiz o brinquedo para aproveitar as dunas do Icaraí. Aquilo foi incrível", pescou da memória, devolvendo-a maior, material, em forma de Gaveteiro Icaraí. A peça é uma das dez mais que compõem a coleção - uma ode à madeira.
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"Depois que eu vi tudo pronto, fiquei em êxtase. Foram três anos desde que cheguei em São Paulo até o lançamento da coleção que aconteceu em agosto deste ano durante a MADE – Mercado Arte Design 2020", atribui às conquistas, com a escolha do ofício. "Foram inúmeros cursos de marcenaria e muito estudo teórico. Tive a grande oportunidade de fazer vários desses cursos com o mestre Morito Ebine, considerado como um dos melhores marceneiros do mundo. Fiz estágio no ateliê da arquiteta e designer Júlia Krantz, e hoje sou residente e professor de marcenaria básica na Oficinalab, local onde desenvolvo os protótipos das minhas peças", abre a detalhes, nem sempre percebidos, em uma primeira vista. "Todas as peças levam um tempo de maturação até ficarem prontas. Além do desenho, é necessário estudar a proporção, volume, tipos de encaixes, peso, tipo da madeira adequada para cada produto. Este é, sem dúvida, o maior desafio", diz, porém, reabastecido.
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"O intuito era exatamente carregar comigo as minhas raízes", afirma. "Eu nasci em Fortaleza, sempre tive paixão pelas praias do Ceará. São 573 km de faixa litorânea com inúmeras praias", sabe ir além também de paisagem. "Cada praia dessa tem sua particularidade, sua cultura local e o artesanato de riqueza infinita", fala também dos anos em que esteve em Juazeiro do Norte. "O povo do Cariri tem muito orgulho de suas raízes, a música, o artesanato, o entalhe da madeira, a xilogravura, a literatura de cordel, imagens de santos... foi realmente uma catarse cultural e que carregarei comigo por toda minha vida", presente hoje em sua leitura de mundo.
Suas peças são produzidas com madeira maciça utilizando técnicas da marcenaria tradicional somente com encaixes, sem uso de pregos ou parafusos. "Ao meu ver, isso também é uma forma de expressão artística. O cuidado com a peça, garantindo não só sua funcionalidade e longevidade, como também sua estética mais apurada", define. Uma das mais emblemáticas, segundo o autor, é o Banco Jeri. "O banco Jeri me lembra mais uma estrutura arquitetônica. A veia do meu trabalho tem uma estética arquitetônica", reafirma. "Eu fico imaginando vigas, pilares, lajes, balanços, vãos livres, engastes", sem data de vencerem. "Definitivamente é uma peça que vai, com certeza, durar gerações. Essa é uma das grandes premissas do Estúdio. Ter um móvel que dure uma vida, que conte histórias de família", repete convite a estar junto.
Estúdio Camarotti
Instagram: @estudiocamarotti
Site: estudiocamarotti.com
Mais informações: (11) 99448 4674