Se o amor do famoso bordão de Virgínia Del Fuego, personagem que interpreta há mais de 20 anos, pudesse ser atribuído a alguém, neste momento, seria ao humorista por trás do sucesso, Ciro Santos, que este ano, antes que o vá, celebra 30 anos de carreira só no Ceará. Nascido no Rio de Janeiro, foi em solo cearense que seu riso fez morada. "A minha relação com a cidade é de amor", fala. "Eu vim a convite do Paulo Diógenes para passar 15 dias aqui", que logo se transformaram, mais tarde, em definitivo.
Na época, criaram o Caviar com Rapadura, o brega e o chique, a Raimundinha (Diógenes) e a Virgínia. Foi quando "o humor começou a acontecer", lembra-se. Ao lado de Diógenes, Ciro ajudou a popularizar o novo humor cearense. "Eu amei isso aqui", fazendo-o voltar, desta vez, para ficar. "Voltei para o Rio e em 15 dias estava de volta e estou aqui até hoje. Foi (uma cidade) escolhida também por mim e ela que me acolheu!", diz.
Leia também | Humor no Ceará: Ô povo fuleiro!
Aos 59 anos, quase todos entregues à carreira, Ciro sabia, desde cedo, o que queria para si. "Eu sabia que queria ser artista", disso nunca duvidou. "Eu fiz patinação artística, eu fiz teatro no colégio e, de repente, apareceu o humor num espetáculo, em 1982, no Rio de Janeiro, no Teatro Rival, era uma comédia, um espetáculo do Teatro Revista, chamado 'Eu vou na banguela delas'", que ele recorda em detalhes. "Fiz vários quadros de humor" onde "fazia tudo!" E à vontade. Dançava e ainda cantava. "Então ali eu vi que eu podia fazer graça". Não parou mais.
"Chegar aos 30 anos de carreira aqui no Ceará é muito gratificante, principalmente por eu ainda estar ativo, né, por eu estar em cena ainda, em várias casas. Isso me deixa muito feliz e a minha análise é que a minha carreira foi galgada degrau por degrau até chegar ao ponto que chegou agora", indo além de humorista. "Poder ser produtor também - e contratar - e dar espaço para os meus amigos que também fazem humor", aos quais também agradece, pela jornada juntos ao longo dos anos, para Ciro, um herdeiro de memórias.
Leia também | Eita, Ceará moleque!
"Tem dois momentos desses 30 anos aqui no Ceará que foram bem marcantes. Uma foi a minha participação no 'Criança Esperança' (eu era praticamente a única pessoa não conhecida no meio de tanto global). Isso foi fantástico. O segundo marcante foi a minha participação no espetáculo chamado 'International Magic Festival' (IMF)", que possibilitou ao artista e à sua Virgínia, mestre de cerimônias, um giro por dez capitais com os dez maiores mágicos do mundo, na época. "Foi simplesmente maravilhoso", como a sensação de quando está em um palco.
"Ah, o que me deixa mais feliz é quando as pessoas realmente estão sorrindo. Eu consigo estar no palco, fazer os meus números e sentir que eu não estou dando tempo para a pessoa respirar", vindo com um mix que é só seu: "tudo do riso e emoção e surpresa no espetáculo. Isso é o que eu mais gosto de estar no palco". É o que o inspira também no humor. "Fazer o bem. Acho que a minha profissão é um bem, sabe. Eu fico muito feliz em deixar as pessoas felizes" - mesmo quando ele próprio, em algum dia, não está. "É você ir trabalhar quando você está triste. Esse é o grande desafio. Já aconteceu comigo", demonstra por trás do humorista, o humano. O mais doce nessa experiência de tanto tempo de profissão, cita, "é deixá-las (as pessoas) sempre felizes. Eu levo sempre isso comigo", assim as lições, para que não as esqueça.
Para Ciro, que diz ter apenas o lado elétrico da Virgínia, o importante é sempre manter os pés no chão. "Apenas a hora do palco, é a hora de ser estrela. Ali. E eu sempre levo isso comigo". Na capital cearense, Ciro conta com o show que está há mais tempo em cartaz no Brasil, com 21 anos, na Barraca Chico do Caranguejo, dando vida ao personagem Del Fuego. "Até hoje eu me impressiono! E eu acho que é a questão de não trabalhar também com piadas". Trabalhar com improviso, diz, nunca um espetáculo é igual ao outro. "Nunca. Por mais que tenha os quadros, por mais que tenha o esqueleto do espetáculo, nunca é um espetáculo igual ao outro", e tem aprendido cada vez mais.
"Fazer o que eu faço em termos de improviso é muito fantástico porque ela (a personagem) me ensinou a galgar isso bem devagarinho e hoje eu conseguir fazer um espetáculo de 1 hora, 1h15, com mágica, bonecos..., e com improviso. Ela é responsável", declara-se o artista.
Ao ano que vai chegar, só boas energias. "A minha visão para o setor cultural daqui para frente é que a gente tenha um 2021 com a cura dessa doença (a Covid-19, que fez com que se aventurasse, hoje, mais à vontade, às apresentações online via redes sociais), que todo mundo possa voltar a trabalhar, possa voltar a sorrir, a se abraçar; que a cultura seja novamente o brilho porque toda a turma de entretenimento foi muito sacrificada, com tudo isso desse ano", também é solidário. "O que me inspira no humor é ver a felicidade no rosto das pessoas", preza o humorista, voz da "titita" do Ceará.