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Cantora cearense Lucinha Menezes remexe as memórias nacionais em novo disco
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Cantora cearense Lucinha Menezes remexe as memórias nacionais em novo disco

Novo disco da cearense Lúcia Menezes - a Lucinha - entoa alegria para atravessar tempos árduos, com pluralidade de ritmos entre canções clássicas e inéditas
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Lucinha Menezes, como é carinhosamente chamada pela crítica e pelo público, canta a brasilidade por meio de ritmos diversos (Foto: DIVULGAÇÃO/LEO AVERSA)
Foto: DIVULGAÇÃO/LEO AVERSA Lucinha Menezes, como é carinhosamente chamada pela crítica e pelo público, canta a brasilidade por meio de ritmos diversos

Se o Hino do Estado do Ceará traz os versos “Seja o teu verbo a voz do coração / Verbo de paz e amor do Sul ao Norte” em sua versão original, a cantora cearense Lúcia Menezes carrega consigo - quase de maneira intrínseca - um tanto deste cântico de sua terra natal. A Lucinha, como carinhosamente é chamada, segue pelos caminhos das alegrias e das miudezas, destilando arte desde o município de Itapipoca - onde nasceu - ao Rio de Janeiro - onde mora há cerca de 17 anos. Na aventura de caçar referências, encantar parcerias e apreciar ritmos diversos deste Brasil, cria um trabalho cuja “unidade está nas diferenças”. Assim ela mesma define. Com interpretação de canções clássicas e inéditas, Lucinha apresenta o sétimo disco de sua carreira, “Até que alguém me faça coro pra cantar na rua”, neste contexto.

A artista parece despertar, por meio das ondas sonoras, algo também abstrato: o sentimento por trás da memória. Trata-se da continuidade de um projeto de carreira, no qual mescla “músicas que trazem saudade com inéditas” - destaca Lucinha. Nesta caminhada, entrecruza a relação com o rádio desde a infância aos estudos dos gêneros musicais de várias regiões do País. No disco em questão, lançado pela gravadora Atração Fonográfica, há - dentre as treze faixas - samba, forró, baião, ciranda, xotes e mais. Os arranjos e a regência do álbum ficaram por conta de Cristóvão Bastos e João Lyra. A produção é do também cearense José Milton, parceria já aguardada.

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Numa cadência de quem acredita na delicadeza e na pluralidade das identidades no mundo, acha-se “Até que alguém me faça coro pra cantar na rua”. Gravado ainda em 2019, o álbum surgiu como um respiro. Naquele ano, Lucinha pensava em realizar um disco ainda no primeiro semestre, mas se viu triste com as notícias do cotidiano brasileiro. Algumas músicas já haviam sido até escolhidas para compor o repertório, como o clássico “Um Chorinho”, de Chico Buarque, cujos versos abrilhantavam desde então o título do trabalho.

“Todo dia havia uma confusão com esse desgoverno. Homofobia, racismo. Eu não queria gravar, porque meus discos são tão alegres”, recorda Lucinha. Sob a insistência carinhosa de José Milton, a artista ouviu “Rancho das Borboletas” - que se tornaria, depois, a primeira faixa do disco. A canção de Miguel Rabello e Paulo César Pinheiro reverbera o olhar de cronistas apreciado pela artista. Nos versos, “E as borboletas abrindo o cordão / Vão colorindo o meu coração / E os beija-flores vêm / E os louva-a-deus também / Porque esse rancho é de todas as cores”.

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Quando José Milton saiu de sua casa, Lucinha continuou afirmando que o disco não seria realizado naquele momento. O encanto por “Rancho das Borboletas”, contudo, fez a artista repensar a desistência. “A música era tão linda! Comecei a pensar: posso fazer um protesto ao contrário”, conta. O que se quer é chamar atenção para as delicadezas, para o amor, a amizade, o humor e o afeto. Algo que, mesmo tendo sido idealizado no ano passado, ganha cada vez mais significado em meio às incertezas de uma pandemia.

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Lucinha está cercada por grandes músicos. Prestes a completar 30 anos desde o primeiro disco, o vinil “Divina Comédia Humana” (1991) - ideia do amigo de infância Belchior -, ela reúne em mais um trabalho grandes nomes da música popular brasileira. O novo disco sucede o álbum “Lúcia” (2017), lançado pela Biscoito Fino, que tem participações de Chico Buarque e de Miúcha, irmã do cantor e compositor.

Além dos já citados, somam a “Até que alguém me faça coro pra cantar na rua” Abel Silva e os conterrâneos Nonato Luiz, no violão, e Adelson Viana, na sanfona. No repertório do disco, sucessos na voz de Carmen Miranda - como o samba “E bateu-se a chapa”, de Assis Valente, e o clássico “Tico-tico no fubá”, de Zequinha de Abreu. “Pra incendiar seu coração”, de Moraes Moreira, e “Você disse não lembrar”, de Adriana Calcanhotto, também integram o disco.

Dentre as canções inéditas, “Lua de esperar”, de Cristóvão Bastos e Roberto Didio; e “Ciranda do beijo roubado”, de João Lyra e Zeh Rocha. Eduardo de Menezes Macedo, um dos filhos músicos de Lucinha, a presenteia com “Quando a égua esfrega o bode” e “Caatinga seca”. Além dele, tem Gervásio Horta, com “Samambaia trepadeira”; e Ary Monteiro, João do Vale e Leôncio, com “Forró no beliscão”. Essas últimas estão diretamente ligadas à identidade cearense de Lucinha. “Quanto mais eu me afasto, mais eu volto”, comenta.

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Durante o período de isolamento social, Lucinha não pôde “cantar na rua”. A saudade de ver sorrisos e olhares continuou pulsante. O coro não veio da plateia em seu lugar diante do palco, mas sim dos comentários nas redes sociais. Da varanda do seu apartamento no Rio de Janeiro, realizou transmissões on-line para amenizar um pouco essa falta. De acordo com a artista, “a gente viu o quanto somos frágeis”. E que, após a pandemia, deve-se “dar atenção aos detalhes da vida”. A música pode embalar diversos desses momentos.

Repertório

1. Rancho das Borboletas
2. E Bateu-Se a Chapa
3. Quando a Égua Esfrega o Bode
4. Um Chorinho
5. Lua de Esperar
6. Ciranda do Beijo Roubado
7. Tico Tico No Fubá
8. Aquele Olhar
9. Você Disse Não Lembrar
10. Samambaia Trepadeira
11. Forró do Beliscão
12. Caatinga Seca
13. Pra Incendiar Seu Coração

Disco "Até que alguém me faça coro pra cantar na rua", de Lúcia Menezes

Onde: YouTube, Spotify, Deezer, Apple Music, iTunes Store, Amazon Music e Tidal

Mais info: no Instagram @lucinha_menezes_cantora

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